Começando a estudar o evangelho – Parte 15

Reciclagem, sutilezas e interpretação

Reciclagem

A evolução e o progresso em todas as coisas é uma constante e com a aprendizagem não é diferente. O conhecimento não cessa e a evolução jamais para. Ao passo em que ascendemos e ampliamos conhecimentos, o texto passa a abrir novas nuances para nós. Alcançamos parâmetros antes inimagináveis até dentro de uma mesma terminologia e comumente surgem novos conceitos.

Esse processo funciona como se fosse uma espécie de espiral. Imaginou uma? Pois é, nós vamos até um ponto e em seguida retornamos. E nesse retorno abrem-se novos lances que nos projetam para outras faixas à frente. Está dando para acompanhar? Nós avançamos, retornamos trazendo o que captamos e ao mesmo tempo vamos adiante, de forma que constantemente passamos por uma reciclagem.

Vivemos muitos momentos no estudo que são reciclagens, que nos proporcionam o aprofundamento de lances anteriores. E nessas reciclagens, além da fixação do conteúdo assimilado desdobram-se novas frentes e surgem expressões mais analíticas e específicas. Ao reciclarmos um assunto estudado caminhamos para aspectos mais ampliados, mais definidos, mais detalhados e sutilizados do próprio tema.

Para se ter ideia, se lá na frente nós voltamos a um assunto que estudamos hoje, e isso é algo comum de acontecer, vamos notar que existem ângulos e aspectos que não foram devidamente compreendidos na nossa primeira abordagem. O que conseguimos perceber de um estudo hoje, daqui a alguns meses ou anos com certeza iremos retirar outros componentes ainda mais essenciais. Tudo o que estudamos hoje, em oportunidade futura, revendo, iremos encontrar outras facetas do ensinamento.

Você já deve ter notado isso. Hoje aprendemos o que ontem não entendíamos e amanhã entenderemos o que agora se nos mostra incompreensível. É que para uma infinidade de valores ainda nos faltam “olhos de ver e ouvidos de ouvir”. A cada lance que damos, a mente se abre um pouquinho e começamos a entender certas colocações que ainda permanecem irreverentes relativamente ao nosso crescimento.

Existem coisas que aos poucos estamos começando a entender. Às vezes,  temos que ficar anos arquivando uma informação ou proposta e até mesmo brigando com ela dentro da gente. Quer um exemplo? Faz muitos anos atrás, ouvi em um estudo uma frase sintética. Achei-a interessante. Sabia que tinha conteúdo profundo ali. O que fiz? Arquivei-a em meu computador e deixei. E vou confessar, levei aproximadamente quatro anos para entendê-la. E a título de curiosidade, quer saber qual era a frase? “O filho do homem é a instauração do Cristo na sua segunda vinda.”

 Fixar e estender

Possivelmente, muita coisa que iremos abordar aqui nós já estejamos cansados de saber. Tanto que a nossa presença não visa unicamente a ingestão de novos conhecimentos, não tem por objetivo implementar leis de vivência na nossa cabeça. Pode acontecer de terminarmos um capítulo e 95% do que foi trabalhado nele ser uma reciclagem do que nós sabemos. Daí, você pode perguntar por que repetir tanto.

Entre outras coisas, para fixar. Talvez nos outros 5% surja um ponto que nos projete para novas análises, novas cogitações, novos parâmetros que vão apontar um aprofundamento à frente. Nós repetimos e cada vez que um estudo é repetido há um toque de discernimento, como se aprofundasse mais no nosso psiquismo de forma a nos despertar assim: Entendi! Então, eu volto nele, mergulho novamente e consigo ver sutilezas que não foram aprendidas no exame anterior.

Por isso, o encerramento de um estudo sempre vai ser relativo, porque a cada retorno nele nós iremos encontrar novos enfoques e novos ângulos a serem trabalhados.

Sutilezas

E quanto mais ele se aprofunda, é possível perceber que os aspectos de fundamentação metafórica dos textos compõem uma linguagem figurada que aborda na sua intimidade assuntos da maior transcendência e da maior importância. Ao passo em que avançamos, observamos que eles se encaminham para faixas mais sutis e subjetivas, a definirem para nós uma análise mais substanciosa e essencial.

É como se vigorasse um processo em que partimos de pontos mais sintéticos que gradativamente vão se abrindo e aprofundando. E entre o componente revelado de cima para baixo e a identidade nossa com as bases da revelação vigora um terreno considerável a trilhar.

Então, fique atento, porque vamos trabalhar daqui para a frente a nossa própria realidade intrínseca. O evangelho tem uma conotação acentuadamente pessoal e muitos de seus valores são campos figurativos de uma feição didática em que analisamos a nós próprios.

 Sem interpretação particular

“Sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da escritura é de particular interpretação.” II Pedro 1:20

O tempo passa e o evangelho tem sido uma chamada para muita gente. Quantos de nós, por exemplo, nem passava pela cabeça estudá-lo e agora o estamos fazendo. Por isso, temos que manter conosco a presunção de buscar interpretá-lo. E não tem jeito, sempre teremos que passar por isso, trabalhar as interpretações de modo a compreender a grande proposta reeducativa com que nos defrontamos. E ganhamos quando passamos a relacionar acontecimentos, fatos e feitos.

Todavia, de maneira alguma nós podemos buscar uma interpretação fechada, definitiva. Esta hipótese não existe. Pedro é muito claro nesta questão quando diz: “Sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da escritura é de particular interpretação.”

É algo fundamental que tem que ser entendido. De forma alguma é possível encontrar interpretações absolutas. Em qualquer parte do evangelho não existe nada absoluto. Nós nunca vamos encontrar no seu conhecimento um ponto particularista fechado.

As mensagens não podem apresentar uma diretriz de percepções restritas. A revelação não pode constituir objeto de propriedade particular, como não se circunscreve a esse ou aquele grupo de indivíduos, a essa ou aquela escola. Ficou claro? Portanto, nenhuma das interpretações pode ser definida de modo completo e inarredável.

Não podemos simplesmente fechar a interpretação e dizer que está resolvido, que ela vai atender todo mundo. Isso não existe. É ilusório. Ela pode, sim, atender a determinados indivíduos de acordo com a necessidade deles em algum estágio específico da evolução.

Assim, a proposta não é ficar debaixo de uma interpretação particular e exclusivista, mas abrir parâmetros ao raciocínio. Ela tem que ser trabalhada sob o aspecto globalizado. Na medida em que crescemos, notamos que ela vai sutilizando cada vez mais. Então, nada de fechar, ok? Fechou, é sinal de amarra no campo das linhas de aprendizagem.

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