Atualidade, ambientes e personagens
As religiões levam lá para trás
Ainda falando da questão interpretativa, normalmente o que as religiões tradicionais fazem? Costumam levar os seus adeptos ou simpatizantes lá para trás, ou seja, pegam a cabeça do indivíduo e a levam para a época em que Jesus viveu. Nós não estamos fazendo nenhuma crítica, mas na verdade não é assim que elas fazem?
Costumam levar os indivíduos, hoje, até os dias de Jesus. Inclusive tem até uma expressão muito comum que é usada: “Então, naquele tempo disse Jesus… Isso aconteceu lá atrás, há dois mil anos…” E vai pra lá, leva para lá para poder acompanhar o que Ele fez. De forma que tem muita gente nesse processo, estudando o velho e o novo testamento como se apresentava a interpretação do ontem.
Porém, vamos ser sinceros, falar dos textos lá atrás tem nos interessado? Eu creio que não. Afinal de contas, não é nosso interesse ficar aqui analisando-os exclusivamente dentro da fisionomia histórica. Nós não objetivamos analisar a história do evangelho e nem queremos estudar hoje com a cabeça voltada para dois mil anos atrás. Sem contar que vai ser muito difícil pegar a contingência do nosso contexto social de hoje, que é totalmente diferente, e tentar jogar naqueles dias de Jesus.
Atemporalidade e atualidade
As Escrituras Sagradas, como Livro da vida, sem dúvida tangem ao infinito. Trazem a expressão globalizada da história do planeta e, ao mesmo tempo, a história individualizada de cada um de nós. Suas mensagens, todas elas, são de caráter espiritual. São mensagens direcionadas ao espírito, o que lhes dá o caráter de universalidade.
E por serem universais são atemporais, o que significa que tanto o velho como o novo testamento apresentam atualidade em qualquer lugar e momento. Os fatos e ensinamentos presentes nesse livros, sem exceção, embora estejam revestidos de características históricas inerentes ao tempo em que ocorreram, refletem-se nos dias atuais.
O evangelho tem sentido de continuidade. É algo do presente e nós vamos bater muito nesse ponto. Apesar dos milênios, é indiscutível o seu caráter de contemporaneidade.
A sabedoria de Jesus ultrapassa os interesses mesquinhos dos homens. É por isso que o que Ele disse ontem é como se dissesse hoje. Tudo o que falou e viveu interessa ao nosso progresso evolucional, todos os seus ensinos e atos constituem lições espontâneas para todas as questões da vida. Com ligeiras modificações, se aplicam tanto aos dias daquele tempo como se aplicam hoje aos dias em que nós estamos vivendo.
No imenso conjunto de valores apresentados, cada conceito ou situação se adapta a determinada circunstância do espírito nas estradas da vida. É uma coisa para a gente pensar. Todas as dificuldades e desafios dos homens invariavelmente passam por alguma faceta que tanque aquilo que foi mencionado em alguma parte do evangelho.
Trazer para o hoje
Enquanto as igrejas tradicionais nos levam até Jesus, cabe-nos trazer Jesus para a atualidade. Então, qual metodologia usar? Ir lá atrás, no ontem, e trazer para o hoje.
Esta é a nossa proposta. Ir lá e trazer para cá. Saber interpretar a revelação trazida, não partindo do hoje para o ontem, como tem sido feito, mas trazendo a boa nova para os dias e problemas atuais. Trazer o evangelho e o que nele aconteceu para o agora, todavia sem perder a essencialidade que está embutida dentro da letra.
Afinal, falar nele lá atrás não interessa mais. O Jesus da Galileia, da Judeia, da Peréia, ficou lá atrás na história. Concorda? Nós estamos falando agora é no Jesus íntimo.
Por mais que possa parecer que iremos lá atrás mexer com Caim, Adão, Eva, com a serpente, com Abel, o que nós vamos falar é de nós mesmos. Esse é o ponto básico. No passado não interessa. O que interessa é falar de nossa vida, sair do fato objetivo e trabalhar o íntimo.
Trazer o ensino concreto e fazer a conjugação de modo a abordar questões da nossa intimidade, uma vez que é trabalhando o nosso íntimo que entramos em um caminho novo. Assim, a cada avanço no plano perceptivo iremos notar a ampliação de nossa ótica.
Ambientes
Basta começar a estudar com maior aprofundamento para constatar que o território do evangelho está dentro da gente. Com um mínimo de discernimento fica fácil concluir que os ambientes dos textos, todos eles, encontram-se presentes na extensão territorial da nossa alma, definindo moradas, estados de espírito ou regiões psíquicas.
Os seus ambientes extrapolam a época em que foram vividos e chegam até nós hoje, oferecendo condições de identificá-los ou não como ângulos ou regiões de nosso campo psíquico. O terreno do evangelho não é a Palestina, ou melhor, didaticamente foi lá, essencialmente é aqui no nosso íntimo. Todos eles estão, nos dias atuais, dentro da gente, não em outro lugar. Em se tratando de cidade, campo, aldeia, monte, entre outros, há de se buscar o significado desses termos no aspecto espiritual.
Daí, onde está a Galileia, a Judeia, a Peréia, a Samaria, Jerusalém, Cafarnaum, a cidade de Jericó? Onde está Betsaida, Belém, a recebedoria, o monte das oliveiras, a manjedoura com a sua simplicidade? Está tudo situado em nosso próprio íntimo.
Personagens
Com os personagens dos textos não é diferente. Todos chegam até nós na atualidade. Atrás de cada um deles existe uma mensagem implícita, vigora uma faceta da nossa personalidade em algum momento da nossa trajetória evolucional.
Isso é algo bonito de entender. Comumente, eles propiciam condições de identificá-los ou não em nosso próprio íntimo, podendo retratar ou representar nossa forma de ser em determinados estágios. Com o decorrer do estudo, vamos nos identificar com vários deles em certos momentos da vida, como é o caso de Zaqueu, de João Batista e do cego de Jericó, a nos mostrar uma diversidade de posições interiores e posturas pessoais.
Os diversos personagens fazem parte da nossa estrutura psíquica. Existe uma identidade interior. Falar deles lá atrás não importa. Quando os mencionamos parece que estamos indo lá atrás e mexendo com eles, todavia, ao falarmos de Caim, de Abel, de Adão, Eva, Serpente, nós estamos é falando de nós mesmos. Porque todos representam facetas da nossa personalidade. Daí, o fariseu está aqui dentro, o saduceu está aqui, o publicano também, aqueles reis da época estão aqui dentro.
O próprio Jesus da Palestina ficou lá para trás na história. Falamos agora é no Jesus íntimo, no Jesus dinâmico que se incorpora dentro da nossa intimidade e que está dentro da gente.