O espírito e a essência
Descompactar e metabolizar
“As palavras que eu vos disse são espírito e vida.” João 6:63
A cada momento que percorremos o conteúdo notamos que ele nos apresenta uma amplitude de metáforas e de figuras. É como se o ensinamento, transcrito a nível figurado, reservasse uma soma grande de elementos que vão sendo abertos e decodificados na proporção em que cada um de nós, segundo o patamar evolutivo, vai conseguindo penetrar e perceber. Daí, é preciso bom senso, uma vez que estamos trabalhando valores profundos da nossa alma mediante equacionamentos.
Nos dias de hoje, ante uma infinidade de acontecimentos que nos chegam, nós ainda costumamos receber muitas coisas em bloco, de forma compactada, sintetizada.
E embora nossa inaptidão, insensatez e falta de paciência para descompactar e metabolizar todo esse conteúdo, precisamos trabalhar a linha da decomposição para chegar na essência espiritual que é o nosso objetivo. Porque se nós não fizermos a decomposição desses fatores, eles permanecem em bloco e não os entendemos.
O que nos vem à mente é o que comentamos na parte anterior, quando mencionamos que praticamente não existe fruto sem casca. E alguém, em sã consciência, vai reclamar de ter que descascar a fruta para poder se alimentar? Creio que não. Ninguém reclama. Afinal, o trabalho de descascar é recompensado pela gratificação que se obtém com o alimento, portador de nutrientes essenciais à vida do corpo.
Todo mundo concorda com a necessidade de um pequeno esforço. E se para saborearmos os frutos temos que nos despojar dos seus envoltórios, para acessarmos as verdades maiores nada mais justo do que irmos além da letra que as envolvem.
Linha de coerência
À medida em que vamos evoluindo, o sentido do símbolo vai se estendendo para além da sua faixa literal e a essência vai continuando.
E os documentos da bíblia se identificam entre si, isto é, mantém certa linha de correlação, motivo pelo qual precisam ser analisados dentro de um contexto.
Normalmente, dentro da simbologia as mensagens obedecem a certa coerência e guardam uma proximidade interessante quanto ao plano essencial. Prevalece uma estrutura de coerência atrás de todos os textos em que as mensagens aparecem.
O que eu quero dizer é que analisando uma parte do evangelho, e encontrando essa linha, fica fácil perceber que ela se interliga com todas as outras partes, tanto do evangelho como dos outros livros do velho testamento.
Então, não vamos nos esquecer de analisar de maneira coerente. Agora, se você pegar um versículo de forma isolada pode ser que não ache o que procura. Analisando um versículo só, por exemplo, você é capaz de provar que existe reencarnação, e em outro você pode concluir que não existe. Por isso, lembre-se: é preciso trabalhar no contexto.
O que estamos mencionando é algo importante. Dentro do plano de estudo, certos símbolos não significam sempre a mesma coisa. Para analisá-los é preciso notar a função, a expressão e a natureza dentro do contexto em que se apresentam. Para se ter ideia, em certos casos nuvem denota dificuldades expressivas, como em outros pode ser referência a um piso mais sutilizado.
E os textos começam a apresentar uma expressão de suavidade, esperança, consolação e segurança quando vamos sabendo encontrar essas linhas de relação.
A essência
Para o entendimento que buscamos, precisamos ir além do sentido literal a fim de buscar a faixa espiritual. É uma consequência natural do amadurecimento. Avançamos e a nossa mente vai exigindo algo mais sublimado e genuíno no que respeita aos padrões veiculados por Jesus. Precisamos saber interpretar determinadas expressões no contexto em que são apresentadas para chegamos a conclusões substanciosas, desvestidas das capas rígidas e incongruentes que geralmente as religiões tradicionais definem para a formação dos seus seguidores.
O que estamos falando é muito bonito. Quem estuda tem notado que dentro da letra está embutida a essencialidade. Como o evangelho é mensagem direcionada ao espírito, a linguagem de Jesus é toda espiritual. Em muitas ocasiões, Ele fechava os seus discursos com a frase “quem tem ouvidos de ouvir, ouça”. Não era assim? Sugeria que quem fosse capaz de penetrar, que buscasse o sentido essencial de suas palavras, porque o seu ensinamento não se encontra na letra que mata, e sim no espírito que vivifica.
Logo, em todas as situações, que a gente saiba analisar as partes básicas que se abrem para nós. Que a gente se lembre de separar a letra do espírito e busque o conteúdo espiritual, porque é este que dá vida, universalidade e eternidade.
A dica é simples: Quem quiser entender o evangelho deve sempre buscar o sentido sob o prisma puramente espiritual. Deve buscar na intimidade da letra o que o Mestre quis apresentar, o que Ele quis de fato nos ensinar. E para isso, é com a visão espiritual que deve ser lido. Trata-se de um critério básico de estudo e interpretação.
Nós temos que compreender os símbolos e deles tirar a ressonância para a nossa caminhada de vida.
Toda parte de fora é a letra, e o que estamos tentando fazer é ver o que tem dentro da letra. Não tem outra, temos que retirar a essência das reentrâncias da letra, porque somente esse valor intrínseco é capaz de nos fazer penetrar na mente e no coração de Jesus. É por isto que interpretar significa pegar a letra e ver o que tem lá dentro.
Enquanto as religiões trabalham ao pé da letra, nós estamos estudando a nós próprios.
Só não podemos esquecer, de maneira alguma, que o evangelho é simples na sua base. Muitos estão aprendendo a cada dia que o nosso compromisso é revivê-lo na beleza e pureza do primeiro dia em que surgiu. E para compreendermos essa grandeza, lá no fundo, vai ser necessário da nossa parte uma dose considerável de simplicidade e carinho.
E só mais um lembrete. Não vamos deixar que o conhecimento novo que nós estamos alcançando, e que às vezes falta aí fora para a grande maioria das pessoas, em tempo algum venha criar em nós algum tipo de presunção. De forma alguma.
Sejamos sempre simples, simpáticos, fraternos e humildes. Nada de deixar, também, que a intelectualidade e a ânsia de conhecimento sufoquem a simplicidade das lições. Agindo assim, seremos continuamente abençoados com novos e maiores entendimentos.