João Batista e o deserto – Parte 3

Veredas e caminho

Introdução

“1E, naqueles dias, apareceu João Batista pregando no deserto da Judéia, 2E dizendo: arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus. Porque este é o anunciado pelo profeta Isaías, que disse: Vós do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitais as suas veredas.” Mateus 3:1-2

“Caminho” e “veredas” é um assunto que quando começamos a entender ele é capaz de criar condição de desoneração e saneamento de muita coisa em nosso campo psíquico.

A primeira coisa a se ter em conta é que caminho não é um só. Para se ter ideia de que não é um só, nós costumamos gastar longo tempo de nossos dias à procura de caminhos, valendo lembrar que todo caminho palmilhado leva a certo destino.

Agora, quando se trata de caminho seguro, aí sim, precisamos de ajuda. Pressupõe a necessidade intrínseca de um intermediário que nos auxilie a alcançar o ponto de harmonia e felicidade que desejamos. Para chegar, é por meio daquele que veio nos trazer vida “em abundância”, de forma que Jesus é esse mediador que nos responde.

 Veredas

Com João Batista o caminho é apontado, só que a gente não vai. Por enquanto, não queremos segui-lo. A gente vai por onde quer.

O tempo passa, as experiências se multiplicam e continuamos interessados nas veredas. São estas que têm nos mantido afastados do caminho e dificultado a nossa entrada nele. E elas não são poucas. Pelo contrário, são incontáveis as que temos escolhido e percorrido ao longo dos séculos, acalentadas por nossas tendências materialistas e imediatistas.

E o que são veredas? Caminhos estreitos, atalhos diversos, estradas largas e complicadas resultantes das nossas escolhas. Aqueles lances fugidios e irreverentes do nosso campo mental. Com um detalhe: entramos nelas por nossa própria conta. Enquanto o caminho (no singular) é do Cristo, as veredas (no plural) são nossas.

No entanto, é imperioso lembrar que toda vereda leva a algum lugar, e que em algum momento elas vão exigir retificação e acerto pelas vias da reeducação. Percebeu? Por meio delas nós entramos em jogos circunstanciais complicados ao longo da vida, dos quais só nos desvinculamos após doloroso, e não menos longo, reajustamento.

Caminho

O evangelho não deixa dúvida: é “caminho” (“Eu sou o caminho” e “preparai o caminho”), a definir que embora existam caminhos e uma infinidade de opções que se nos apresentam, para a felicidade efetiva não existe caminho diferente do que Ele nos traçou com a própria vida. Cedo ou tarde a gente descobre que o resto é ilusão, pura perda de tempo.

Até as individualidades mais duras e teimosas, depois de baterem muito com a cabeça, aprendem que o roteiro ascensional continua inalterável: começa na manjedoura e termina no calvário.

“Eu sou o caminho e a verdade e a vida, ninguém vem ao Pai senão por mim”. Reparou? É ninguém! Ao afirmar, Jesus aponta caminho e diretrizes. E quando Ele indica o caminho, sabe o que a gente faz? Prepara, porque caminho é “preparai”, imperativo para que deixemos as ilusões e passemos a estruturar uma vida em novas bases.

Define que temos que acolher o Mestre em sua orientação. Ou seja, Ele apresenta o padrão e a gente prepara, ensina e a gente aprende, sugere e a gente faz.  

Dois verbos no imperativo

Quando João Batista diz “preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas”, nós temos a presença de dois verbos. Aliás, dois verbos no imperativo. O verbo preparar (“preparai” o caminho) associado ao verbo endireitar (“endireitai” as veredas).

São dois ângulos da maior importância, dois componentes que, inclusive, marcam a nossa presença aqui: o caminho, que vai ser sempre um constante sistema preparativo, e as veredas, que estão sempre sujeitas a serem endireitadas ou retificadas.

Caminho, preparai

E caminho representa o quê? Em se tratando de evolução consciente, é a faixa mental, a projeção mental do indivíduo, a linha mental que ele nutre. O caminho que elegemos passa a ser a onda mental sobre a qual nós vamos estruturar a base da nossa mudança e sobre a qual vamos caminhar, agir, vivenciar.

Quando você emite um pensamento, por exemplo, é caminho. O pensamento elaborado e emitido, seja de qual natureza for, é o caminho que nós abrimos e que cada qual projeta.

Daí, com toda a tranquilidade e sem medo de errar, podemos dizer que estamos estudando o evangelho porque estamos empenhados em preparar o caminho.

No momento em que identificamos o caminho, o verbo é preparar. Deu uma ideia? O que será feito de forma acertada mediante a elaboração de um sistema operacional de amor.

Agora, preparar por quê? Temos que saber, afinal vivemos em uma época de questionamentos e precisamos entender o motivo, saber o porquê das coisas.

Preparar porque caminho é uma estrada. Funciona como um roteiro e é preciso tê-lo definido, delineado, esclarecido, clarificado. Quando o trabalhamos, ingerimos padrões para um sistema mental adequado, planejamos nossa vida e elaboramos metas.

Deu uma ideia? Não obtemos êxito em qualquer empreendimento se não traçarmos um plano de conquista. É uma questão de análise. Como eu posso chegar aonde almejo e idealizo se eu não tenho o caminho definido? Isso é algo que tem que ser entendido.

Se a minha meta não for bem fixada, eu fico trançando pra lá e pra cá no mesmo lugar, em circuito fechado, e não consigo fazer nada, não progrido coisa alguma.

Se eu não preparo minha vida para os novos lances, eu não consigo coisa alguma. Passo a fazer as coisas, vamos dizer, de maneira circunstancial, aleatória, improvisada, e não existe progresso efetivo em cima do improviso. Se a minha ação não for dentro do equilíbrio que o caminho propõe ou indica, ela se torna conturbada e sem aproveitamento adequado.

Além do que, é essa faixa mental que instituímos, que é o caminho, que vai nos dar a serenidade e o equilíbrio necessários para a administração dos fatos de conturbação e de dificuldades que vão surgir naturalmente no processo rumo à realização da meta.

Qualquer projeto em que entremos, para que tenhamos êxito, tem que se embasar no caminho que traçamos. Esse é o ponto inicial. É por isso que o “preparai” o caminho tem que vir primeiro. Ele sempre vai anteceder o “endireitai” as veredas. Então, guarde isso: como toda mudança exige inicialmente uma proposta, o preparar antecede o endireitar. Quem endireita as veredas antes é o religioso tradicional.

Não adianta querer se lançar no processo evolutivo, ou entrar na verdade e na vida (dentro da trilogia “caminho, verdade e vida”), se o campo mental não for reformulado e ajustado para o novo momento.

Se tivermos que endireitar as veredas antes dessa preparação, nós vamos ficar até mesmo perdidos sem um plano de ação, sem saber o que fazer ou como agir. Não vamos sequer saber como endireita-las. Afinal de contas, endireitar porquê, de que forma e para quê?

E é exatamente esse procedimento que vai permitir vermos nossas veredas distorcidas. Isto é, vamos buscar endireitá-las porque as identificamos, em razão de termos conhecido uma proposta nova que surgiu em função do caminho que está com Jesus e que nos foi apresentado.

Elegendo esse sistema nós ganhamos, inclusive, segurança para saber avaliar se o caminho que estamos entrando é novo ou se ele está reciclando antigas veredas.

Por isso, é preciso atenção e avaliação acerca dos passos que estamos dando. Do contrário, podemos achar que estamos andando pra frente e evoluindo, quando não estamos.

Não basta preparar o caminho. Não dá pra ficar preparando-o indefinidamente. Não basta ficar visualizando, vendo-o de fora, como quem vê a porta estreita e não a transpõe. Porque caminho não se faz de outro jeito, senão caminhando.

Acima de tudo, caminho tem que ser sedimentado. Denota um processo operacional, pressupõe movimento, exige ação, atividade. Implica em uma dinâmica de trânsito.

Todos nós temos momentos de abertura no campo da informação que nos permitem descobri-lo, porém descobrir não é tudo. O descobrir o caminho tem que ser sublimado pelo palmilhar o caminho.

Uma vez que o instituímos e preparamos, vamos ter que seguir aplicando. Lutar para que as nossas ações dali para a frente sejam consoantes com o que ele indica.

Se no início nós projetamos uma faixa, em seguida vai ser necessária a sedimentação efetiva da nova proposta. Porque não há como crescer com base apenas nas linhas de projeção filosófica.

Para poder entender que o caminho é verdadeiro é preciso palmilhá-lo. Não há outro jeito.

Não é possível conhecê-lo senão percorrendo-o, uma vez que ninguém conhece um caminho pelo qual não passou. Visto do seu ponto inicial só se obtém uma ligeira impressão, não o seu conhecimento.

Todo caminho oferece paisagens, situações, circunstâncias e fatos que, se bem aproveitados, são capazes de propiciar vida em sua essência. Quando visualizamos algo lá na frente, o que tentamos fazer? Tentamos abranger horizontes distantes. Só que para chegar vamos ter que viver a distância necessária, passo a passo, motivo pelo qual não podemos ficar parados, considerando-nos cansados ou indiferentes às mudanças.

Como estamos tratando do nosso bem estar, da nossa alegria e da nossa harmonia, se estacionarmos na estrada não vamos aprender nada e nada de positivo iremos colher. E se dermos alguns passos e estagnarmos Jesus deixará de ser o nosso caminho, porque Ele não vai caminhar por nós e não conseguirá nos conduzir ao destino desejado.

Fazemos o caminho à medida que caminhamos. Ele passa a ser efetivado quando passamos a agir segundo as verdades assimiladas. Voltando-nos aos interesses espirituais, cultivando a prática do bem, do estudo contínuo com vistas à reeducação e valorizando os semelhantes, todos eles, sem distinção, ajustamo-nos ao roteiro certo.

Veredas, endireitai

Preste atenção: só consegue preparar o caminho com êxito aquele que estiver ao mesmo tempo endireitando as veredas. Logo, para sermos felizes nesse preparo, quando se trata de veredas (sempre no plural) nós temos que dar um jeito de endireitar. É como se estas fossem os caminhos para podermos chegar efetivamente ao Caminho.

A gente costuma achar que a primeira coisa a fazer é retificar caminhos, e o evangelho não fala em retificar caminhos. O evangelho fala em endireitar veredas, porque o caminho é um só.

Os dias passam, os anos passam e o chamado do precursor se mantém atual. Sua mensagem continua convocando os homens de boa vontade à regeneração das estradas comuns. E não há como ser diferente. Sem nos retificarmos intimamente não vamos corrigir o roteiro em que marchamos. Para sentirmos a influência do Cristo precisamos corrigir a estrada em que temos vivido, refazer o campo e lançar uma nova sementeira.

É óbvio que durante um bom tempo nós vamos continuar sujeitos a trilhar veredas, porque de certa forma nós as deixamos marcadas. Muitas delas continuam presentes em nossa vida na forma de reflexos condicionados. Todavia, temos que nos esforçar para endireitá-las e não criarmos outras mais complicadas no futuro.

E como fazer? Vamos a alguns exemplos? Se a minha maneira de conversar dentro de casa é gritando, eu tenho que endireitar. Como? Diminuindo o volume da minha voz. Vou me esforçar para falar mais baixo, de forma mais branda, mais suave. Se os meus argumentos são muito incisivos, são muito agressivos e duros, se nas minhas relações a cada momento em coloco ênfase, tanta ênfase que vez por outra eu chateio e machuco alguém, o que eu faço? Me esforço por reduzi-los. Assim, aos poucos eu vou endireitando as veredas, o que representa o início da renovação.

Diante do que temos aprendido, só podemos concluir que não existe libertação espiritual sem a preparação da mente e o endireitamento dos reflexos mentais.

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