João Batista e o deserto – Parte 11

Frutos dignos I

Nova postura

“Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento.” Mateus 3:8

O que nós temos aprendido? Que cada individualidade, em qualquer tempo, recebe da vida segundo a sua obra, certo? Quer dizer, colhe invariavelmente o que plantou.

Daí, fica fácil concluir que se pela obra negativa alguém complicou sua harmonia íntima, para a recomposição faz-se necessária uma obra positiva, realizada em sentido contrário à anterior, de forma a se projetar para uma direção diferente de crescimento.

Resultado: feliz daquele que cai no arrependimento e reconhece que deve. E mais, que empenha em liquidar sua fatura num esforço constante para a melhoria de vida. Afinal, a reparação constitui o redirecionamento do próprio destino em nova base.

E só existe uma forma de sair do arrependimento que incomoda. Não há outra. Sabe qual? Apresentando frutos. Apresentando novas atitudes que justifiquem a produção do que o evangelho chama de “frutos dignos de arrependimento”.

O fruto traz a gente

João Batista é objetivo quando diz “produzi, pois, frutos dignos de arrependimento” (Mateus 3:8). E o que é fruto? Você já pensou nisso? Fruto é o resultado, é o produto que foi elaborado, é a realidade da vida de cada um no dia de hoje.

Como os efeitos sucedem as causas, pela lei de causa e efeito as falhas praticadas sempre alcançam à frente o espírito responsável pela ação pedindo-lhe reajuste, seja esse reajuste materializado no corpo físico, na família, na sociedade ou no campo profissional.

E salvo poucas exceções, costumamos aportar nos núcleos espirituais para tentar resolver o problema dos frutos. Dos frutos menos felizes, óbvio. Resolver os problemas que nos incomodam. O que significa, em tese, que o fruto traz a gente ao evangelho.

Exemplos são infinitos e estão em todas as frentes. Basta observar que muitas criaturas, e pode colocar muitas nisso, inicialmente se direcionam para as religiões sabe em busca de quê? De reconforto. Saturadas de tanta pancada que estão levando, buscam resolver o problema dos frutos. Vão exclusivamente com este propósito.

Uma vai por causa de um problema em casa, de alguma dificuldade no ambiente familiar; outra em razão de uma doença; outra em decorrência de problema conjugal ou na área afetiva; outra por dificuldade financeira, profissional e por aí vai. E elas estão erradas? De forma alguma. Estão certas. O caminho é por aí.

Na realidade, começamos o processo em cima dos frutos menos felizes. Isto é uma coisa muito interessante da gente entender. Esses frutos menos felizes representam o início de um despertar interior que se dá nos fundamentos da lei de ação e reação. Passamos a caminhar no rumo do amor por esses resultados amargos que naturalmente nos incomodam e infelicitam e nós procuramos saná-los.

Então, qual foi o instrumento que nos trouxe? Provavelmente alguma dificuldade decorrente, quem sabe, de uma sementeira efetuada de maneira complicada lá atrás. Quantos de nós buscamos o auxílio espiritual em razão de dores, motivado pelo choque das frustrações, por causa das lutas dentro de casa, o problema de um ente querido, entre tantos outros percalços na jornada e nós fomos buscar socorro?

Não dá para mudar os frutos

Agora, pense bem: como é que a gente vai mudar o fruto? Tem jeito? Você acha que é possível?

Tem como eu voltar ao passado, tirar aquilo que semeei e plantar novamente? Dá pra pegar um pé de laranja que produz laranjas ácidas e fazer esse pé passar a dar laranjas doces? Não dá. Percebeu? Não há como enxertar laranjas doces em um pé que produz laranjas ácidas.

Não há como mudar o fruto, o que equivale a dizer que é impossível extirpar no campo cármico.

O que semeamos foi semeado, não tem como voltar atrás e alterar. Está crescendo e muitos, inclusive, já crescerem e estão aí nos perseguindo e alcançando hoje, com dor disso, problema daquilo e tal. É a semente que deu frutos. E outros não nasceram ainda, ou será que não tem mais nada para nascer para nós? Não estou sendo pessimista, ok? Nem de longe. Apenas abordando uma realidade.

Às vezes, tem algo que semeamos lá atrás e nós não lembramos. Não pode acontecer? O tempo passou, nós desconsideramos, acabamos esquecendo e não apareceu os seus frutos ainda. Daí a pouco chega um filho, uma filha, que nos dão um trabalho danado e a gente não entende o porquê. Não pode ter uma companheira ou um companheiro que você semeou inadvertidamente na cabeça dela? E de repente, quando menos espera, chega um filho dentro de casa, chega o fruto para você.

Grande número de criaturas está vivendo amarrada em tribulações decorrentes exatamente dos resultados da Lei. Estão colhendo em função do que semearam no passado. De forma que muitos desses frutos, corporificados em pessoas, situações e circunstâncias, são resultantes de gestações anteriores e que hoje desconfortam e entristecem.

Dois pontos: administrar e semear

Diante disso, o que o evangelho oferece para esses casos em que a produção está ácida, que o fruto está amargo e difícil? Porque isso é fato. Incontáveis companheiros em todas as frentes da evolução se acham hoje envolvidos com as melhores propostas de crescimento, todavia tendo que digerir frutos difíceis que lhes são servidos como alimento para suas almas em meio a dificuldades complicadas no ambiente em que vivem.

O evangelho, nesse aspecto, trabalha dois pontos: auxilia a administrar a colheita da sementeira de ontem e, paralelamente a isto, ensina a semear em novo plano na busca por dias melhores.

Inicialmente fornece material terapêutico de alívio. Material informativo para consolo e administração da dificuldade. E administrar porquê? Porque não há como desmanchar o fruto. Não há como arrancá-lo, excluí-lo, deletá-lo. O fruto é apenas o resultado de uma semeadura anterior que redundou na chegada de um componente chamado dificuldade, sofrimento ou dor. Então, o segredo inicial é saber administrar a dificuldade existente.

A questão é administrar, com carinho e sem revolta, a situação presente. Abrir o coração para o cumprimento daqueles valores que foram semeados nos terrenos do tempo e que hoje estão presentes em fatos trazidos de retorno no próprio contexto evolucional. Em outras palavras, saber dar o encaminhamento correto a esses fatos e circunstâncias, saber aceitar os frutos que semeamos inadvertidamente lá atrás.

E, concomitantemente a isto, evitar criar novos problemas, claro. Evitar semear ângulos geradores de padrões complexos que possam nos fazer sofrer a curto, médio ou longo prazo. Porque não adianta nada administrar os problemas existentes e continuar originando outros. Essa atitude positiva por si só já propicia satisfatória amenização do sofrimento.

O segundo ponto é termos o discernimento necessário para trabalhar aquelas áreas ainda virgens e não operacionalizadas que a vida está trazendo para nós no terreno dos minutos. Porque se temos registros menos felizes que nos travam e infelicitam, temos valores outros de natureza positiva que necessitam ser acionados e às vezes não acionamos. Tentar semear com inteligência e equilíbrio agora, para que isso nos propicie segurança e harmonia.

Vamos pensar juntos: existe efeito sem causa? Óbvio que não! Ninguém pode querer um efeito harmônico e feliz sem uma causa. Aliás, uma causa adequada. Quem quer evoluir, quem quer incorporar padrões para um crescimento seguro, tem que apelar para outros padrões.

O importante é lembrar que para colhermos situações melhores temos que lançar novos grãos de semeadura, razão pela qual João Batista continua pregando no deserto da nossa intimidade.

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