João Batista e o deserto – Parte 12

Frutos dignos II

Trabalhar com a semente

“Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento.” Mateus 3:8

Nós ficamos querendo o fruto, desejando encontrá-lo com o menor ou, preferencialmente, sem o mínimo esforço, à nossa disposição, quando o evangelho não diz que devemos procurar ou que nós vamos achar. Nada disso. Ele manda a gente produzir: “Produzi frutos”. E produzir frutos é muito diferente de achá-los prontos.

E como se produz? Só tem uma forma: começando pelo processo de semeadura, pela linha de escolha e aprofundamento. Isso precisa ficar claro. O evangelho não trabalha com os frutos, ele trabalha com a semente. Produzir “frutos dignos” é trabalho com semente, porque o fruto é a realidade nossa hoje e nós já vimos que não há como mudá-lo. Daí, temos que trabalhar com a semente para que ela produza.

E o que é semente? É um grãozinho, uma partícula, um componente inicialmente pequeno que nós depositamos esperança e investimos nele. Consiste na vida mental que elegemos. Representa a elaboração de novos componentes germinativos.

É o que buscamos e é o que está ocorrendo em uma atividade como esta. Vamos ter em conta esse ângulo. O que estamos fazendo ao estudar? Mais do que apenas analisando caracteres, estamos preparando o nosso terreno íntimo, elaborando um piso, procurando sedimentar nossa intimidade para conquistas mais eficientes no porvir, valendo lembrar que toda mudança de postura vai exigir um sacrifício.

Semear

Cada qual tem que pensar em como está a sua vida, o que precisa melhorar e o que quer colher daqui para a frente. A escolha não é dos outros, a escolha é nossa.

João Batista é convite para uma semeadura em novos parâmetros. E o que nos cabe? Semear! Se somos semeadores (o evangelho afirma que “o semeador saiu a semear”), temos que semear. Sempre. Não dá pra parar. Porque quem para estaciona, e quem estaciona fica para trás.

Ao mesmo tempo em que buscamos amenizar ou adocicar o amargar da colheita, trabalhamos a semente. Administramos o presente e, paralelamente a isto, investimos na busca de um resultado melhor amanhã. Em meio às situações negativas decorrentes das ações passadas, o objetivo deve ser operar de forma ampla nos espaços vazios da experiência de hoje. Lançar sementes com vistas a um futuro mais feliz.

Em meio às respostas e produções difíceis do nosso carma, vamos tentar, nos terrenos ainda não semeados, jogar sementes. Desarmar o coração das resistências e buscar agir conforme o que os valores e conceituações novas nos orientam. Afinal, é na capacidade de utilização desses espaços que nos são dados que Simão Pedro diz que “o amor cobre a multidão de pecados”. É preciso ter essa linha perceptiva.

Todo ensinamento do evangelho que laboramos o fazemos em termos de semente. Porque o fruto vem depois, a seu tempo. É muito frustrante criar expectativa em cima de resultado. Precisamos ser coerentes, saber selecionar, aprender a cultivar e ser perseverantes na proposta. Nossa preocupação, ou melhor, nossa ocupação deve ser com o trabalho, não com o resultado.

Resultado o próprio nome já diz, é resultado. Não depende de nós, pertence a Deus. O que nos importa são realizações positivas efetuadas com vistas ao futuro. Trabalhar da melhor maneira sem ficar naquela de querer solucionar. Criar condições favoráveis, favorecer o encaminhamento da solução que virá a seu tempo. Porque em muitas questões a solução não é com a gente.

Frutos dignos

Tudo bem, nós entendemos, ficou claro, a questão é semear. Mas não da forma que estávamos semeando. Ok? Se fizermos assim, da mesma forma de antes, vamos continuar colhendo os frutos da mesma natureza. É uma questão de lógica: se continuarmos fazendo a mesma coisa que fazíamos, vamos continuar obtendo o mesmo resultado.

É por isso que precisamos mudar a semente. Se o fruto está ruim, temos que produzir outros. Mas outros frutos de que tipo? Dignos! Está dando para acompanhar?

A chave para uma colheita satisfatória está na dignidade. Porque semear por semear todo mundo semeia. O desafio é uma semeadura diferente, com o padrão renovado. Positiva, digna de produzir bons frutos.

Se o fruto é o resultado, é o que nos chega, é o que a gente colhe, a semente é o quê? É o que sai da gente, o que lançamos, o que plantamos, o que irradiamos, e que vai precisar esperar a germinação, o crescimento, a floração e a frutificação. Lá na frente é que ela vai produzir.

Agora, para chegar na meta que definirmos, a princípio o que temos que fazer? Selecionar. A semente tem que ser selecionada, escolhida, para que possamos colhê-las satisfatoriamente quando? À frente, na forma de frutos que serão produzidos.

A mente é como uma antena. Capta o que estamos sintonizando, seja o bem ou o mal. Depende de nós alterar e ajustar a frequência ao objetivo, razão pela qual é preciso compreender que não se atende às realidades profundas do espírito sem semear com cuidado.

O estudo nos proporciona isto. Em cada reunião que participamos, em cada capítulo que lemos, recebemos verdadeiras porções de sementes. O importante é que elas sejam lançadas, mediante exteriorizações nossas positivas, no terreno da vida.

Frutificação em vários tempos

Não se espante: no mecanismo de plantar e colher existem sementes de vários tipos.

Existem aquelas que vão produzir rapidamente, isto é, que vão germinar em curto prazo de tempo, outras em prazo médio, outras em um tempo mais distante e algumas quem sabe em encarnações futuras. Porque sementes há que germinam de forma rápida, outras de forma não tão rápida e outras demoradamente. Basta reparar no cotidiano. Há sementes que demoram anos para alcançar uma posição adequada, ao passo que eu posso plantar uma muda de alface e em poucas semanas já estar comendo alface no almoço.

O fato é que toda semente produz. Seja em curto, médio ou longo prazo as respostas vão surgindo.

E todo aquele que semeia em um tempo recolhe os primeiros frutos em outros tempos. Deu pra compreender? Vamos tentar clarear. Semear e colher (ou ceifar) são tarefas que se realizam simultaneamente. Não há um período específico ou estações exclusivas para semear e ceifar. Em todas elas se espalham as sementes e em todas elas se recolhem os frutos. O que é motivo para não nos esquecermos de que todo dia, no exercício da nossa vontade, formamos novas causas e refazemos o destino.

Conclusão

Fruto digno de arrependimento é o lance conclusivo que a sistemática de crescimento sugere. É a atitude resultante da adoção de um novo método de vida, pelo qual compete-nos viver nos caminhos daquele que é luz.

Gerando novas causas com o bem praticado podemos interferir nas causas do mal feito ontem, neutralizando-as e reconquistando o equilíbrio. Investindo nos valores recebidos produzimos causas que gerarão respostas melhores.

Falamos em culpa, remorso e arrependimento para chegarmos na reparação, pois a culpa só desaparece quando o agente da ação menos feliz auxilia os que lhe sofreram o mal. Logo, se estamos reparando é porque houve em nosso íntimo o acolhimento do processo do arrependimento. No entanto, se as vítimas já se encontram em posição melhor do que a nossa é hora de socorrermos outros. Quem?  Aqueles não diretamente vinculados a nós, mas incursos em necessidades análogas a serem supridas.

A sistemática não é fácil, mas com fé, esperança e determinação nós chegamos lá.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *