João Batista e o deserto – Parte 13 (Final)

Cinto nos rins e mel

O cinto e os rins

“E este João tinha as suas vestes de pelos de camelo, e um cinto de couro em torno de seus lombos; e alimentava-se de gafanhotos e de mel silvestre.” Mateus 3:4

Por nos convidar para que implantemos um sistema novo de vida, João Batista traz um cinto em torno dos rins. Porque o cinto é componente de sustentação e segurança.

Daqui para a frente, vamos bater constantemente na tecla de que todo sistema de elevação se baseia na reestruturação e firmeza do campo mental. Quer se admita, ou não, nós todos somos chamados hoje a um processo de recomposição da vida íntima.

Se não fizermos esse trabalho de elaboração, se não utilizarmos a inteligência para organizar e traçar estratégias para a caminhada, nós continuamos seguindo sabe de que maneira? Aleatória, vaga, imprecisa, indefinida, de qualquer jeito e sem a mínima eficiência.

O desafio é captar valores e fazer a seleção desses valores que chegam, de modo a que possam dar margem à formação de reflexos mais equilibrados dentro de nós. E para isso é preciso utilizar simbolicamente os rins, porque são eles que fazem o papel de seleção e filtragem.

Para nós que já estamos entendendo a realidade da vida, que buscamos um futuro melhor e almejamos avançar de forma decidida, acabou aquela fase de apropriação informativa desordenada. Melhorar a semeadura pressupõe redimensionar o ambiente psíquico e utilizar a capacidade de eleger nossa linha de vida.

Vamos nos esforçar para saber discernir o que sintonizar e selecionar os ingredientes da nossa alimentação íntima, conforme o padrão de consciência alcançado. Estabelecer o que cada um de nós efetivamente pretende, o que é verdadeiro e o que não é, o que é importante reter e o que é bom e útil para o momento.

O plano seletivo e de critério é muito importante para aproveitarmos o que é melhor e evitar uma escolha infeliz que redunde em um efeito indesejável amanhã. Porque é comum pessoas gastarem tempo investindo em áreas que elas mesmas elegeram, e depois reclamarem de cansaço, desânimo, frustração ou qualquer outro motivo.

Estamos suscetíveis a essas oscilações, pois não podemos acertar todas as vezes. Todavia, é o padrão de lucidez relativa que nos assegura o discernimento e possibilita certa autoridade no plano da escolha. E se não podemos acertar todas as vezes, vamos examinar melhor cada situação para que passemos a errar o menos possível.

Na medida em que caminhamos no campo da aprendizagem, aumentamos o grau de sensibilidade. E ao passo em que melhoramos esse grau de sensibilização precisamos aprender a selecionar, até mesmo no plano da nossa manifestação emocional, de forma a não evidenciarmos aqueles ângulos difíceis da nossa personalidade.

Para isso, temos que trabalhar com as nossas antenas ligadas quase que vinte e quatro horas por dia. Procurando, captando e filtrando, mas sem fanatismo e desajuste.

Neste processo incluem as leituras, os estudos, os nossos momentos íntimos de ponderação em que refletimos sobre nossas necessidades e desejos, as conversas gratificantes e moralmente elevadas, dentre outros. Lembrando-nos também de manter uma linha de observação, sem perder a espontaneidade, a usar critério quanto aos pensamentos que nos visitam, como quem separa sementes sadias para cultivar no solo da alma, e arregimentar uma soma informativa suficiente para que, com humildade e ponderação, consigamos analisar o que vem e de onde vem.

O mel

Tem pessoas que decidem mudar e entram num sistema reeducativo da seguinte forma: adotam novos padrões, mas agem de forma rígida e dura com elas mesmas. Buscam de todo jeito resolver, às vezes, num prazo curtíssimo de tempo o que gastariam um pouco mais.

Vão levando a vida sem rir. Apenas dentro daquela postura fechada que adotaram. Nada mais parece que importa. E se riem, é debaixo de uma certa tristeza íntima.

Ora, venhamos e convenhamos, ninguém aguenta levar a vida toda assim, porque no fundo a pessoa não sente bem estar, não usufrui.

Essa mudança não pode ser feita com a cara fechada e o semblante amarrado. Não adianta implementar algo e agir de modo entristecido ou complicado. Não dá para fazer dessa transformação um período de desconforto íntimo: “Eu vou ser feliz amanhã e para isso eu estou lutando e sofrendo muito hoje!” Não. Pelo amor de Deus, nada disso. Isso é amargor. Um drama, por sinal, que muitas criaturas vivenciam. Sem contar que o amargor tem característica e gosto de decepção, frustração e tristeza.

A gente tem que mudar e isso é fato. No entanto, não precisa e nem deve ser dessa forma. Não significa que tenhamos que ser extremados na implementação da vontade.

Imagine o seguinte. O indivíduo acabou de participar de uma reunião em um grupo religioso. O estudo foi uma beleza. Ele ouviu, gostou, aprendeu e saiu até planando de contentamento com aquele sentimento de euforia. Ficou assim até o momento em que, dentro do ônibus, o trocador lhe falou: “Eu não tenho troco para o Senhor”.

Isto bastou para aquele gostinho doce amargar: “Mas você deveria ter! Eu não sei como é que vem trabalhar sem troco!” Aí, ficou amargo. Por quê? Porque o docinho da calma e do conhecimento que ele acabou de ingerir misturou-se com o padrão existente e dominante no seu íntimo que ele traz de longo tempo. Deu uma ideia? E ele não filtrou. Não soube fazer uma metabolização adequada dentro de si mesmo.

Ninguém, sob situação alguma, deve deixar sair do seu coração o amargor. É preciso saber administrar as situações. Usar a determinação, a paciência, o equilíbrio e a alegria, porque senão a própria vida íntima estiola, perde o sentido e o entusiasmo. Quer dizer, a pessoa muda, mas sem alegria de viver. E aí, de que adianta?

Você entendeu o que eu estou querendo dizer? Temos que deixar sair o quê? Algo positivo, fraterno, adocicado, usando a simbologia que o próprio evangelho sugere.

É por isso que João Batista se alimenta de mel. O mel sugere doçura, razão pela qual não podemos nos esquecer de utilizá-lo.

É preciso achar o ponto certo. Dá pra ficar parado? Não, de forma alguma. Temos que investir? Temos, porque se não investirmos não realizamos. Mas sabendo usar a inteligência nessa sistemática. Combinar trabalho com otimismo e confiança. Usar o bom humor, a alegria, a determinação e a fé. Mudar, inclusive, fazendo crescer dentro de nós a simpatia e a consideração no trato com as pessoas ao nosso redor.

No fritar dos ovos, a gente tem que aprender a vibrar com o hoje, mantendo o cuidado de não perder as vibrações positivas capazes de nos projetar. Sem isso podemos até conquistar uma enormidade de valores externos, no entanto ficamos sem a manutenção do reconforto e da serenidade.

Ponha uma coisa na sua cabeça. Para a luta íntima, que constantemente se reinicia, é imperioso se armar de amor, doçura e singeleza. Pense nisso. Você, com certeza, tem algo a realizar este mês, esta semana e no dia de hoje, mas com expressões de revolta, contrariedade ou desânimo sua atividade, seja ela qual for, será negativa. O direito de mudar é nosso. O direito de desistir também.

O direito de buscar, procurar e selecionar também é nosso. E vai depender de cada um de nós começar, se possível, o mais rápido. Para a mudança, a melhor hora é agora. Agora é a hora de mudar, não depois!

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