O cego de Jericó – Parte 5

Ouvir, clamar e dizer

Ouvindo que era Jesus

“47E, ouvindo que era Jesus de Nazaré, começou a clamar, e a dizer: Jesus, filho de Davi! Tem misericórdia de mim. 48E muitos o repreendiam, para que se calasse; mas ele clamava cada vez mais: Filho de Davi! Tem misericórdia de mim.” Marcos 10:47-48

Tudo começou pela audição, pela utilização do recurso que ele dispunha. Tinha danificada a faculdade de ver, todavia era capaz de ouvir. E utilizou o seu próprio, não o de outrem.

Em muitas ocasiões, quando estamos incapacitados de utilizar determinados recursos ou não podemos operar em certa área, a misericórdia divina nos possibilita a utilização de outros. Como aquele ditado que diz que “quando uma porta se fecha, outra se abre”.

Por isso, não se intranquilize. Se você fizer um levantamento das suas possibilidades, provavelmente irá descobrir que os seus espaços vazios, não preenchidos, são muito mais ampliados que aqueles espaços marcados por caracteres no campo cármico ou no campo de encaminhamento da própria vida. Deu para entender?

O que não devemos é parar no tempo e ficar chorando com certos impedimentos.

Diante das pressões que sofremos, e que apresentam caracteres impeditivos, precisamos ter a paciência necessária para saber implementar uma ação em outras áreas. E exercer, quando necessária, a capacidade de direcionar os acontecimentos da vida, sem sermos obviamente criaturas indiferentes aos problemas que nos ocorrem.  

Saber identificar

Quem sente aquela vontade de crescer, aquele vontade de verdade, no fundo  do seu coração e não apenas da boca pra fora, precisa aprender a ouvir. E ouvir muito.

Porque ouvir a gente aprende e vai aperfeiçoando. Significa a identificação auditiva e condição de sensibilização. Então, lembre-se: primeiro vamos ouvir para depois querer ver, pois o ver já é referência a um passo além, é uma etapa mais à frente.

Repare que no texto o verbo aparece no gerúndio (ouvindo), que sugere uma continuidade. Daí, vale o registro: ouvir quando? Sempre. Não é ocasionalmente ou em ocasiões de nossa conveniência.

Por que o cego ouviu? Porque estava atento. O que indica que em meio aos barulhos e tumultos de um mundo conturbado, não podemos nos manter indiferentes ao chamado para os terrenos vibratórios da reeducação moral. Precisamos aprender a observar, de modo a que oportunidades valiosas que vez por outra nos surgem não passem em vão.

Mantendo-nos atentos e interessados, conseguimos identificar as emoções, os fatos e as circunstâncias suscetíveis de serem oportunidades, e dar-lhes um melhor aproveitamento.

Começou a clamar  

A situação de Bartimeu não o estava agradando. Tanto não estava, que os valores que recebia do mundo não se sobrepuseram ao interesse que nutria por Jesus. Ele queria sair daquela situação, e bastou perceber a presença do Cristo para começar a clamar.

E o que é clamar? Imagine uma pessoa pedindo alguma coisa. Agora a imagine clamando. Deu uma ideia? É diferente. Clamar é mais do que pedir. Pedir, você pode fazer baixinho, mas clamar é em voz alta. É uma espécie de grito que parte da profundidade do ser, revestido de sentimento. É quase que implorar.

Indica a manifestação exterior da nossa necessidade íntima. Uma exteriorização nítida, embora na maioria das vezes muda, do que se passa dentro de nós. Muda, porque na maioria dos casos esse grito é inaudível aos ouvidos e percebido apenas na alma.

Em todas as estradas da paisagem terrestre, o que não falta é gente clamando. Dentro dos metrôs, no aperto dos ônibus urbanos, nas vias públicas e em qualquer lugar imaginável, gritos de socorro ecoam a todo instante. A gente cruza com alguém, esse alguém não diz nada, mas os seus olhos expressam uma tristeza danada. Comumente, nosso telefone toca, a gente atende e do outro lado uma pessoa começa a clamar.

E a dizer

Tudo bem, o cego clamou e até aí nós entendemos. Mas o que aconteceria se ele voltasse a clamar?

Antes de responder, imagine duas situações. Você hoje foi ver seu tio que está internado em um hospital. Ok? Amanhã, se você voltar a ver o seu tio, você irá fazer o quê? Irá rever. Você tem um filho pequeno em idade escolar que acabou de fazer o dever de casa. Depois de conferir e constatar que não está correto, você diz: “Paulinho, meu filho, preste atenção. Não está certo. Não foi isso que a professora pediu.” O que ele vai ter que fazer? O dever está feito. Ele terá, então, que refazer. Percebeu? O “re” denota a repetição da ação anterior. Daí, nós temos recomeçar, reformar, refazer, reviver, reestruturar, retornar, repensar, relembrar, rever e por aí afora.

Por isso, é que ele não se limitou a clamar. Foi além. Disse algo também. E o dizer já exprime ação. Porque se ele voltasse a clamar já não seria clamar, concorda? A continuação do clamar não é clamar de novo, é reclamar, que é outra coisa.

E reclamar é manifestar descontentamento, é opor-se, exprimir contrariedade. Agora, cá entre nós, como é que vamos reclamar da vida se a vida sempre nos retorna segundo o que lançamos? Daí, reclamar a gente não pode.

Tem gente que encontra motivos fáceis para muitas queixas. E pelo que temos aprendido, reclamação é componente complicado que dilui nossas energias, quando não tange à revolta. Por ela, costumamos perder valores substanciais no campo da resistência.

Logo, nada de transformar nossa linha ambiente num plano de reclamação. Vamos mudar o hábito. Comentar menos dos nossos problemas e experimentar falar de coisas boas. Quem está envolvido em objetivos e propostas não pode reclamar. E quanto menos reclamamos, mais eficiente e fácil se torna o processo de administração das situações. Começando a conquistar isso, nós nos sentimos mais fortes.

Você já deve ter observado. Ao passo em que passamos a fazer as coisas com boa vontade, sem nos sentir machucados, sem queixar, sem mudar nosso humor e fechar a cara, percebemos que as coisas já começam a tomar um sentido melhor.

A repreensão

Após adotar a atitude acertada, de clamar e dizer, o cego não foi elogiado. Pelo contrário, foi repreendido por muitos. E repreensão é censura imperiosa, feita com palavras enérgicas. Ela se deu porque as pessoas que passavam não enxergavam a sua necessidade. Nenhuma novidade nisso, afinal, quantas vezes nós não somos também obstáculo para que alguém se aproxime do Cristo na busca de seus benefícios?

Essa repreensão tem que funcionar como um aviso para nós que buscamos a edificação. Porque no caminho para o crescimento sempre vamos encontrar empecilhos. Todas as vezes que um indivíduo novo quer se expressar ele depara com resistências.

O recado

Tem um recado embutido que esse clamar nos deixa. Sabe qual? Se não gritar, não chega. Ele mostra que “quem não chora, não mama”, que é preciso atestar que quer.

Todos os que chegam às margens precisam lutar na linha do atendimento, senão ficam onde estão. Porque estão inseridos na vida que elegeram, na vida que evolutivamente é a deles. Para mudar o patamar não tem outra, é preciso fazer por onde.

E o cego, mesmo rechaçado não desistiu. Pelo contrário, persistiu. Por isso, meu amigo e minha amiga, sempre que a individualidade se desperta e quer conquistar ela tem que lutar.

A misericórdia funciona distribuindo dádivas por todo o universo, mas essas dádivas não chegam de graça. Não caem de paraquedas a esmo. Precisamos insistir e perseverar, que é metodologia básica do êxito. Temos que nos manter firmes nas nossas propostas, especialmente quando queremos o aceso a alguma coisa que não conhecemos. Para entrarmos num terreno novo precisamos mostrar que queremos de verdade, não podemos desistir diante das primeiras dificuldades e dos menores problemas.

Nosso personagem manteve a humildade e a disposição. E estamos aqui, de certa forma juntos, para aprender.

Tem misericórdia

É normal no evangelho os que não tem segurança informativa apelar para Davi. Essa era a sua ótica, o que nos faz entender tratar-se de um espírito que queria se abrir ao conhecimento. E esse clamor não tem que ser gritaria, é grito consciencial.

Outra coisa interessante: ele clamou pelo que mesmo? Por misericórdia. Entendeu a beleza do ensinamento? Não clamou por justiça, porque a justiça estava se cumprindo. A cegueira não era de graça. Ninguém sofre sem merecer ou paga dívida que não tem, definindo que ele compreendia que havia um motivo para passar pelo que estava passando. Sendo assim, não clamou por justiça, e sim por misericórdia.

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