Parando, chamando e bom ânimo
Parando
“E Jesus, parando, disse que o chamassem; e chamaram o cego, dizendo-lhe: Tem bom ânimo; levanta-te, que ele te chama.” Marcos 10:49
“E Jesus, parando, disse que o chamassem”. Jesus não para. Aliás, o texto nem diz que Ele parou. É “parando”, o que denota uma diminuição momentânea da marcha, obviamente para atendimento a algum objetivo. Mais uma vez vale ressaltar a forma no gerúndio (terminação pelo sufixo ndo), que sugere ação continuada do verbo.
Chamando
Ele disse para que chamassem o cego. O que faz a gente notar que a multidão, antes dentro de uma linha egoísta, sem enxergar a necessidade alheia, sob a liderança, influência e estímulo superior adota um outro tipo de procedimento.
E o engraçado é que às vezes nós achamos que fazemos demais nos terrenos do amor operacionalizado, quando a nossa função primordial limita-se a chamar.
Na ressurreição de Lázaro, e você deve se lembrar, Jesus não tirou a pedra do sepulcro. E por que não o fez? Por acaso, teria alguma dificuldade nisso? Não poderia fazer o menos quem faz o mais? Certamente poderia sim, no entanto determinou que os homens fizessem o que estava ao alcance deles fazer. Deu uma ideia?
É o que temos que guardar. O Cristo é quem realiza. Jesus faz o que só Ele pode fazer, acudindo-nos em nossas carências. No caso de Lázaro, os circunstantes tiraram a pedra e o desataram e o Cristo operou a ressurreição. Agiu no terreno em que os homens não podem intervir. No texto que estamos estudando, chamar o cego a multidão podia fazer.
Aproveitemos desse episódio a lição. Tiremos a pedra, chamemos o cego e depois aguardemos a intercessão divina. Saibamos entender os chamados que o plano maior espera de nós, dos mais simples aos mais complexos, realizando cooperação mínima, mas eficiente, valendo mais uma vez ressaltar o verbo chamar no gerúndio.
Bom ânimo
Quando nós exteriorizamos alguma dificuldade a alguém e pedimos ajuda, é comum esse alguém nos dizer coisas como: “Tenha bom ânimo, tenha calma, tenha paciência…” E quando falam isso conosco, é bom a gente ouvir com carinho, aproveitar o magnetismo que vem junto e confiar. São pontos que temos que ficar atentos.
A gente ouve “tem bom ânimo”, é uma expressão bonita e não há outra alternativa. Temos que nos munir desse espírito de animação que propicia vida íntima.
Em momento algum da caminhada, e independente dos problemas, não podemos nos deixar abater pelas nossas complicações pessoais e nos curvar ao peso dos acontecimentos, especialmente diante do tanto que a misericórdia tem investido em nós.
É fundamental cultivar o ânimo. Por isso, não desanime. Reflita no que tem de melhor.
Não é fugindo das dificuldades que se consegue vencê-las, é enfrentando-as. Se você não estiver dotado, primeiro de bom ânimo para continuar a luta, não consegue sequer manter-se no estado que é necessário para sair da dificuldade em que está.
Além do que, pessoa alguma obtém conquistas avançadas e triunfa na vida sem estar de ânimo firme.
O apóstolo Tiago é mais enfático. Ele fala em duplo ânimo (“Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós. Alimpai as mãos, pecadores; e, vós de duplo ânimo, purificai os corações.” Tiago 4:8)
Sem dúvida, precisamos de um sacrifício maior, sem o qual nossa vontade em muitos casos fica subordinada ao reflexo condicionado dentro da gente. E para que ocorra sobreposição a esse bloco de registros íntimos, resultante de várias experiências lá de trás e dessa vida também, é preciso duplo ânimo. É imperioso o ânimo dobrado, uma vez que já existe impulsionado todo um sistema de vida que é o automatismo dos nossos reflexos, e que se mantém constantemente engatilhado para atuar.
Assim, ante o automatismo irreverente que nos domina é preciso ânimo redobrado para que consigamos enveredar por um processo diferente, laborando novos valores para o campo reeducacional. Do contrário, sem lutar com as reações do nosso próprio psiquismo, podemos ficar somando dificuldades e complexidades nas próprias elaborações da vida. Será que deu para acompanhar? A primeira metade do ânimo neutraliza a insinuação do reflexo e a outra metade efetiva a conquista.
Se a misericórdia espera algo de nós, a princípio esse algo é bom ânimo. Trabalhemos com ele, no serviço da verdade e do bem, a caminho de Jesus, e com Jesus.