Compatibilidade entre saber e fazer II
Patologias
Conhecer é ótimo e o mundo atual exige. Mas conhecer e não aplicar é ingestão complicada na certa. Então, na medida em que aprendemos e o aprendizado não propicia alteração dentro de nós mediante o plano vivencial, começamos a sofrer. E quanto mais nos informamos e não mudamos, maior vai se tornando o desconforto.
Isto tem sido ponto geratriz de constantes desajustes e verdadeiros distúrbios em muitas criaturas. A distância entre o que alguém tem feito e o que realmente deve fazer tem sido causa de complicações. Constitui o foco gerador de uma gama das chamadas psicopatias.
Eu não sei se você já se atentou, mas muitos problemas de natureza psicológica no campo das inquietudes, das ansiedades, das depressões, das angústias, dessas síndromes todas que vigoram por aí a nível psíquico, não estão relacionadas a coisas do passado. Estão relacionadas aos conflitos vivenciados hoje, em decorrência sabe de quê? Do conhecimento arregimentado que não está compatível com o que está sendo feito dele.
Quando alguém diz “eu estou precisando fazer alguma coisa” e não faz, ele está em conflito.
Vez por outra ouvimos pessoas dizerem: “Ah! Porque me falaram que eu fui isso lá atrás, que eu tive um cargo assim. Que será que eu fiz? Vivo uma angústia muito grande, uma depressão tremenda. Como está dura a luta, o meu carma é muito pesado.”
Para início de conversa, os carmas e os pontos obscuros na vida são um fato. Todavia, o maior número de conflitos no campo do psiquismo que vigora por aí em plena atualidade não se dá tanto em função do pretérito. É um problema originado da instabilidade do ser, de uma incapacidade administrativa, embora seja muito mais fácil dizer que é coisa do passado.
Muitos transtornos decorrem de uma ressonância negativa na consciência. Surgem do choque entre o que a pessoa precisa fazer e o que está efetivamente fazendo. Esta luta cria dificuldades e muitos de nós vivenciamos embates dessa natureza no campo mental. Entre a nova mentalidade que adotamos, e sentimos que é melhor, e o processo irreverente que ainda soma em nosso mundo íntimo decorrente da nossa vida anterior.
O que eu estou dizendo não é exagero. Existem doenças que são geradas por indisciplinas, que surgem de práticas inadequadas da postura de vida. Mas no que se refere às psicopatias, muitas não são decorrentes de desregramentos, e sim da falta de coerência entre aquilo que a individualidade sabe e aquilo que ela faz. Originam-se da não concretude dos valores recebidos, naquilo que a linha consciencial admite mas não exercita, em que os elementos represados acabam exteriorizando expressões de sofrimento e dor.
É fácil observar como estão aumentando assustadoramente desajustes dos mais intrincados no campo psíquico. Muitos nascidos do desnível entre o que o vir a ser aponta e o que é ou está domina. Daí, votamos a dizer: a assimilação de conhecimento ocasionalmente cria depressão quando o indivíduo assimila coisas que ele não vivencia.
A felicidade é resultante
Se esta discrepância é causa de sofrimento, a felicidade não resulta tanto do crescimento vertiginoso do conhecimento, mas da compatibilidade entre o conhecer e o fazer.
Nossa estabilidade está nesta capacidade de ajuste. De forma que quanto mais conseguirmos exercitar no plano prático da vida aquilo que aprendemos, mais harmonia vamos ter. Quanto mais as nossas ações diárias refletirem o que sabemos, menos problemas surgem, menos impactos recebemos, e menos tristeza e agressões sentimos.
Porque aquilo que fazemos expressa o conhecimento que temos. A questão é por aí. Ao passo em que nos entrosamos no cumprimento da lei, segundo o que a nossa intimidade determina, ampliamos o nosso grau de harmonia e de felicidade. Quanto mais o nosso campo prático esteja em consonância com os padrões de consciência assimilados, mais nos achamos em identidade com o bloco de caracteres invisíveis que vibram e saem da nossa intimidade. Nosso equilíbrio depende desse exercício.
Tem pessoa que sabe exatamente o que precisa fazer, tem a noção clara da teoria, mas age de forma distorcida. Por exemplo, sabe que precisa ser pontual nos seus compromissos, todavia chega constantemente atrasada. Sabe que precisa manter a paciência, só que se entrega ao nervosismo por qualquer contrariedade. E você já notou, a gente fica chateado quando o nosso comportamento não condiz com o grau informativo.
Por isto, precisamos nos esforçar para que o campo aplicativo esteja dentro do que o que o nosso campo racional e lógico propõe.
A felicidade não é privilégio dos espíritos evoluídos. Todo mundo, independente do patamar em que estiver, pode transformar a sua existência em condições mais abertas e agradáveis, sem tantos atropelos e sem tantas nuvens carregadas sobre a cabeça, à partir do momento em que se exercitar de forma mais autêntica naquilo que sabe.
Não se trata de discurso vazio. Ampliamos a alegria, ainda que de maneira relativa, sempre que nossas ações diárias entram em concordância com os padrões arregimentados.
Conclusão
Se sofre quem deixa de fazer, aquele que sabe muito e pouco aplica, é feliz quem faz o que conhece. O que garante o equilíbrio é a vida que levamos a nível mental e operacional.
Vamos entrar em uma nova proposta: assimilar valores e, à medida em que as circunstâncias surgirem, esforçarmo-nos para aplicá-los. Trocar a reclamação pela ação positiva. Cada qual aplicando na faixa que lhe é competente. Conhecendo e buscando investir, sem corpo mole e sem querer fazer mais do que as nossas possibilidades suportam.