A conversão I
Introdução e conceito
“E disse: Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos fizerdes como meninos, de modo algum entrareis no reino dos céus.” Mateus 18:3
Eu não sei se você é motorista, mas conhece a placa sinalizadora de conversão? Estou me referindo a ela por ser um ensinamento oportuno para nós. A sinalização de trânsito é de uma beleza extraordinária e qualquer pessoa que dirige comumente se depara com uma. Então, o que vem a ser a conversão? Qual o seu significado?
Ela determina uma alteração no sentido da direção, propõe uma mudança de sentido que, por sinal, não é aquele em que você está. Ou seja, você está indo em frente e a placa determina que mude para a esquerda ou para a direita. É isso que ela faz, porque se for para continuar na direção em que está não há a necessidade da mesma.
Quando o assunto é a realidade espiritual, a gente nota que mais de dois mil anos se passaram deste a chegada do amigo de Nazaré. E mais interessante, que essa conversão permanece até hoje para nós definindo um chamado para a elaboração de propostas de mudança de postura nos terrenos mais profundos da alma.
A sinalização do evangelho é aquela que sugere reestruturação fundamental do psiquismo com vista a uma dinâmica diferente de vida. E sabe qual o sinal que ele aponta? A direção do bem, o caminho da reeducação, o sentido do amor ao próximo, o percurso da caridade, a necessidade do estudo e a trajetória incansável da disciplina. Placas essas que apontam uma vida mais segura e feliz, sem atropelos e acidentes.
Converter significa mudar, deixar o caminho velho e tomar nova rota. E no momento em que se entra na direção que essas placas indicam já não é mais preciso fazer conversão, não há mais que alterar o caminho, por já estar na pista certa.
O verbo fazer
O que Jesus falou acerca da conversão, e que está no evangelho de Mateus, é: “E disse: em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos fizerdes como meninos, de modo algum entrareis no reino dos céus”. (Mateus 18:3) Converter é sair de uma linha para outra, mas repare que nós temos a presença de dois verbos.
Ao utilizar a expressão “converter-se” associada à expressão “fazer-se” (ou tornar-se) Ele ensina que a conversão tem um sentido muito mais ligado à aplicação do que propriamente à predisposição mental. Ficou claro? Então, o mais importante é fazer.
O primeiro passo é a mudança íntima
Trata-se de algo mais complexo do que a princípio se imagina. Não se limita a mudar de religião. Dentro da proposta em que sentimos que algo tem para além da ótica tradicional, indica elaboração íntima e demanda alteração nas estruturas de redirecionamento do espírito no contexto da própria caminhada rumo ao progresso.
É a proposta íntima que a individualidade alimenta, a elaboração do caminho que ela vai percorrer. Implica em um programa que vai exigir estratégia, trabalho mental e alteração de postura, com o objetivo de transformar-se e chegar com êxito na nova fase.
Repare que alguém pode atuar em uma área específica, e enquanto suas mãos operam a cabeça está em outra situação. Aliás, tem muita gente operando no automatismo, ao passo em que a mente está em outro lugar. Citamos esse exemplo para enfatizar que no fundo é a cabeça que vai determinar, não as mãos. Porque as mãos nem sempre refletem o que está na cabeça de alguém. Onde não há transformação não existe conversão, e quanto mais acentuada aquela maior o sinal desta.
Conversão efetiva envolve os dois verbos
“Se não vos converterdes”, que significa converter-se interiormente, é a proposta do evangelho. É trabalho intrínseco que se dá ao nível de conceitos e faz referência ao plano informativo. Indica uma alteração na linha mental e define a nossa matrícula em um sistema novo de vida. Participar de alguma atividade nas inúmeras frentes no campo cristão, por exemplo, é um indicativo do desejo de conversão.
E não podemos nos manter distantes, nem indiferentes, desse imperativo. Se não houver em nós uma renovação iniciando o processo de darmos nossa guinada, ficamos num painel de experiências sem grandes definições e não conquistamos nada. Por outro lado, quando semeamos na intimidade novos valores começamos a organizar um sistema de encaminhamento do destino e melhoramos as estratégias de ação.
Assim, para além da simples aceitação a uma forma ideológica ou da mera simpatia a uma proposta de natureza filosófica, em se tratando de evangelho converter-se significa a criatura sair dos planos da eleição pessoal, do campo restrito de eleição mental, sair do terreno das predisposições e determinar, ante a si própria, quando à vivência e aplicação dos componentes que ela aprovou, elegeu e vem incorporando.
É o ponto em que ela realmente sente que está pronta e que tem que aplicar, tem que agir, tem que realizar. Então, é preciso uma conversão para ela começar a fazer.
Se analisarmos bem, o primeiro lance da conversão nós podemos realizar sem grandes dificuldades. Agora, não basta conhecer ou aceitar certos ensinamentos, é preciso praticá-los. Afinal, a consolidação só se faz mediante a implementação de padrões positivos de realizações. Sem contar que podemos ficar com o plano arquivado em nossa intimidade de forma inerte por muito tempo, sem que ele se manifeste. Tanto é que tem muita gente que se converte, mas não faz. E cria um tumulto na vida mental.
O “se não fizerdes” é uma alusão ao plano operacional. Indica o fazer, a linha de aplicação, a faixa operacional, a necessidade do realizar. Porque o nascimento de uma nova personalidade é pelo fazer. O fazer é que altera o espírito. É por ele que damos o atestado da nossa conversão. Isso precisa ficar claro. É a expressão prática, no seu sentido de manifestação de amor, que expressa ou efetiva a conversão.
No entanto, não tenha dúvida. Sabe onde se dá a aplicação? Lá fora, no mundo exterior. Atendendo no consultório ou no setor de serviço, cooperando na oficina de trabalho, na via pública, com o parente, amigo ou desconhecido com o qual interagimos, dirigindo um carro na via pública ou dentro de um ônibus ou metrô. É aí que temos que trabalhar e exteriorizar o aprendizado. Então, vamos ficar atentos.
São dois ângulos: converter-se, porque o processo vai implicar em mudanças interiores, e fazer-se, no sentido de cooperar, orientar, irradiar caminho, amizade e amor. É este o caminho adequado, sustentado e clarificado para o crescimento do ser.