A verdade vos libertará – Parte 16

A conversão III

Exemplo do evangelho

O primeiro lance da evolução estrutura-se na alteração do campo mental, e este já o estamos conquistando. É nele que lemos um livro e, ocasionalmente, choramos de emoção.

Para clarear a questão, o testemunho ao evangelho por parte de muitos cristãos na época do seu surgimento, se você pensar bem, não se deu no momento em que foram levados às feras nos circos romanos. Não se iluda. Aquilo foi um ato extraordinário que a literatura e as obras cinematográficas revelaram para nós. O que aqueles momentos fizeram foi definir posicionamentos, porque a verdadeira aferição da conquista, com certeza, não vieram com esses valores, vieram depois.

No ímpeto de seguir Jesus, um grande número se submeteu ao batismo de sangue naquelas arenas. Mas quando lhes apontaram o caminho a percorrer, quantos não desistiram? Ou seja, derramaram o sangue, porém não estavam devidamente enquadrados no patamar de redenção. Isso é algo muito sério para a nossa reflexão, porque uma coisa é a renovação mental e outra é a renovação da alma.

Enquanto muitos que se entregaram aos martírios lá atrás traziam conquistas sedimentadas no psiquismo, outros, reestruturando suas personalidades, mantinham o sentimento distante da vivência plena na nova configuração. E quem sabe nós, hoje, também estejamos operando por estarmos embalados na primeira relação com o conhecimento.

O que precisa ficar claro é que não somos aferidos por aquilo que saímos mas, principalmente, em função daquilo que entramos. Deu pra acompanhar ou falei grego? Então, preste atenção. A capacidade de aplicação do amor vem à frente, e sabe quando? Quando o vivenciamos sem aqueles lances de pressão exterior. Quando começamos a agir de forma positiva e amável, inclusive com aquelas pessoas do nosso convívio que são complicadas ou mantém-se cristalizadas e indiferentes.

É a linha contínua dessas ações que representam a nossa definição no novo plano. Todavia, nesses momentos de aferição costumamos voltar atrás e agir com o padrão antigo, adiando e deixando para um futuro mais distante a nossa aquisição.

Nós podemos mudar a nossa vida em razão de uma circunstância que nos pressionou, ou seja, porque algum problema, alguma doença ou outra coisa nos machucou. No entanto, depois seremos aferidos não mais pelo problema ou pela doença, e sim pela nossa capacidade de amar, em um momento de espontaneidade em que não vai ter nada nos sufocando, pesando ou cerceando no âmbito de fora para dentro.

Em outras palavras, recebemos o “diploma” pela realização positiva com base na vivência do que a nova proposta indica.

Firmeza e continuidade

Estamos saindo de uma experiência na qual nos condicionamos por longo tempo, e hoje aprendemos um processo evolucional em que o primeiro fator é a percepção da informação para, posteriormente, adotarmos a esfera prática e entrarmos em uma luta intensa de forma segura. Por isto, o evangelho não implica em sair fazendo.

Temos que ter um processo de conversão dentro de nós para depois começarmos a fazer. Não adianta querer fazer sem se converter. Antes do fazer, é imprescindível laborarmos uma conversão esclarecida no coração. De princípio, a conversão, a estruturação mental, depois a realização, o plano aplicativo. Ok? Primeiro a concepção, depois o nascimento pela realização.

Costumamos oscilar demais no plano das ações diárias justamente porque nos falta essa linha clara e definida de conversão. Fazer sem se converter pode gerar cansaço. A pessoa pode se cansar por não ter uma meta fixada.

Tem muitas pessoas que operam sem conhecer e às vezes caem em determinadas enrascadas. Sem contar que de vez em quando criamos uma miscelânea na nossa cabeça quando nos lançamos na área aplicativa sem o devido conhecimento.

Eu não sei se você reparou, mas em se tratando de edificação espiritual raros companheiros conseguem guardar uniformidade de emoção e ideal. A maioria fica numa montanha russa. Uma hora lá em cima, envolta em vibrações positivas e bem estar, de repente uma tristeza danada e ela vai lá pra baixo. Aliás, conhecemos muita gente assim, não é?

O funcionário chega ao seu posto de serviço e, logo na entrada, um colega o interpela: “Não fala com o chefe hoje não. O homem está uma fera! Hoje ele está naqueles dias”. Num dia o chefe está desse jeito: cara fechada, nervoso, calado, mal humorado e mal educado. No outro ele chega sorrindo: cumprimenta todo mundo, até quem ele não tem o costume de conversar, canta, assovia, conta caso, ri bastante, conta piada.

E é comum alguém falar: “Ele é assim mesmo, mas tem um coração …”. E sabe por que ele não consegue administrar suas emoções? Porque lhe falta investimento.

Conversão é um processo

A questão é mais grave do que parece. Não pressupõe apenas sentimento de entusiasmo e euforia. Para ser mais preciso, a conversão não é tão fácil quanto afirmam inúmeros portadores de convicções apressadas. Não será por se maravilhar a alma, ante as revelações espirituais, que alguém estará convertido e transformado. Não é simples e mecânico assim.

Aliás, o converter que Jesus define não é uma expressão nítida e definitiva. Não é algo finalístico do tipo converti, pronto e acabou. É um processo de afirmação muito mais ligado ao caminho do que à verdade, e que vai depender de investimento. E o que é investir? É dar ênfase em determinados fatores, sem o qual ele não acontece.

Durante muito tempo nós tentamos mudar pelo conhecimento e não deu certo. Porque mudar pelo conhecimento a gente renova o campo mental, altera conceitos, mas não muda. Eu posso entrar por uma porta com um pensamento e sair dali, quinze minutos depois, com outro, concorda? Isso é mudar a concepção. Agora, entre a mudança dos valores de percepção e entendimento e a mudança de espírito há um desafio enorme. E para aplicarmos no campo da renovação espiritual o que admitimos na renovação mental, às vezes gastamos a vida inteira e mais algumas reencarnações.

As novas conceituações que assimilamos, de feição positiva, precisam ser devidamente trabalhadas e incrustadas dentro nós, uma vez que enquanto forem abordadas de forma periférica nós seguimos usando a antiga fórmula sem mudar. Ficou claro? Aprender e não fazer é pseudo evolução. Constitui apenas um grau de segurança no percurso. Mas nós queremos é evoluir de forma consciente. Daí, entre a regra assimilada e a introjeção dessa regra por consciência dentro de nós é que é o desafio.

E quando passamos a entender de forma correta os ensinos assimilados a conversão passa a ser um ponto importante para nós, que exprime como anda a nossa caminhada.

O que isso nos traz de lição? Que precisamos manter um esforço persistente e uma linha de ação adequada, sem dispensar as soluções vagarosas e constantes. Trabalhando sempre o campo positivo do amor, do entendimento, da cooperação, da vigilância e do estudo.

Porque se não mantivermos essa linha direcional para o bem, iremos notar que em muitas situações poderemos dar lances extraordinários na vida, lances da maior expressão e validade. No entanto, ficaremos sempre sujeitos às quedas, operando a cada instante uma linha quebrada entre eventualidades positivas e negativas.

Esse é um assunto que nos toca e convoca ao estado de serenidade, humildade e continuidade. Logo, vamos com calma, sabendo que há tempo pra tudo e que tudo tem o seu tempo.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *