A verdade vos libertará – Parte 20

Sentido vertical I

O plano de contraste

Sem um plano de contraste ou um antissistema, se é que posso dizer assim, não existe evolução. É assim que a coisa funciona. Repare que é diante da escuridão que a luz se engrandece. Aliás, se você reparar, a treva é a moldura que imprime destaque à luz, da mesma forma que o bem se expressa diante da insinuação, embora relativa, do mal. Para que o bem possa se manifestar de forma ampla ele precisa ter uma linha contrária ou recíproca em que possa efetivamente operar.

Sem a existência de discípulos não haveria bons mestres e sem os doentes não teríamos ótimos médicos. Porque a luz do médico só se reflete no contrário. É impossível ter um bom médico sem uma série enorme de pacientes e doentes de todo jeito. Enfim, não existiriam bons profissionais sem os territórios específicos para as operações correspondentes nos ambientes carentes e necessitados da ação deles.

O sentido vertical

Uma lição sublime para aprendermos: o testemunho se processa na linha vertical. O sentido é um só, ele se processa de cima para baixo e isso precisa ficar claro. Porque não tem como nós operarmos de forma efetiva no campo acima do nosso.

Pense comigo: o que Jesus fez se nós não podíamos ir te com ele em sua posição sublime? Fez o que a misericórdia faz. Veio até nós, apagando temporariamente a sua auréola de luz, para nos beneficiar sem traço algum de sensacionalismo. Veio colocar no plano prático, e num ambiente acentuadamente hostil, o que ele tinha de relação com Deus nas suas orações, compreendendo Judas, atendendo um paralítico, atendendo a um cego, atendendo a um cocho, entre outros.

Jesus testemunhou de Deus a nosso favor, e nós testemunhamos de Jesus junto aos homens ou em favor dos homens. Deus nos aguarda nos outros, só que a gente acha que os outros são os anjos. Percebeu? A gente acha que está cheio de anjos esperando nosso auxílio. Anjos que não nos ofendem, que não fecham a cara pra gente, que não nos agridem, e não é por aí. Não há como testemunharmos junto dos anjos.

O testemunho tem intimidado e desencorajado companheiros porque muitos querem exercê-lo sem contrariedade alguma, e se esquecem que ele se dá é diante daqueles indivíduos que se encontram em necessidades maiores do que as nossas. Afinal de contas, o necessitado e incompreendido é Jesus que se personifica à nossa frente.

Nosso trabalho é junto das escalas de nosso nível para baixo. É com quem se encontra, em tese, em situação de carência maior que a nossa. Não é algo fácil. Fala da nossa parte operacional no bem. É com os necessitados, com os famintos e os complicados que a gente tem que tentar, sem qualquer ideia de masoquismo, trabalhar.

Porque aí a nossa verdade e a nossa fidelidade se faz ampla. Então, fique tranquilo. Se você acha que tem pouca luz para ajudar lembre-se que onde estamos é céu para quem está abaixo de nós. Um fósforo aceso pode passar desapercebido na via pública em um dia claro com sol de meio dia, mas altera todo o contexto num quarto escuro. Além do que, comumente conhecemos ângulos que o nosso auxiliado não conhece.

É da lei que tenhamos que aplicar os padrões assimilados no ambiente que precisa, com o desarme do coração e a utilização de uma linha inteligente de adequação. Como é que se adquire paciência? Vivendo no meio dos santos? Nada disso. É junto daquelas cascas duras com quem temos que conviver. É ali o grande instrutor da nossa paciência. Pode parecer coisa complicada, sofredora, mas é por aí mesmo.

O piso de ascensão

Não adianta querer operar acima do nosso terreno, pois nossa luz do nível em que estamos para cima é ineficiente. O que ocorre é que a luz condicionada à nossa capacidade de emitir será sempre de uma relatividade que não atende aos padrões acima do nosso âmbito de trabalho, e abaixo temos material e entendemos do que fazemos.

Queiramos ou não, vamos descobrir uma coisa: sempre teremos alguma área ou alguém para baixo, porque se não tiver nós não crescemos. Como é que vamos operar no plano da projeção de crescimento? É do nosso plano para baixo. Acima não adianta que não tem espaço operacional para nós. Vamos ser secretários de anjo?

Os que estão em um patamar menos elevado são instrumentos dos semelhantes que estão em um patamar acima, os quais operam sob a tutela de quem os dirigem. O médico, por exemplo, se não tiver enfermo ou doente ele não atua. Por isso, sempre estaremos posicionados em determinado piso, recolhendo elementos indutores do alto e operando para baixo, seja auxiliando, induzindo ou interferindo.

Na busca por aprendizado, entendimento e harmonia nossa mente alcança um patamar acima, a definir que subimos para buscar fazer luz em nós. Porém, como a luz é para ser direcionada para as faixas mais sombreadas, e objetivando consolidar nosso acesso a esse patamar, precisamos realizar algo em nome do criador. E como nem sempre é possível ajudar na posição em que nos situamos, faz-se necessário descermos aos locais de sofrimento e desequilíbrio mais intensos para cooperar com eficiência.

E esses companheiros, por sua vez, tornam-se instrumentos de cooperação e de ajuda, por meio dos quais recebemos valiosas oportunidades operacionais para a instauração da paz em nós, uma vez que não existe paz sem uma ação que a edifique. Sem nos expressarmos junto aos irmãos em coletividade não saímos da teoria, nada mudamos em nossa personalidade e não alcançamos faixas superiores da vida. 

Os orientadores da humanidade, em todos os tempos, não expressaram a própria grandeza senão pela atitude de regressar aos círculos da ignorância a fim de exemplificarem o amor e a sabedoria, a renúncia e o perdão aos companheiros da retaguarda.

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