A verdade vos libertará – Parte 22 (Final)

Confirma teus irmãos

Distorções e pseudocaridade

“Mas eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; e tu, quando te converteres, confirma teus irmãos”. Lucas 22:32

A nossa caridade ainda está muito, vamos dizer, seletiva e personificada. No meio da multidão normalmente nós elegemos um ou dois. Quer um exemplo? Eu quero o melhor para o meu irmão. Nos damos bem, tenho afinidade com ele e o elejo como depositário das minhas vibrações positivas e da minha colaboração. No entanto, ao mesmo tempo eu não gosto e reajo contra a minha cunhada que é casada com ele.

Isso acontece demais. Infelizmente, aqui e ali elegemos uns e discriminamos outros.

Agora, como é que eu posso querer o melhor para o meu irmão, e apenas para ele, se ele é casado e mora em uma casa com outras quatro pessoas? É coisa para pensar. Como eu posso frequentar um ambiente, como uma reunião ou um curso, em que busco algum conhecimento, se fico com marcação em cima de A, de B ou de C? Como eu posso percepcionar o interesse do próximo e viver o evangelho que estou estudando se insisto em manifestar um sentimento de indiferença? Não dá pra entender.

Como buscar ou reverenciar o criador apenas nos altares, nos cânticos e nas preces, se é no semelhante que ele se posiciona a nos convocar para a vivência do amor?

A verdade é dura, mas o fato é que amamos de um lado e desamamos de outro. E a conquista espiritual que almejamos não comporta essas atitudes no plano das relações. Se estamos com o bem e queremos evoluir, a postura adequada tem que ser uma marca constante em nossa personalidade. Porque se formos partidários só dos elementos que elegemos não é caridade, é pseudocaridade. E embora em posições diferenciadas, estamos todos nos mesmos trilhos e somos filhos do mesmo Pai.

Confirma teus irmãos

Jesus jamais desconsiderava ou repelia quem o buscava, fosse quem fosse. Já pensou nisso? Socorria tanto a mulher adúltera quanto o criminoso, e nunca se preocupou que a sua reputação pudesse sofrer por isso. Além do que, se ele fosse fazer uma seleção de pessoas quem será que sobraria? Como iria investir em Pedro se este o negaria? Ou no João, se o mesmo vivia interessado mais na presença ao lado do Mestre no plano espiritual do quem em cooperar na Terra? Não sobraria ninguém.

Lembra do que ele disse a Pedro a respeito da conversão? “E tu, quando te converteres, confirma teus irmãos.” (Lucas 22:32) Trata-se de um ensinamento da maior grandiosidade, que de tão lindo chega a arrepiar a gente. Definiu ao apóstolo a necessidade de confirmação aos irmãos quando de sua conversão. E o que é confirmar? É aprovar, homologar, atestar pela conduta, afirmar de modo absoluto a exatidão de algo, dar a certeza e demonstrar. De que forma? Mediante uma ação pessoal equilibrada. Em suma, é mostrar e viver aquilo que se está assimilando como padrão positivo, e não jogar para o despenhadeiro a oportunidade como muita gente faz.

Porque tem muitas conversões à luz que não se confirmam. Concorda? Prova disso que é que existem infindáveis legiões de espíritos dotados de conhecimento das leis universais, e senhores de inúmeras experiências reencarnatórias, que, no entanto, vivem agrupados nas regiões trevosas impermeáveis a qualquer proposta do amor. Sem contar naqueles que dizem ser cristãos e não aplicam o mínimo que aprendem.

O cordeiro nos convoca a confirmarmos a situação nova para não repetirmos o erro antigo de assimilar e não praticar, de aprender e não fazer, de modo a não seguirmos o roteiro de achar que caminhamos, quando na verdade permanecemos estacionados.    

Conclusão

A conclusão é lógica: se as pessoas são os objetivos do nosso crescimento, como alguém vai poder subir se não confirmar? Como vai evoluir se não valorizar os outros, se não aceitar os irmãos de humanidade, se os repelir, rejeitar ou usar de um sistema discriminatório? Como conciliar o conhecimento de Deus que nos visita a percepção com o menosprezo e a desconsideração aos nossos semelhantes? Tem jeito?

Se a transformação da inteligência não reergue nosso coração com o aperfeiçoamento íntimo, e se os princípios que abraçamos não nos fazem pessoas melhores, para que nos serve o conhecimento? O que temos feito do tesouro intelectual que temos recebido? O que esperam os companheiros esclarecidos para serem fraternos? Quando tomaremos Jesus por modelo em todas as nossas ações diárias?

Como podemos implementar a evolução discriminando pessoas, que ainda é a nossa faixa base de caminhar? Você acha que isso é possível?

É duro dizer, mas insistimos em brigar com a vida o dia inteiro. E como é que a gente briga com a vida o dia inteiro, reclamando o tempo todo de tudo e de quase todos, e ainda quer dar um exemplo de renovação em determinadas faixas da aprendizagem?

Descer para ajudar é uma arte divina de quantos alcançaram a vida mais alta. O cordeiro desceu para nos auxiliar e ninguém sobe para esquecer quem permanece na retaguarda.

Nós, que erramos tanto pelas estradas, podemos encontrar alegria maior que a de subir alguns degraus no céu para descer, com segurança, aos infernos de modo a salvar os que mais amamos e que se acham perdidos tanto quanto nos achávamos ontem? Quem alcança o planalto não pode desconsiderar a planície e o vale de onde esteve e saiu.

Se a tua mente já consegue alçar voo mais alto, lembra daqueles que ficaram no ninho, dando-lhes forças para que possam também encarar uma nova linha de ascensão. Afinal de contas, quantas pessoas não se inspiram na sua pessoa e nas várias frentes em que você opera? Ou não tem isso? Quanto mais se sobe, mais se sente vontade de descer operando, porque se fizermos essa dissociação nós estagnamos.

A Terra é o terreno onde aferimos a batalha evolutiva, e não tem outro lugar. E é preciso guardar com atenção que ninguém dá passo algum ao nível de elevação pisando em quem quer que seja, desconsiderando quem quer que seja, diminuindo, ofendendo, ferindo, sufocando ou magoando quem quer que seja. Ficou claro essa parte?

As pessoas com as quais interagimos constituem a base para a nossa progressão, e essa interação com os outros, para propiciar ganho e elevação para o espírito, tem que se efetivar no sentido de expressivas manifestações de auxílio, cooperação e ajuda, nunca no sentido inverso de ferir, magoar, ofender, massacrar e contrapor.

Então, não desmereça ou destrate ninguém, e jamais deixe de compreender os que se desviam do caminho reto. O evangelho ensina que “bem aventurados os misericordiosos porque alcançarão a misericórdia”. Tem que ser misericordioso. E o misericordioso não faz acepção de pessoas. Sabe o que ele faz? Converte-se em irmão de todos.

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