Conceitos iniciais
Amor
“Jesus, ante a humanidade, mesmo perante os ateus, ensinou que caridade é o nome oculto de Deus”. José de Castro – Livro Recanto de Paz. Francisco Cândido Xavier (espíritos diversos)
Dentro da nossa ótica perceptiva acanhada, é muito difícil conseguirmos dar uma definição de algo infinitamente tão grande que é o amor. Mas de uma coisa nós sabemos: ele é uma soma, é a energia sublime, a vibração que tudo circunda e envolve, o sustentáculo e sentimento por excelência, a lei máxima no campo abrangente de todo o universo.
Sem medo de errar, podemos dizer que ele é a essencialidade que mantém e sustenta o equilíbrio do universo, a força invisível em que se equilibram os mundos e os seres e da qual derivam todas as virtudes, que nada mais são que modalidades da sua abrangência.
E se falamos em universo nós falamos em Deus, que é o centro essencial irradiador do amor.
Plano dinâmico e caridade
E o criador não age represando o amor. Ele não guarda o amor para si. Não o cerceia, não o armazena. O universo inteiro é uma corrente de amor em movimento incessante e o manto divino e protetor do amor não é como uma galinha que envolve e agasalha apenas seus pintinhos debaixo das suas asas. Logo, a primeira coisa que temos que saber é que o amor não é estático. Em outras palavras, ele foi feito para ser dinamizado.
Está dando para acompanhar? Deus é o fulcro irradiador no cosmos, reservatório infinito em doação permanente, e disso sabemos. No entanto, a dinâmica desse amor não é com ele, o que define que não pode haver misericórdia divina sem o respectivo reflexo no campo aplicativo. E se não é com ele é com quem? Com os seus filhos. Razão pela qual a eterna providência, em toda parte, aguarda canais de expressão que possam operacionalizar esse amor. E quando falamos no plano operacional do amor nós falamos em caridade.
Então, caridade é a manifestação do amor, é a aplicação do amor, representa a dinamização dessa energia. É a expressão tangível do amor, o amor aplicado. É o elemento operacional do amor, a sua aplicação, a materialização da teoria, a exteriorização crística de uma individualidade. Em suma, é a dinâmica do amor, e tanto é a dinâmica do amor que é muito comum as pessoas misturarem os termos. Em muitas situações uma fala caridade, outra fala amor e ambas acabam dizendo a mesma coisa.
Agora, veja bem. Ao falarmos de amor e equilíbrio do universo nós falamos de infinito, e isso não é com a gente. O amor na sua essência, na sua contingência total e abrangente não é com a gente, é com Deus, com o Pai. Isso é fato. O amor não é com a gente porque perfeição, bondade e misericórdia são inerentes a Deus, tanto que Jesus, a virtude máxima que conhecemos, não aceitou o título de bom quando lhe disseram.
Todavia, não vamos ficar desanimados. Pelo contrário, porque o amor só é sublimado se for praticado e o plano dinâmico do amor compete a nós, não a Deus. Por isso, sabe qual é a nossa função no contexto? Ajustarmo-nos ao terreno refletor do amor.
Se não podemos lhe interromper a fluência e o movimento, e se a dinâmica é uma lei que impera em tudo, conosco não é amor, conosco é amar, pois somos amor em potencial. Nosso desafio é operar o amor, transformar o amor em amar pelo exercício incessante da caridade, sermos misericordiosos para entender a misericórdia do criador.
Distinção
Alguém pode perguntar: “Espera aí, Marco Antônio, você está dizendo que amor e caridade são a mesma coisa?” Bem, para ser mais preciso existe uma distinção. Se fizermos uma comparação e colocarmos os dois numa espécie de microscópio, vamos observar que o amor é muito mais do que a caridade, afinal de contas acabamos de falar que o amor é a essencialidade que mantém o equilíbrio do universo. Daí, ele é maior.
E ainda frisamos que caridade não é o amor total. De forma alguma ela é o amor como um todo. Ele é uma faceta do amor. Qual? A parcela do amor aplicado. É o amor em sua faixa de aplicação, o amor em sua linha dinâmica. É como se fosse o terreno ou o campo onde o amor está operando. Ficou claro? Como resultado, toda caridade legítima traz o amor (visto que a caridade é o seu plano aplicativo), mas nem todo amor é caridade.
Vamos dar um exemplo? Uma pessoa diz a outra em uma conversa: “Nossa, você não tem ideia de como eu amo o Gustavo. Você não imagina. Faz quarenta anos que eu o conheço, desde o seu nascimento.” Tudo bem, ela pode dizer que ama o Gustavo a quem se refere, mas a verdade é que o seu amor nunca se manifestou. Ou seja, ela diz que o ama, todavia nunca fez nada em favor dele. Será que deu uma ideia?