Interação
Ninguém vive só
Ninguém vive só. O homem não foi criado para viver sozinho. Esteja recluso em uma prisão, constrangido a viver em um ambiente distante, navegando sobre as águas longínquas do mar ou encravado no seio da terra, ele jamais deixa de viver na companhia de alguém. A sua vida é uma vida solidária, uma vida de relação de indivíduo para indivíduo, razão pela qual não dá para imaginá-lo isolado dos seus semelhantes.
Você pode viver só. É um direito seu. Aliás, tem muitos indivíduos assim, que querem se isolar. Só que isso não funciona. Não passa de ilusão. Não adianta alguém querer se alienar e criar um reduto particular, porque a solidão efetiva e finalística não existe. Todo aquele que cultiva a solidão, por um capricho pessoal, está a caminho do desajuste.
Interação
É da condição humana que nós precisamos uns dos outros. E dizemos mais: a interdependência ou cooperação funciona na extensão de todo universo e não há o que discutir. Para se ter ideia, Jesus, que é Jesus, contou até com o Cirineu para chegar ao alto do Calvário. Se analisar bem, você vai concluir que não pode viver sem os outros, embora na maioria dos casos os outros possam viver sem você.
Sem contar que não podemos alterar a nossa estrutura intrínseca ou resolver os nossos problemas interiores, sejam eles quais forem, apenas com a assimilação de padrões de natureza informativa. É preciso entender que toda mudança pessoal exige uma linha de interrelação com as pessoas. Vamos crescendo em termos de percepção e notando que cada vez mais passamos a ficar mais envolvidos por elas. Daí, vamos saber interagir.
O laboratório capaz de nos propiciar acesso real a um estado melhor vai depender dessa interação. É por isso que a humanidade cresce hoje na área da comunicação e a internet se expande cada vez mais para todos os cantos e setores. Às vezes, em cinco minutos, a pessoa atende a quatro telefonemas, responde a várias chamadas e envia diversas mensagens virtuais e, se bobear, fazendo algo ao mesmo tempo.
A felicidade e o personalismo
Um recado importante para nós é que não há como evoluir de modo isolado. Sozinho ninguém vive bem e isso precisa ser levado em conta. Hoje é impossível alcançar uma afirmação em novas bases evolucionais dentro de um contexto individualista fechado.
O espírito foi criado para viver em comunhão e avança pelos veículos de relação, pois não consegue entrar em relação com o seu Deus íntimo sem um contato com o Deus manifesto nas pessoas.
O evangelho é enfático quando sintetiza que a perfeição está na prática da caridade, concorda? Só que nenhuma caridade o indivíduo consegue praticar vivendo isolado. Apenas na relação com as pessoas é que ele encontra a oportunidade de praticá-la. Daí, aquele que se isola priva-se voluntariamente do meio mais poderoso de aperfeiçoar-se. E não tendo que pensar em ninguém além de si, a sua vida é a de um egoísta.
Sozinho alguém até caminha, mas não vai longe. Em alguns momentos pode achar que é autossuficiente e que vai, mas não vai. Cedo ou tarde a realidade da vida acaba por lhe provar que não vai. Aliás, se pensarmos bem, sozinho nós não fazemos é nada.
Não adianta querer organizar mecanismos de felicidade fora dos outros. Esse é o grande segredo que a gente está custando a entender. Na busca pelas nossas conquistas, e todos nós as temos, não podemos nutrir nenhum sentimento de isolamento, porque no insulamento não é possível recolher a alegria. Todo o senso de serenidade, de paz e harmonia que buscamos só poderá ser encontrado se nós sentirmos que o outro sorriu com a nossa ajuda, que alguém está feliz conosco. O gostoso da vida é isso.
Em outras palavras, a nossa felicidade depende de sabermos fazer os outros felizes. As pessoas à nossa volta são componentes que precisamos delas e elas de nós.
Deus nos espera no próximo e não podemos continuar no modo personalístico. O personalismo, se pensarmos bem, tem travado o nosso crescimento. Se eu dissociar o meu interesse das pessoas à minha volta, sabe o que acontece? Fico trabalhando em um plano de egocentrismo e o egocentrismo leva à perda da vida, no sentido de reconforto íntimo. Quer dizer, passo a não viver bem porque a felicidade não consegue se multiplicar quando o amor não sabe dividir. Logo, nada de medo nos envolvimentos a que estamos sujeitos. Nas oportunidades que se abrem vamos lidar com muitas pessoas.
Cooperação é imperativo
Antes a gente só pensava na gente, unicamente no nosso bem estar. A gente vivia centrado no egoísmo. E hoje estamos revertendo essa posição, saindo desse casulo fechado para entrar na gama de um amor mais abrangente. Estamos estudando o evangelho e ele nos chega para ensinar que acabou o período de cada qual viver para si.
Quem quiser estar bem consigo tem que passar a se abrir. Tem que fazer algo no campo universalista. Abrir-se no interesse alheio e colocar, de alguma forma, as suas possibilidades ao dispor dos outros, a seu próprio benefício. Porque é um grande erro alguém despender todas as suas forças e todo o seu tempo sem proveito para ninguém.
Longe de querer fazer drama, existe um planeta chorando à nossa volta, ou você acha que eu estou exagerando? Não é difícil observar que todas as áreas e todos os ambientes hoje, do nosso campo aos mais distantes, passam por muitas lutas e necessidades.
Existe um chamamento geral que não se restringe a um grupo de indivíduos. A cada momento somos solicitados a ajudar alguém de alguma maneira. A cada instante somos convocados a auxiliar na faixa de ação em que estamos situados. O mundo é assim: basta a mínima sensibilização para nos certificarmos que de um lado há os que canalizam recursos de cima e de outro os que se encontram abaixo esperando cooperação.
Isso não é uma filosofia da esperança. Aqui e ali alguns estão gemendo e outros tentando auxiliar na minoração do gemido, alguns estão chorando e outros cuidando das feridas, e nós não podemos continuar sendo apenas espectadores dos acontecimentos.
Não dá para evoluir somente em campo teórico. É imprescindível ultrapassarmos a posição acomodada de eternos auxiliados para nos engajarmos em uma proposta de auxílio num esforço de integração para além da consciência informativa, pela instauração de um sistema de trabalho e amor.
Conclusão
A colaboração é um imperativo na jornada evolutiva da qual não adianta fugir, negar ou tentar se esquivar. Mais cedo ou mais tarde todos nós, sem exceção, por menores que sejam as nossas possibilidades, vamos ter que entrar nessa luta para cooperar.
O mundo dá muitas voltas e o que não auxilia, além de experimentar endurecimento torna-se mendigo da evolução. Esquece que será no futuro, talvez, o necessitado e o réu, carente de perdão e de socorro, e mais vale auxiliar hoje que ser o auxiliado de amanhã. Além do que, todo aquele que não coopera não recebe cooperação.
Por outro lado, quando nos aproximamos dos corações, naquele relacionamento com respeito e naquela permuta de afeto, iniciamos o cumprimento da parte que nos compete e passamos a observar que passa a se expressar em nosso campo de ação novas vibrações e novos momentos. Logo, vamos estender a mão ao que necessita de apoio e fazer-lhe algo para que a vida faça algo por nós. Afinal, na caminhada da vida precisamos adotar essa postura para nos desonerarmos dos compromissos que nos competem.