A caridade – Parte 4

A cada qual a sua cota na sua órbita

Todos tem a missão de ajudar

É considerável o número de pessoas que se dizem interessadas e que se sentem de alguma forma chamadas para as atividades no campo do auxílio. Em todos os lugares e em todas as coletividades interessados aparecem, animados e cheios de esperança.

No entanto, a maioria, para começar, espera por algo primeiro. O começo não é assim tão imediato. Você sabe como é, querer eles querem, mas alegam que precisam esperar a execução de alguma coisa, a aquisição de algum poder, a solução de certo problema, a realização de um objetivo imprescindível, a posse do dinheiro fácil, a chegada de um prêmio fortuito. Isso quando não alimentam a ideia de que devem equacionar tudo e resolver todas as dificuldades e obstáculos antes de poderem pensar no semelhante.

O tempo passa e eles esperam. E quantos esperam em demasia e acabam sem nada fazer, ou se despertam tão somente no instante da morte corporal, em meio a esperanças perdidas e soluços tardios, quando menos contavam com semelhante visita?

A revelação de Jesus é campo ilimitado e o seu serviço é infinito. O que isso quer dizer? Que na sua órbita há lugar para todos. Percebeu? Todos os homens corporificados na crosta da Terra trazem consigo a tarefa de contribuir para que se instaure um padrão de vida mais elevado no ambiente em que agem transitoriamente. Cada individualidade recebe determinado talento da providência divina para servir no mundo.

Então, todos devem ajudar. Não há exceção e ninguém fica de fora. Velho ou moço, com saúde física ou sem ela, ninguém é tão pobre que não possa dar algo de si para o progresso comum. Não existe um companheiro sequer que não tenha algo a oferecer. Qualquer individualidade possui alguma informação, e por menor que seja a informação ela convida à serenidade, ao equilíbrio e capacidade de operar no chamado para respeitar o semelhante e ajudar naquilo que for possível, em maior ou menor escala.

É uma questão de raciocínio. Afinal de contas, se a prática do bem estivesse circunscrita àqueles completamente bons seria praticamente impossível a redenção humana.

Pensar em caridade pode parecer filosófico, porém no fundo representa reverter o mecanismo dos nossos desejos e interesses. Não leve a mal, mas quem está pensando em crescer, seguir adiante, mudar o rumo de sua caminhada e encontrar uma parcela maior de reconforto pessoal, isolado do interesse de cooperação vai se frustrar.

Todos nós iremos concluir, mais dia ou menos dia, que a prática do bem é um dever. Tanto é que muitos já entendem o seu sentido científico. Para início de conversa, o que precisamos saber é o porquê das coisas, porque tudo tem uma razão. Porque temos que exercer a caridade, o que ela pode nos proporcionar e qual o seu significado prático.

A vida quer a nossa parcela

Cada criatura é chamada pela Providência a determinado setor de trabalhos espirituais no planeta, valendo ressaltar que a vida não exige o nosso sacrifício integral em favor dos outros. Ficou claro? Nenhum de nós deve deixar a sua vida para buscar viver uma vida exclusiva em função do semelhante. Isso ninguém deve fazer. De forma alguma, porque quem o fizer corre o risco de se alienar. Por outro lado, também não podemos desconsiderar as necessidades alheias e esquecer o minuto de apreço aos outros.

O Senhor não solicita o impossível, tampouco exige de individualidades falíveis espetáculos de grandeza. Caridade é cada qual auxiliar o próximo na medida de suas forças, representando a parcela de valores que somos capazes de distribuir de nós mesmos.

Se é fato que Deus nos espera nos outros, isso não significa que tenhamos que sair por aí afora procurando os outros para auxiliar, porque eles chegam à nossa porta toda hora.

Quem pratica esse exercício espiritual movimenta as forças de sua alma. Com um detalhe interessante: para servir a Deus ninguém precisa sair do seu lugar ou reivindicar condições diversas daquelas que possui. A questão é contribuir conforme a nossa condição evolutiva e na posição em que estamos posicionados. Nada além disso.

Mãos à obra

É óbvio que temos que estar bem para fazermos e ajudar. Sem estar bem é muito difícil cooperar bem, mas temos que começar a despertar o sentimento para esse campo. Porque se a gente for esperar a solução de todos os nossos problemas para ser feliz e poder amar nós vamos sofrer demais. Se ficarmos sentados esperando pelas condições ideais para servir é provável que nós nem cheguemos a começar. A questão é por aí.

O primeiro passo, sem dúvida, é levantar os nossos potenciais e as nossas possibilidades. E, sem qualquer ideia de fanatismo, tomar os instrumentos de trabalho e movimentar o dom que recebemos na tarefa que nos cabe junto das pessoas que nos cercam. Porque receber da vida nós sempre recebemos e continuamos recebendo. Agora, se já nos afeiçoamos ao evangelho não podemos mais ficar fora do serviço cristão.

O amor é algo que flui ao nível da misericórdia e não há como adquirir harmonia íntima se não buscarmos a paz exercendo, ao mesmo tempo, a misericórdia com os semelhantes. Sem o lubrificante da cooperação a máquina da vida não funciona. É da lei.

A maneira de transformar o que recebemos de cima em recursos capazes de nos projetar para uma linha mais feliz é utilizar os padrões que estão ao nosso alcance, os recursos que dispomos. Cada qual deve estar situado na sua faixa de serviço fazendo o melhor que pode. Daí, cedamos nosso auxílio em favor do próximo, sem reclamar, pois um seguidor do Cristo sem atividade no bem assemelha-se a um doente que não quer se curar.

E quando começarmos a deixar os movimentos de vinculação à retaguarda e entrarmos na proposta de melhoria pessoal, quando utilizarmos essa compreensão e aprimorarmos nossa linha de interação, encontraremos, com certeza, um estado maior de equilíbrio interior. É algo certo. Se alguém tem dúvida, basta experimentar para sentir.

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