A caridade – Parte 5

Amar ao próximo como a ti mesmo I

Mandamento, evidência e egocentrismo

“36Mestre, qual é o grande mandamento na lei? 37E Jesus disse-lhe: Amarás o Senhor teu Deus de todo o coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. 38Este é o primeiro e grande mandamento. 39E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.” Mateus 22:36-39

Quando falamos no grande mandamento a gente fala no amor a Deus: “Amar a Deus acima de todas as coisas”. E nele Jesus acrescenta “e ao próximo como a ti mesmo”, definindo o primeiro preceito e a primeira caridade, por meio do qual compete-nos caminhar a Deus na linha vertical do amor e ao próximo na linha horizontal de aplicação.

E para chegarmos ao “amar a Deus e ao próximo como a ti mesmo” nos foram concedidas experiências ao longo do tempo para que aprendêssemos nos valorizar e nos amar.

Mas o segundo a gente não faz. Ao invés de seguir adiante e doar o amor, desconsideramos esse imperativo e ficamos encasulados na autoidolatria, amando-nos em primeiro lugar, que é o correto, porém amando-nos com exclusividade, que é o problema. E por acalentarmos um sentimento egoísta dentro de nós e valorizarmos em demasia os nossos caprichos, distanciamo-nos do Pai celestial e dos nossos irmãos de humanidade.

Em tese, o nosso sistema fica reduzido a um processo de recolhermos para nós. Percebeu? Excedendo o amor próprio a ponto de entrarmos numa linha egoísta de favorecimento pessoal, por enquanto amamos a Deus e não amamos ao próximo, e tudo bem.

Fincamos o pé nessa postura e cultivamos de forma acentuada o egoísmo e o orgulho, para lá na frente entendermos que o egocentrismo hipertrofia a nossa mente. Isso mesmo, ele é uma coisa muito triste. É uma exaltação complicada, uma vibração distorcida que instaura dificuldades contundentes e gradativamente dilui a nossa paz.

Mudança imperiosa

“12Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós, porque esta é a lei e os profetas.” Mateus 7:12

Aos poucos, esse mecanismo egocêntrico cria um desconforto e começa a nos incomodar. É que a lei da vida é clara: tem que amar ao próximo, e como? “como a ti mesmo”.

Um grito íntimo, a princípio sutil e cada vez mais ampliado, em decorrência da necessidade imperiosa de adotarmos padrões abrangentes de relacionamento, nos compele a sair do interesse personalístico em que nos acomodamos para envolvermos cada vez mais pessoas em nosso campo de relação, o que amplia a nossa responsabilidade.

Então, não há alternativa. Cedo ou tarde o nosso interesse pessoal vai ter que se identificar com a linha básica que irradia amor e conciliar as duas propostas. A questão é lógica, o amor não tem nada a ver com o egoísmo. E como diz o apóstolo João: “Se nós não amamos ao próximo que vemos, como é que vamos amar a Deus, que nós não vemos?”

Em razão disso, o egoísmo está com os seus dias contados. Aliás, você já parou pra pensar que uma das funções mais sublimes da inteligência é a capacidade de alguém se colocar no lugar do outro? Isso demonstra um grau de maturidade do ser humano.   

A origem do amor fraterno

Eu não quero embaralhar sua cabeça, mas a proposta básica é que a gente tem que se amar. O amor próprio é fundamental. Se ele for retirado, se for extirpado, sabe o que acontece? Cessa a evolução. Porque, para início de conversa, passamos a contrariar o primeiro mandamento. Afinal, “é amar a Deus e ao próximo como a ti mesmo”.

O plano egocêntrico que estamos abordando é imperioso. O preceito é claro: eu tenho que amar o próximo como a mim mesmo. E para que pudéssemos enxergar o processo novo de coletividade e chegar ao próximo o que é que teve antes? Tivemos que nos encasular sobre nós próprios, até dentro de uma sistemática doentia. Concorda?

Pode parecer estranho à primeira vista e soar esquisito, mas o amor fraterno e universal que almejamos, o amor incondicional a todas as criaturas que temos por meta alcançar na intimidade do coração se estrutura no grande egoísmo que nós tivemos. É fato. E o “como a ti mesmo” já define que somos acentuadamente amantes de nós mesmos, logo, essa expressão de auto valorização é natural. O amor ao próximo como a nós mesmos funciona como uma extensão natural do primeiro mandamento que nutrimos.

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