A caridade – Parte 6

Amar ao próximo como a ti mesmo II

O amor próprio nunca pode acabar

Não podemos querer ser tão altruístas e tão caridosos a ponto de nos apagar de uma maneira complicada, de uma maneira, vamos dizer, de anulação. Isso não pode acontecer. Nós podemos ter ótimos planos, ótimas ideias e querer ajudar muitas pessoas, no entanto lá no fundo nós temos que nos amar. E amar com muito carinho mesmo.

E outra coisa: se eu não me amar, se eu não tiver uma auto estima bem definida, como é que eu vou poder amar o semelhante? O próprio mandamento, “amar ao próximo como a ti mesmo”, pressupõe que nós temos que nos amar demais para nos candidatar a amar ao próximo com efetividade, temos que nos adorar e gostar da gente.

Por vibrar nesse sistema em que a força centrípeta é a que fala mais alto, e por acalentar esse sentimento egoísta por longo tempo, nós aprendemos a querer o melhor para nós e a dar tudo para arrumar nosso espaço e garantir nosso bem estar, o que é normal.

Essa parte nós somos professores e tiramos de letra. Sem contar que nos amando, dentro do que o evangelho propõe, com toda certeza seremos instrumentos mais dignos e mais úteis na mão da espiritualidade superior e teremos mais condições e coragem de levar o melhor em favor dos que necessitam. Conseguiu perceber a correlação?

Eu tenho que ter uma noção clara do que é bom para mim, do que representa reconforto para mim e do que é bem estar para mim, porque por aí eu consigo descobrir o que pode ser bom para o outro. Consigo saber o que pode fazer o indivíduo sentir bem e feliz, entender o que se passa na sua intimidade e saber o que ele pode vir a gostar.

Então, não tem jeito. Precisamos de um lastro grande daquilo que nos causa euforia e felicidade, às vezes, até de maneira distorcida, para dimensionarmos o que pode ser bom para o semelhante e o que pode não ser bom para ele. Como eu vou poder amá-lo se não sei o que ele gosta? É por isso que para cooperar na hora certa, no processo do pensamento divino na nossa área, temos que ter vivido muito, chorado e adotado um amplo sorriso, para sabermos o que é válido e o que o próximo está querendo.

A euforia é essencial

De forma alguma o amar a nós mesmos significa a vulgarização de uma teoria equivocada de auto adoração. Não tem nada a ver. Uma alta dose de autoestima é essencial, inclusive para que possamos lutar no intuito de que alguém sorria. Todavia, uma dose não no sentido de nos idolatrarmos, e sim no de nos respeitar e de nos valorizar.

Afinal, nós temos o direito de zelar por nós mesmos, não temos? Ou eu estou falando alguma coisa errada? O próprio fato de estarmos buscando estudar demonstra isso.

Guarde o seguinte: é imprescindível mantermos um estado de euforia dentro da gente, alimentarmos um estímulo, alguma coisa que nos interessa, que nos esclareça e nos dê forças. Porque o dia em que descuidarmos dos nossos anseios, das nossas buscas e dos nossos momentos de euforia o nosso trabalho fica mecânico e perde o sabor.

O Pai não quer sacrifício puro, ele quer alegria. Quer entusiasmo e misericórdia. E quando eu perder a alegria naquilo que me agrada e que estou buscando, como é que eu vou identificar o que agrada o semelhante? Deu uma ideia? Se eu não mantiver esse sentimento aceso em mim eu passo a dificultar todos os mecanismos. E transformo, inclusive, a minha capacidade operacional de amor em uma capacidade operacional ao nível das conveniências, de uma maneira triste, desalentadora, pálida e complicada.

Quer dizer, eu preciso identificar o que acho o gostoso da vida e fazer por onde buscar o que quero, o que acho que devo, para depois ir desativando naturalmente esse apego, mas sem perder a substância que mantém a euforia da vida. Por ser um fator impulsionador da evolução, o interesse pessoal tem que ser reduzido, nunca eliminado.

O grande desafio

Nós ainda vivemos o bem de nós mesmos sem viver o bem do outro. Para ser mais exato, de vez em quando sentimos lampejos desse amor que se interessa pelo outro. E uma coisa é fato: quanto mais alguém ama a si próprio, mais expectativa surge por parte do plano maior no sentido de que quando essa tônica mudar ninguém o segura. Afinal, sem amar ao próximo qualquer crescimento será sempre um pseudo crescimento.

E a dificuldade está exatamente nessa reversão. Estamos custando a deixar essa velha e cansada concha do individualismo. Mas não vamos ficar tristes não, porque vamos chegar lá. Aos poucos, estamos aprendendo a sair da indiferença e penetrar terreno adentro da solidariedade e da linha interativa com o semelhante. Basta lembrar que já ficamos felizes com a satisfação alheia, e isso é uma mudança e tanto.

Quem ama, ao pensar em si, não pensa em exclusividade; pensa, por amor, em incluir o próximo naquilo que deseja para si. E quanto mais carreia para a sua intimidade psíquica mais padrões arregimenta, quem sabe para jogar para fora no momento certo.

A conclusão é clara: se trabalharmos com determinação no que a gente gosta e sabe que é bom para nós, já imaginou quando resolvermos fazer para o próximo o que nos agrada? Porque isso uma hora acontece. Quando pensarmos nos outros como pensamos em nós mesmos, sem dúvida alguma seremos baluartes nos terrenos do amor.

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