A caridade – Parte 8

A caridade periférica

Percepção voltada ao plano tangível 

Você já parou para pensar que a ideia de caridade de muita gente permanece circunscrita ao plano tangível? É a pura verdade. Continua no sentido literal da palavra, voltada às convenções puramente humanas e circunscrita ao aspecto material, físico. Prova disso é que nosso amor ao próximo por enquanto é um amor todo convencional. Concorda? Todo sistematizado, enquadrado, certinho, todo mecanizado. E periférico também.

O tempo passa e seguimos preocupados com o conteúdo objetivo. Fazemos campanha disso, campanha daquilo e ficamos distribuindo coisas. É o copo de água que se dá, o pedaço de pão que se oferta, a roupa que já não serve ou ficou usada demais e nós doamos. Tem pessoas que acham que caridade é sair dando coisas para os pobres.

O trabalho social  

A luta íntima, que é fundamental, é de uma beleza extraordinária, mas ela tem um preço. Um preço, por sinal, que a maioria não quer pagar. Em se tratando de caridade, muitas pessoas envolvidas nas diversas religiões, e você deve conhecer algumas assim, preferem fazer o bem lá fora. Trabalham apenas para a assistência social. E não adianta querer mostrar-lhes o outro lado, a necessidade do estudo, a importância de se renovarem, a importância de lerem, que isso elas não querem.

Não acontece assim? Chegam a dizer que o que gostam é o trabalho social, as visitas, as campanhas. Segundo esses companheiros, os trabalhos externos são os melhores. E ainda justificam: “Enquanto aquele povo lá fica estudando o evangelho, eu quero é fazer minha campanha de auxílio. Doar alimentos para os que estão com fome. Ler? Isso é perder tempo. Você tem é que ajudar o próximo!” E alguém pode tirar a razão deles?

Ainda existem muitos que não entendem outra cooperação além daquela que se veste de trajes humildes aos sábados ou domingos para repartir algum pão com os desfavorecidos da sorte, ou que aguardam calamidades públicas para se manifestarem. Só que costumam misturar o que é ação periférica com a proposta essencial. Essa ajuda fica restrita a uma linha vinculada à instrumentalidade e não à essencialidade que se pretende.

Agora, não se assuste não. É que nos mantemos pouco treinados no amor e na caridade.    

O caminho mais fácil   

E quer saber de uma coisa? Para a maioria esmagadora de pessoas às vezes é melhor mesmo. É preferível as atividades dessa natureza do que ter que mexer na própria intimidade, rever conceitos, alterar concepções e reformular posturas como o evangelho propõe. É bem mais fácil fazer lá fora do que ter que mexer dentro do coração.

A parte da mudança íntima continua sem despertar interesse. Veja para você ver. A criatura ouve uma palestra bonita e profunda. Para ela foi um sucesso: “Nossa, eu nunca ouvi falar isso.” Ou, então, abre o novo testamento e lê algumas passagens. Se emociona e chega até as lágrimas. E torna a fechar. Essa tem sido a metodologia adotada.

E tem também aqueles que adoram ler. Conhecem que é uma beleza, só que no fundo ainda não se abriram e não entenderam a relevância do plano reeducacional.  É por isso que precisamos ter calma para analisar as questões que envolvem o campo espiritual.

Ao abordar esse assunto, é preciso cuidado para não achar que quem está fazendo esse trabalho externo não está correto, ou que está simplesmente perdendo o seu tempo. Nós não podemos dizer que não existe mérito nessas atividades. De forma alguma. É claro que essa postura de buscar o extrínseco é válida e apresenta os seus méritos.

Mas cá para nós, venhamos e convenhamos, essa é a condição mais tranquila e serena, porque a luta reeducacional não é uma luta fácil. Não é e nunca foi. Se ficamos só nisso nos mantemos na condição mais fácil. Porque o duro sabe o que é? É a gente ter que engolir muita coisa, assimilar padrões novos, metabolizar e redimensionar uma série de posturas e questões intrínsecas e complexas no campo da nossa proposta de mudança.

Então não está errado não. Nós necessitamos dessas tarefas. Estender a mão e distribuir parcelas de reconforto é iniciar a execução da virtude sublime. Além do que, estamos tão distantes da capacidade de sensibilização no nosso dia a dia que temos que mergulhar nessas atividades e participar algumas horas, duas ou três vezes por semana. Percebeu? Trabalharmos o nosso amor dentro de parâmetros restritos, marcados e circunscritos, de forma a criarmos condições condicionáveis de bem e de amor.

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