Conhecer para ajudar I
Emoções e controle
Quando se fala em ajudar nós não costumamos levar em consideração a necessidade real do indivíduo que vai receber. E sabe o que a gente faz? Em muitas situações sai disparando, fazendo isso e fazendo aquilo.
Com essa atitude, além de podermos levá-lo a um círculo vicioso, às vezes o que ele está precisando não é aquilo que estamos doando. Tem casos em que nem mesmo ele sabe o que está precisando. Afinal, a necessidade não se baseia no componente material.
Ele pode estar necessitado, quem sabe, de algo que o ajude a conquistar a capacidade de se libertar dessa situação de necessidade, de repente para que o ponto dessa doação seja cortado. Você já passou por uma situação em que precisou pensar nisso?
A hipertrofia do sentimento é um mal e nos círculos terrestres é comum viciarmos situações. Para se ter ideia, muitas pessoas são bondosas, mais ainda não alcançaram o próprio domínio. Não possuem as emoções, ou melhor, são possuídas por elas. E não se ajuda o criador somente com o impulso de sentimentalismo. Se eu choro por qualquer fato, por exemplo, eu estou em desarmonia no plano das estruturas emocionais.
Por outro lado, tanto o sentimento doentio, quanto a frieza emotiva, não edificam ninguém. O choro abundante do sentimentalista é algo tão complicado como o semblante fechado daquele que não chora e não se emociona. Nenhum dos dois está no plano do equilíbrio. Percebeu? Se eu abrir mão da minha capacidade de sentir e me transformar numa barra de metal, com certeza vou ter que levar pancada e ir ao forno da vida para retemperar esse ferro ou esse aço íntimo e aprender a ser alguém mais sensível.
E a pessoa que está em uma situação melhor não pode ter pena da que está em situação pior. Isso não pode existir. Eu falo pena no sentido negativo de “puxa vida, coitado, eu estou aqui e ele está lá”. Ele pode ter compaixão do sofrimento do outro, que é diferente, porque se tiver pena demonstra não entender do mecanismo evolucional.
Embora envolvidos por boas intenções, tem ocasiões em que a ansiedade de ajudar nos faz sofrer. Sem contar que a falta de esclarecimento e de controle emocional impõe restrições no exercício da caridade, e a bondade desviada pode provocar quedas e indisciplinas.
Ponderação e equilíbrio
Estamos investindo no evangelho, entre outras coisas, para nos habilitarmos a ser servos fieis, uma vez que a Terra reclama filhos esclarecidos que ajudem na tarefa de redenção.
E o servo fiel não é aquele que chora ao contemplar as desventuras alheias, tampouco o que observa o sofrimento de forma impassível a pretexto de não interferir na resposta da justiça divina. O benfeitor esclarecido é aquele que atua com humildade, sem fazer exigências ou constrangimentos e sem expressar sentimentalismo. Ampara sem permitir que acontecimentos exteriores o precipitem na emotividade negativa e sem fugir ao equilíbrio necessário. Em qualquer circunstância que se deparar, garante a paz que cultiva com base no entendimento e na compreensão.
Não significa que as emoções tenham que ser gerenciadas pela linha racional. Nada disso. Significa apenas que elas precisam ser exteriorizadas de um coração equilibrado, harmônico, feliz e que vibra com naturalidade. Deu uma ideia? Porque o amor não pode ser por um processo de manifestação de sentimento periférico. Tem que ser legítimo, com letra maiúscula. É preciso caminhar com tranquilidade e cooperar sem desespero.
Criatura alguma, e em qualquer ambiente, auxiliará de forma adequada experimentando desequilíbrios, seja do sentimento ou do raciocínio. Razão pela qual não devemos menosprezar a ponderação no ato de ajudar, evitando nos guiar por impulsos ou emoções intempestivas. Pelo contrário, compete-nos fazer um esforço seletivo, saber ouvir o lamento do próximo, mover-se de íntima compaixão e auxiliar sem perder a estabilidade. Daí, sabe o que é indispensável? Uma preparação conveniente.