A benefício próprio
A benefício próprio
Em todos os núcleos religiosos, sem exceção, fala-se muito em caridade e na necessidade de se praticá-la. Os espíritos de luz também recomendam, e com certa insistência, esse exercício. Assim fazendo, orientam-nos no sentido de investirmos em nossa evolução.
Aliás, esse é um ponto da maior importância que precisa ser bem entendido. É que auxiliamos os outros a benefício de nós mesmos. Quer dizer, o que fazemos ao próximo, com sinceridade de propósito, fazemos a nós mesmos. Na manifestação do amor aplicado (caridade consiste na aplicação do amor) cada qual dá a si próprio, não ao outro.
Daí, independente da natureza do auxílio manifestado ou da extensão em que ele ocorra, eu não resolvo o problema de alguém, eu estou para resolver o meu problema. Antes de ser um instrumento saneador da necessidade do semelhante, essa linha operacional funciona como um desbloqueio e um campo libertador da nossa intimidade.
E sabe por que é assim? Por uma razão simples. Não tem nenhum de nós que será capaz de mudar a linha cármica de quem quer que seja. Cada criatura transporta consigo questões essenciais e necessidades intransferíveis e não vai ser o meu auxílio, o seu ou de qualquer outro que vai alterar ou resolver o campo cármico de alguém. Percebeu? No plano da estrutura evolucional, o serviço do próprio resgate é pessoal e cada um tem que passar a sua dificuldade, razão pela qual ninguém ajuda de modo finalístico.
A faixa informativa
Preste atenção. Vamos tentar clarear a questão. Quando eu irradio uma atitude correta e cristã da minha personalidade sai amor nessa irradiação, concorda? Até aí, tranquilo, a gente sabe. O que sai da gente é amor e a caridade atua de fora para dentro.
E se amor é o que sai, tudo o que nos chega, tudo que nos alcança vindo de fora para dentro vem como justiça. Certo? No companheiro que eu auxilio e que me observa, esse componente que exteriorizo chega como justiça, porque para ele é um desafio.
O que nos chega é (in)formação, o que significa que vem antes da formação. Ou seja, não modifica minha estrutura interna, não forma nada, não cria nada, não muda nada. Por isso, o ato de receber está amplamente ligado ao plano informativo. Apenas me prepara, me potencializa. Tanto é que o simples conhecimento intelectivo, a simples arregimentação de valores informativos não altera em nada o meu ser, não modifica a minha personalidade um milímetro sequer. Apenas me prontifica para a mudança. E o que sai de mim, o que eu faço, o que eu realizo, o que eu aplico, isso sim, propicia formação.
Imagine que no exercício da caridade o indivíduo A auxilia → o indivíduo B. Percebeu o sentido da seta? A é o auxiliador, ao passo que B é o auxiliado, o que recebe. A deu, saiu dele, ao passo que B recebeu. Daí, a caridade de A foi efetuada em seu próprio benefício, embora nessa irradiação ele tenha auxiliado o companheiro B de alguma forma.
Então, o que nós recebemos é apenas um processo instaurador de estímulos no campo da aprendizagem. É instrumento de toque, de indução, de sensibilização e de despertamento, e esse auxílio tem a função de fazer desabrochar uma necessidade intrínseca.
Qualquer cooperação com os corações em volta visa ativar potenciais, de modo que a caridade é um amparo fraternal que tem por objetivo fazer com que o recebedor (o que recebe se informa) desperte e se levante a fim de entrar no plano de ação (o que dá forma) capaz de lhe propiciar o equilíbrio que caracteriza aquele que o auxiliou.
E o que aquele que ama pode fazer? Deixar a sua marca. O que mais ele pode querer, senão despertar? Quem ama pode sensibilizar o que está sendo amado, mas não pode viver o que o amado vai viver. Esse é o grande segredo. Se os que nos amam começarem a fazer o que nós queremos ou precisamos, aí complica. O papel deles é nos sensibilizar.
A caridade não resolve o problema de ninguém. Em muitas ocasiões ela cria simpatia. Entre outras coisas, nós estamos fazendo um trabalho interativo para criar momentos e situações de modo que circule em nós os valores efetivos e propícios para a libertação.