A verdade vos libertará – Parte 12

A prova afere III

Perda das oportunidades

As circunstâncias, de uma certa forma, são aqueles fatos que se desenvolvem para mensurar a nossa habilidade de solução. Ver o que a gente vai fazer. E quase sempre, dentro desses lances é que costumamos dar um atestado do que vigora em nossa personalidade no campo prático do dia a dia. É semelhante a uma prova de múltipla escolha, em que nos são apresentadas opções para escolhermos. A prova dá a chance da criatura se manifestar. Percebeu? De demonstrar o que efetivamente ela sabe.

Fator interessante é que nem sempre o teste vem de forma contundente, direta, objetiva, a definir que em muitas ocasiões somos aferidos sem perceber. Mas o que precisa ficar claro é que esses acontecimentos tem a finalidade de nos projetar, despertar em nosso íntimo a necessidade de aplicar os componentes que assimilamos.

E quase sempre nós temos a tendência de rejeitar os lances mais difíceis e imperiosos. Aliás, costumamos resistir e de tudo quanto é jeito. Fechados em nossa estrutura pessoal, são muitas as ocasiões em que protelamos e deixamos para depois, e o depois costuma não trazer mais a oportunidade. Ignorando que não somos aferidos pelo número de caracteres informativos, e sim por aquilo que fazemos, vamos postergando, sequenciando e perdendo oportunidades valiosas sem saber.

Ao passo em que nos interessamos e buscamos, recebemos do plano maior uma soma ampla de caracteres informativos que nos possibilitam uma caminhada mais segura. O que deixa claro que o problema não é a instrumentalidade de que dispomos, porque recursos tem chegado e chegado em larga escala. O desafio é o aproveitamento dele. O aproveitamento do recurso é que é o ponto desafiador.

E não somos avaliados propriamente por aquilo que possuímos. Porque aquilo que possuímos é uma conquista nossa, e não precisa mais de aferição. Já foi aferido antes, em ocasião anterior. Tanto que o êxito nessa aferição é que resultou na  conquista. Daí, somos testados pelo grau de disposição realizadora, na determinação de fazer.

Agora, nem sempre aproveitamos como deveríamos. Os fatores educacionais chegam, nós desperdiçamos, ou melhor, sucumbimos por falta de força para aplicá-los, não passamos no teste e vamos estar sujeitos a outros iguais. Lembrando que quando ele passa em brancas nuvens é sinal de que não estamos preparados para o passo.

Projeção além da rotina

Eu não sei se você já se atentou para o fato de que a rotina, e cada um de nós tem a sua, é responsável pela fundamentação da disciplina. É ela que determina e fixa todo o conteúdo arregimentado, sem a qual não existe a retenção dos respectivos valores.

Embora em muitos casos possa tornar-se monótona e escravizante, sua ausência inviabiliza a evolução, porque é pela repetição sistemática que se dá a sedimentação ou consolidação dos valores. Prova disto é que as palavras paciência, tolerância, persistência e continuidade vez por outra surgem em nosso caminho, para nos lembrar e reafirmar a necessidade da firmeza nos propósitos.

E existe uma semelhança entre o hábito e a rotina, embora o primeiro comumente esteja voltado à personalidade, ao passo em que a segunda se ligue mais ao lado funcional. É como se o hábito fosse o que alguém personifica dentro da rotina.

O fato é que precisamos de um projeto e de um quadro de atividades. Um sistema desse tipo tem que ser delineado, do contrário a nossa vida vira uma confusão.

E é gostoso quando o programa transcorre dentro da nossa concepção ou do nosso plano. Para ser sincero, adoramos fazer as coisas que nos interessam e repetir a rotina que nos agrada, que nos acostumamos com ela. Acordar de manhã, fazer isso, depois aquilo, se possível do jeito que havíamos programado, nos mínimos detalhes. Tudo certinho, direitinho, como a gente queria, sem a mínima alteração.

As horas passam, o dia passa, é uma beleza. O dia seguinte chega, a mesma coisa. Outra semana se inicia, de novo tudo direitinho como previsto, calculado e recalculado. Tudo transcorrendo dentro da estratégia montada, sem contrariedade alguma.

Mas só tem um detalhe. Ficando nessa posição, de repetirmos todo dia, as vinte e quatro horas as mesmas coisas (que não é o caso, mas vamos imaginar), dá para evoluir? Notou onde eu quero chegar? Se não houver algum acontecimento diverso, se não surgir desafios e propostas novas induzindo-nos a mudanças, não há melhoramento.

De forma alguma devemos desprezar a rotina construtiva, por meio da qual adquirimos recursos. No entanto, precisamos entender que é dentro das situações que emergem para além do sistema implementado que nos são apontadas linhas para o crescimento. Ou seja, as conquistas não vem na regra e, sim, na exceção da regra. Costumam chegar por caminhos que a gente não esperava e que representam oportunidades.

Por isso, a evolução ocasionalmente nos impõe novos costumes, a fim de que nos desvencilhemos de fórmulas que ficaram ultrapassadas e alcancemos ciclos mais altos.

Às vezes, a pessoa está lá, numa situação tranquila, e acontece um fato difícil. Para quê? Para poder alterar o seu sistema de vida. Porque se isso não acontecer ela não altera, não muda, não busca melhoria, não avança. Ela continua achando que está num sistema de vida que é o melhor para ela e não é mais. Deixou de ser.

Quando temos o direito de delinear nosso sistema de vida é porque fomos merecedores daquilo. Agora, é dentro das exceções, das circunstâncias eventuais e das emergências que surgem os componentes que nos projetam para outros patamares.  

Vem no aperto

É comum ouvir alguém reclamar: “Puxa, já é tanta coisa que eu tenho que fazer e ainda me aparece mais essa?!” Mas é assim. Eu não sei se você notou, mas numa linguagem simples podemos dizer que todo valor novo costuma chegar dentro do sufoco.

O avanço é no obstáculo, não na rotina. A rotina fixa o conteúdo e o obstáculo projeta saltos. O acesso a novos pisos geralmente vem em meio aos desafios. São eles que nos projetam.

Como exemplo, se você quiser alguma cooperação procure alguém quem está ocupado. Porque aquele que está à toa não tem tempo. Quem está à toa fica até preocupado com sua ociosidade, e se você lhe pede algo, além de assustá-lo pode ficar frustrado.

Vez por outra somos lançados pelas circunstâncias a situações inusitadas que de certa forma mudam o nosso contexto de vida. É que a evolução está na mutação. Enquanto se está repetindo não é evolução, é fixação de caracteres. Tanto que no mesmo lugar estamos aperfeiçoando aquela faixa, mas para avançar quase sempre tem desafios.

É natural nos preocuparmos quando nossa rotina muda, porém é nos desafios surgidos que conseguimos encontrar maior segurança. Quem quer vida mansa geralmente deixa o tempo passar e para na evolução. Não vai progredir. Vai ficar estacionado. Só que esse estacionamento depois vai ser cobrado. Porque a vida tem que andar, de uma forma ou de outra, seja por espontaneidade ou pressão. Sem contar que parados no tempo e no espaço costumamos entrar numa rotina perturbadora.

Se não mudamos constantemente o nosso íntimo, na hora em que se altera algo externo no sistema preestabelecido, é um Deus nos acode. Ficamos perdidos e alterados. Não tem gente assim?

Mas tem o lado bom da história. Sempre, atrás de uma pressão, há alguma coisa reservada, a curto ou médio prazo. Então, aquele que estiver sendo visitado por um desafio, seja intrínseco, na atividade profissional, numa situação do lar ou na vida amorosa vá com calma, porque são nessas situações que o avanço se implementa.

Conhece aquele ditado “a necessidade faz o sapo pular?” O sacrifício redime e o obstáculo projeta.

Aí você pode dizer: “Quer dizer que a vida é um constante atropelo? É um sufoco sem fim?” Não. Ela possui atropelos, especialmente nos planos laboratoriais de crescimento, de modo que quem elege a educação como uma sistemática de vida sempre vai ser desafiado. Mas não é um desafio que vai representar um sufoco contínuo ou uma balburdia no campo mental. Daí a pouco nós pegamos o sistema e a metodologia.

São nos atropelos, que geralmente nos alcançam no imprevisto, que somos forçados a buscar mais segurança e resistência para os vencer. Só o trabalho, o sacrifício, a dificuldade e o obstáculo, como elementos de progresso e auto superação podem extrair nossa grandeza. Portanto, lembre-se: ninguém evolui quando a vida está mansa. Quando a situação precipita acontecimento, vem aferição e projeção por aí.

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