A instrução ou informação II
Preparação
O conhecimento, quando os valores circulam no campo mental e buscamos assimilá-los, é apenas o primeiro passo da nossa mudança. Podemos dizer que ele propicia a moldura necessária para que a nossa educação se formalize de modo definitivo.
A informação prepara. Não vamos nos esquecer disso. Toda soma informativa faz o papel de preparação do piso. Para ser mais exato, prepara e potencializa. Se arregimentarmos informações acerca do evangelho ou de qualquer outra área, sabe o que acontece? Ficamos potencializados, preparados, prontos para operar, aptos a realizar.
No momento em que vamos entendendo a linha de orientação que vem lá de cima, abrimos o campo mental para uma percepção mais ampla. O conhecimento teórico que chega cria condição de inúmeras projeções. Ele tem a característica de apontar e oferecer recursos construtivos. Trabalhando a nível de indicativa, abre a opção de uma melhor escolha, e quem escolhe melhor tende a ter uma experiência melhor.
O desejo de aprender é uma porta libertadora. Será que alguém tem dúvida? Aliás, uma porta extraordinária. Mas é importante entender que o que nós recebemos é apenas um processo instaurador de estímulos no campo da aprendizagem. Ou seja, a (in)formação é componente que vem antes da formação. E por vir antes da formação, ela por si só não propicia forma, não modifica, não altera, não muda nada. Ficou claro? Apenas informa. Consiste em um instrumento capaz de nos possibilitar uma postura de aplicabilidade, de ação. É componente que antecede a formação de caracteres novos que saneiam o nosso coração e nos dá o direito de sorrir com amplitude.
Ante sala
Aprender não nos leva ao conhecimento finalístico. No sentido captador de informação, podemos concluir que o conhecimento intelectual apenas nos coloca na ante sala da libertação. Basta observar que o que um estudo faz é enriquecer e preparar a nossa mente, despertar e sensibilizar nosso campo mental descortinando véus.
Hipertrofia de conhecimentos
O conhecimento ajuda nos argumentos e nas linhas de encaminhamento e nós precisamos de informações mínimas. Todavia, não adianta encher a cabeça de informações como se fôssemos uma biblioteca ambulante. Nem se usa biblioteca mais como antigamente, quando pesquisávamos em enciclopédias. Basta acessarmos um computador e encontramos na internet tudo o que precisamos sobre qualquer assunto. Então, por que vamos ficar enchendo a nossa cabeça de coisas? É preciso usar o bom senso. Além do que, mostrar uma biblioteca não mostra sabedoria.
Durante muitos séculos, acreditávamos poder nos redimir simplesmente pela instrução informativa. Não era assim que pensávamos lá atrás? Em nossa ótica antiga, apenas a arregimentação de valores intelectivos era suficiente para nos colocar numa situação de vida melhor. A gente decorava. Sabia até os mandamentos de cor.
O relógio do tempo não para e parece que não mudamos tanto como era esperado mudar. Ainda hoje queremos uma libertação em cima apenas de valores informativos e insistimos em ficar numa postura acentuadamente passiva, como se fôssemos eternos protegidos e necessitados da misericórdia maior. Fazemos de tudo para manter a nossa vida dentro de um processo acomodatício, com indiferença e insensibilidade ao chamamento para operar. Só que continuamos presos às nossas linhas de carência. Em razão disso, os desafios dos dias atuais tem ameaçado tanta gente.
Tem pessoas que acham que podem evoluir somando informações captadas, sejam elas provenientes de leituras, de reuniões, de cursos ou coisa parecida. Ficam somente em busca de informações: “Eu faço curso disso, faço curso daquilo, participo de uma coisa aqui, participo de outra coisa ali”. E assim vão seguindo, apenas introjetando padrões no campo mental. E o que acontece é que o indivíduo pode arregimentar todas as informações necessárias e chegar ao objetivo frustrado.
Aliás, tem muita gente que acha que conhece, mas está visitada por um pseudoconhecimento. Percebeu? Pode estar numa conotação informativa exterior e periférica. Porque o conhecimento, no sentido informativo, é apenas o toque de manifestação de interesse e de desejos novos que passam a gravitar dentro de nós, de modo que no plano teórico nós temos um pseudoconhecimento. Achamos que é e não é.
Que nós temos aprendido muito com as fontes superiores, é inegável. Todavia, estamos imensamente teorizados e com a cabeça cheia de padrões, mas acentuadamente atrasados na capacidade de operar. Hipertrofiados de informação, assimilamos conhecimentos demais e operamos pouco no plano realizador e no contexto moral.
Não são poucos os que misturam a instrução com a aprendizagem efetiva, e é diferente. Se mantivermos aberta unicamente a comporta perceptiva das informações, com toda certeza nós iremos somente até determinado ponto e por um certo período de tempo. Porque vai ficar faltando a parte aplicável desses respectivos valores.
Se o mero conhecimento informativo resolvesse o nosso problema a história seria outra. Se a entrada no reino dos céus estivesse condicionada à assimilação teórica, não haveria ninguém estudando o evangelho aqui. Todos seríamos aprovados com louvor e já estaríamos batendo asinhas em cima das nuvens, igual anjo.
Dá até para imaginar algumas questões de múltipla escolha: o evangelho ensina que a gente deve amar ou agredir? Você está caminhando pela rua, e ao se deparar com uma pessoa caída no chão deve estender a mão ou lhe chutar? Ao receber uma ofensa verbal, você deve revidar com energia ou entender e perdoar o agressor?
Agora, imaginemos que pelo muito receber a gente caia num estado de tristeza e inquietação por não estar sabendo encontrar um denominador adequado dentro de nós. De vez em quando notamos pessoas com essa dificuldade. Começam a ficar ansiosas e entristecidas pelo muito conhecer e a relativa capacidade de aplicar. Dá uma certa sensação de vazio, porque parece que elas não estão caminhando.
A verdade vos libertará
“31Jesus dizia, pois, aos judeus que criam nele: Se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente sereis meus discípulos; 32e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” João 8:31-32
A expressão “se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente sereis meus discípulos; e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” deixa a entender que podemos ser discípulos, embora isso não seja tão verdadeiro quanto parece.
Como o aprimoramento espiritual não comporta improvisações, e o aprendizado tem que ser contínuo, para sermos discípulos verdadeiros nós temos que permanecer na sua palavra, o que exige a necessidade de reter ou guardar os ensinamentos.
É por isso que apenas o conhecimento da verdade não liberta. Dentro do mecanismo de evolução não basta apropriar conteúdo. Em outras palavras, a instrução ou o valor informativo não garante a passagem pela porta. Garante a visualização da porta, da mesma forma que a matrícula em determinado curso não soluciona o problema de aproveitamento do aluno. Deu pra perceber o que eu quero dizer?
Ninguém alcança a libertação pelo montante de conteúdo assimilado. Prova disso é que se a recuperação do mundo e de nós mesmos estivesse circunscrita ao plano teórico e a lindas palavras, o Cristo não precisaria ter vindo ao encontro dos necessitados da Terra.
Nos versículos em questão, os verbos aparecem no futuro. Afinal, pelos valores informativos nós aprendemos o caminho. Fica faltando o quê? A verdade e a vida.
É por isso que a verdade não liberta, como disse Jesus, mas libertará. Quando? Quando for aplicada. Libertação que pressupõe continuísmo para que triunfe.
Outro ponto interessante: “conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”. Tudo bem, nós entendemos. Mas o Cristo não designou lugar, não traçou condições, não estabeleceu roteiros, nem especificou tempo. Prometeu simplesmente o conhecimento da verdade, e para o acesso à verdade com um tem o seu dia e o seu momento.