Começando a estudar o evangelho – Parte 11

Jesus como Mestre I

A cruz e a marca

A doação de Jesus, no tempo do surgimento do evangelho, se deu nos trinta e três anos em que Ele esteve aqui, certo? Quanto a isso acho que não há dúvida. E como somos facilmente tocados e sensibilizados pelos acontecimentos mais incisivos e notórios, a cruz foi a sua marca entre nós durante muitos séculos. Chega a ser duro dizer, mas se tirássemos a cruz de Jesus provavelmente já tivéssemos nos esquecido dele.

Para se ter ideia do que estamos falando, é comum alguém entrar em uma igreja e, logo no primeiro lance, visualizar no altar a imagem da cruz e de Jesus crucificado. Corpo inerte, semblante abatido, olhos fechados, cabeça caída e queixo colado ao peito. Os anos passam e permanece o mesmo cenário. Nas ruas, também, pessoas levam consigo a mesma imagem do crucifixo em correntes penduradas no pescoço.

Adoração à morte

Diante das adversidades, dos problemas mais contundentes e das emergências o Cristo sem vida está sempre presente. O tempo passa e as religiões continuam apegadas à mesma linha. Ficamos presos a isto. Parece algo inevitável e que pesa profundamente em nós, porém aqui e ali se enfatiza Jesus pendente na cruz.

A verdade é que ainda adoramos o Cristo morto. Nos altares das igrejas essa é a figura que predomina. É para a cruz e para o sofrimento que as pessoas apelam. Algumas religiões até não mantém imagens em seus ambientes, todavia fazem alusão do Salvador na cruz e da redenção da humanidade surgida por intermédio do seu sangue. São memórias que trazemos de um passado longínquo como se permanecêssemos na fase de infância espiritual que, aliás, provavelmente devemos estar.

E tem igrejas que vão além. Chegam a fazer do sofrimento o objeto máximo do culto. Agem assim como se a morte do Cordeiro representasse o valor supremo da sua obra e a sua missão tivesse um começo e um fim, ou seja, foi iniciada na manjedoura e finalizada no topo do calvário. A impressão que dá é que se esquecem do ideal divino e que o sacrifício e a morte superam em muito o ensinamento por Ele trazido.

A gente chega a pensar no que os religiosos pretendem com o instrumento da sua morte, porque a crucificação foi um crime originado da cegueira e do orgulho dos homens. Um crime, aliás, que Ele mesmo chegou a prever. Ser martirizado não lhe constituía uma necessidade. De forma alguma. Foi uma pedra lançada para lhe interromper os passos, e que o Mestre a removeu e pronto. Aceitou passar por ela para nos ensinar o valor da ressurreição, ensinar que a conquista da vida efetiva exige sacrifícios.

O que de fato deve prevalecer? A sua morte ou o seu ensinamento? Ao vir até aqui, Jesus teve por objetivo morrer na cruz ou nos ensinar o caminho da verdadeira vida?

Por que veneramos tanto o Cristo morto, ao invés do vivo que prometeu manifestar-se e fazer morada em nossos corações? Por que buscá-lo na cruz, impotente e morto, quando podemos tê-lo vivo e forte em nossas almas, ajudando-nos na conquista da felicidade, da paz e da vida em abundância? São perguntas que a gente tem que fazer. O que foi feito do Cristo ressuscitado? Por onde Ele anda? Porque nós não ficamos órfãos do seu amor. Ele mesmo disse isso, e de forma muito clara.

Sensibilização

Existe um ponto interessante nessa questão. Para conseguir despertar certo grau de sensibilização, manifestações religiosas externas, todas as que lembram Jesus e de algum modo se reportam às suas lições, comumente funcionam como recursos preciosos. São sugestões edificantes para o caminho evolutivo e objetivam sensibilizar. Ver se abre o coração da pessoa para o exercício da compaixão. Estamos dizendo isso sem querer diminuir ou criticar as atividades religiosas de qualquer religião. Mas vamos a um exemplo? Porque exemplos ajudam a gente a entender.

Durante longo tempo nós estivemos com Jesus pela crucificação, não foi? Aliás, esse assunto é bem trabalhado por ocasião dos eventos que ocorrem na semana santa, que a gente por sinal não lembra bem dos primeiros acontecimentos, mas lembra do seu ápice. Assiste na televisão, lê nos noticiários, vê na internet, presencia nas igrejas. E muitas imagens vinculadas nessa semana, como o martírio, a crucificação e a descida da cruz marcaram e marcam muitos corações ao longo dos séculos.

Aquelas imagens tristes, os panos roxos, procissões noturnas com velas acesas, pessoas vestidas de preto, a coroa de espinhos e a imagem da cruz. Isso ainda não faz parte da nossa realidade? E no meio das procissões, diante desse quadro, não raro o pensamento de alguém se exterioriza com a voz embargada: “Coitado de Jesus. Como sofreu!” Esses momentos presenciados visam sabe o quê? Sensibilizar o coração das pessoas no meio daquele ambiente e de todas aquelas imagens de sofrimento e dor.

Descendo-o da cruz

São longos os anos em que estamos vendo Jesus morto. O evangelho, graças a Deus, vem sendo trabalhado hoje no sentido de descaracterizar esse cenário triste. Felizmente, a cada dia um número maior de pessoas alcança os parâmetros de uma verdade nova e enxerga um Jesus operante e dinâmico totalmente fora daquela condição.

É o que compete a cada um de nós: subtrair o papel nefasto da cruz, retirá-lo do sofrimento e visualizá-lo no âmbito de encaminhamento de uma mensagem viva. Uma verdade irradiante que nos possibilita o entendimento acerca das revelações divinas. Finalmente chega o momento em que temos que vitalizá-lo dentro de nós pela vivência pessoal e intransferível, pela aplicação no nosso cotidiano dos padrões que Ele ensinou.

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