Os símbolos e a proteção da revelação
Não compreensão e questionamentos
Muitas pessoas comentam que não entendem a bíblia. Que não conseguem entendê-la por mais que a leiam. Que a linguagem é complicada, os textos não são claros e falta-lhes objetividade, tanto no velho quanto no novo testamento. Acham, inclusive, que o uso de simbologia e de parábolas gera confusão e dificulta a aprendizagem.
Algumas chegam a questionar porque a mensagem das escrituras não é mais clara. De fato, muita gente gostaria que os textos fossem claros. Claros e objetivos. Que a linguagem do evangelho, por exemplo, fosse direta e específica, igual uma cartilha ou um manual convencional. Do tipo: em uma situação assim você age dessa forma, em outra faz daquele jeito; a partir de hoje você faz isso na hora de levantar, faz aquilo na hora de almoçar, faz isso quando for para o serviço; com o colega você fala isso, com o chefe fala aquilo, com quem gosta muito faz desse jeito, e assim por diante.
É assim que a gente realmente gostaria. E não há como discordar, afinal esses questionamentos são legítimos. Querer que os registros de natureza espiritual se apresentem com regras básicas, que tudo seja direcionado de maneira clara, que cheguem até nós de forma esmiuçada, pronta, definida, concreta, tem sido o nosso anseio.
Mas vamos parar e pensar: no fundo, será que nós realmente gostaríamos que fosse assim? Até parece que no mundo em que vivemos, com tanta diversidade, a gente gosta das coisas claras e definidas. Até parece que gostamos mesmo de claridades.
Vem tudo em símbolos
O fato é que não é assim que acontece. A linguagem não é assim e ainda bem que não é. Ela não é e nem pode ser com a objetividade que a gente gostaria que fosse.
Isso é muito interessante de se ter em conta. E sabe por quê? Porque muitos aprendizes e estudiosos acreditam que as comunicações apresentam um sentido de revelação linear sequenciado, e não é assim que funciona. A gente quer clareza, mas toda mensagem bíblica não é uma revelação linear, em linha reta, de forma objetiva. É fato que as revelações, no mundo atualizado em que vivemos, tem chegado de modo abrangente, todavia vem tudo dentro de um sistema esotérico.
Para início de conversa, ao estudar as Sagradas Escrituras nós estamos estudando em cima de registros figurados, não em cima de registros objetivos. Ok? Vamos ter como base esse aspecto. As mensagens de natureza espiritual, todas elas, são caracterizadas por acentuada fundamentação simbólica e não tem jeito de ser diferente.
Isso sempre vai existir. Vamos manter essa questão como referência para o nosso encaminhamento daqui para a frente. A gente lê e muita dificuldade encontrada ocorre porque a linguagem trabalha de forma simbólica.
O símbolo é um canal
Geralmente, vigora uma tentativa de repassar a informação através desse elemento básico que é o símbolo. O símbolo, sem dúvida, é uma forma de passar a informação.
Repare o que acontece no mundo escolar nos anos iniciais da educação infantil. Os educadores precisam utilizar-se da colaboração de figuras e de desenhos. Para quê? Para que a criança inicie o despertar dos primeiros conhecimentos. O processo tem que ser dessa forma. Então, figuras são usadas, e muitas figuras.
É por figuras que os valores essenciais nos são apresentados e conseguem abrir-se dentro de nós. Quanto mais remontamos ao passado, mais entendemos a necessidade de símbolos com que os antigos encerravam verdades e princípios para as gerações futuras, pois a alegoria ou símbolo frequentemente oculta as maiores verdades.
O apocalipse, por exemplo, você já deve ter reparado, é direcionado em linguagem figurada. Entre outras questões, porque o próprio João Evangelista que o redigiu não podia escrever, àquela época, realmente tudo aquilo que efetivamente viu. Percebeu? Ele não tinha meios para isso. Por exemplo, se viu aviões, e não conhecia aviões, escreveu águias, pássaros. Se viu determinados componentes e instrumentos, naquele tempo totalmente desconhecidos, o que fez? A tudo aquilo que lhe era estranho, seja lá o que fosse, por analogia associou a um elemento então conhecido, deu nome a um animal ou a algum elemento que conhecia.
Então, tudo o que é revelado para além do nosso contingente de capacidade perceptiva tem que ser direcionado de uma forma figurativa. É assim e sempre vai ser.
Elemento de proteção
Por que a metodologia do velho e do novo testamento vem toda em bases metafóricas? Primeiro, para evitar que se abram as comportas de determinados valores que possam fazer naufragar o ser ou o aprendiz. Ou seja, a linguagem é toda figurada porque nem todos podem penetrar nesse ambiente. Percebeu? Não podem penetrar.
Você já imaginou a humanidade inteira diante de valores extraordinários, da maior amplitude e significância, todavia entregues ao acesso de qualquer pessoa, ao mesmo tempo, sem critério algum? Haveria tanta coisa complicada e esdrúxula por falta sabe de quê? De uma capacidade perceptiva de entendimento. Além do que, se o sentido fosse restrito um componente isolado poderia perfeitamente ser distorcido na ótica ou na observação de determinada criatura. De forma que não tem outra maneira, permanecerão veladas as linhas essenciais de muitos ensinos e nós não temos dúvida de que se trata de uma estratégia da didática superior a nosso benefício.
Momento de decisão
A mensagem bíblica também não é objetiva por causa de outro fator essencial: ela não pode interferir no momento de decisão do espírito que é sempre um momento sagrado, um momento especial. Na eventualidade de termos um texto simples e objetivo, qual uma cartilha ou manual de instruções, ao invés do conteúdo ampliado, nós não seríamos filhos de Deus, seríamos autômatos e robozinhos dele. Concorda? E onde ficaria a nossa liberdade de escolha?
Está dando para perceber por que o evangelho, por exemplo, é figurado? Entre outras coisas, para respeitar a nossa massa de caracteres e não torpedear a nossa vida.