Religião II
Necessidade de religião e respeito
Mas apesar de tudo o propósito permanece inalterado e elas seguem cumprindo sua missão, convocando as criaturas de todas as partes para o banquete celestial.
Qualquer que seja a denominação, todas são postos avançados de distribuição da luz espiritual, todas têm valores inestimáveis e indicações valiosas, motivo pelo qual não dá para criticar nenhuma delas. Embora os tropeços e as metodologias de dominação, todas exigem respeito às suas concepções. Atendem cada coletividade dentro das suas percepções e necessidades, de forma que quem critica a religião do outro dá um atestado claro de que não está praticando a sua.
Há quem menospreze a atividade religiosa, mas o fato é que a religião é uma força que edifica a humanidade. Fábrica invisível do caráter, alarga os potenciais do sentimento e altera gradativamente as características da alma, elevando-lhe o padrão vibratório através da melhoria crescente de suas relações com o mundo e os semelhantes.
É por meio dela que aprendemos as regras de conduta e alcançamos a perfeição que necessitamos para o crescimento de nossa vida mental na direção das conquistas divinas. A própria etimologia do vocábulo (religare) indica que o seu objetivo é ligar os homens entre si, ligando-os consequentemente a Deus. Ela ainda é a escola soberana de formação moral do povo, dotando o espírito de poderes e luzes para a viagem de sublimação.
O ser humano tem necessidade de ser religioso. Parece frase de efeito, mas é a realidade. Nós somos religiosos de tradição. Ao longo da evolução envergamos incontáveis indumentárias religiosas. Sempre em busca de situações que nos atendam aos caprichos, nutrimos aquela ideia de que Deus deve estar em algum lugar privilegiado e que temos que nos situar debaixo desse privilégio. Encontramos a que nos parece perfeita e ficamos. Se insatisfeitos, trocamos de religião. Saímos de uma igreja e entramos em outra achando que isso vai resolver o problema, e custamos a entender que embora essa mudança de crença por si só seja capaz de modificar o caminho, na maioria das vezes ela não altera nada e apenas perpetua a insatisfação.
O assunto é tão sério que tem gente que vive amarrada à religião, ao ponto de considerar que para sua vida andar bem ela tem que participar de forma sistemática das reuniões, das palestras ou cultos em que está envolvida. Para a semana ser positiva isso é essencial. Se acontece de faltar, dá até aquele peso na consciência: “Eu não estou bem esta semana. Ela não está sendo boa pra mim, também não fui à reunião. Não devia ter faltado.” Ora, nós não estamos aqui para criticar ninguém, mas isso é sinal de desinformação e atesta a dificuldade em assumir uma postura voltada ao crescimento consciente.
Superficialidade dos padrões
Todas as religiões tiveram a sua origem no grau de adiantamento moral e intelectual dos homens. E estes, por sua vez, materializados demais para compreender o mérito das coisas espirituais, estruturaram a maior parte dos deveres religiosos no cumprimento de fórmulas exteriores, de modo que para cada faixa evolutiva prevalecem crenças e cultos próprios para as suas necessidades. Assim, aqui e ali, lá e acolá, existem seguidores presentes nos rituais mais diversificados.
No entanto, a maioria não encara o fundamento religioso com a seriedade necessária. Basta realizar as atividades de culto exterior e frequentar com relativa assiduidade as assembleias da fé para que todos os enigmas da alma sejam resolvidos no capítulo das relações com Deus. E não são poucos os que se julgam exonerados de qualquer obrigação com a melhoria íntima, contanto que participem do ofício religioso a que se afeiçoam uma vez por semana. O indivíduo assiste a missa ou reunião, faz a prece do início e a do final, comunga, canta louvores ou toma o passe e está ótimo. Volta para a casa com o dever cumprido.
Sem iluminação íntima
Assim, os homens seguem se mantendo à distância da verdade, preferindo o convencionalismo rigoroso. Centralizam a vida espiritual na manifestação das práticas exteriores. E enquanto essas atitudes se perpetuam, o ensinamento de Jesus, que constitui a verdadeira essência capaz de aperfeiçoar e engrandecer o espírito, fica relegado a segundo ou terceiro plano. Como resultado, muitos acreditam ser religiosos, quando não passam de simples ritualistas, e sem sempre o bom ritualista é uma boa pessoa.
Provavelmente você conheça algumas pessoas assim: assistem missas e frequentam reuniões com criteriosa regularidade, todavia permanecem dia após dia sem qualquer indicativo de conquista iluminativa. Quer dizer, frequentam, mas sem o mínimo compromisso de melhoria. Frequentam, mas não se melhoram interiormente. Não aplicam na vida prática cotidiana as luzes que assimilam, ou talvez sequer cheguem a assimilar.
Tem também aquelas para os quais os cultos apresentam um convencionalismo sem sentido. No fundo chegam a essa conclusão, mas continuam frequentando, e sabe por quê? Pelo convívio social que para elas é gratificante. Os eventos lhes agradam em razão dos encontros pessoais e das conveniências que proporcionam. Mas o importante é que apesar de tudo nós estamos estudando o evangelho. Participamos, assistimos e integramos. Esforçamo-nos para nos manter na linha adequada, todavia continuamos místicos.