Intimidade
Espírito e vida
“O espírito é que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos disse são espírito e vida.” João 6:63
“Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o espírito de Deus habita em vós? ” I Coríntios 3:16
Quando a gente pensa em igreja a gente pensa em templo, não pensa? A ligação é quase imediata. Agora, preste atenção: Deus é espírito, certo? E se Ele é espírito, o que concluímos? Que somente em espírito deve ser adorado.
Acabamos de ver na parte anterior, pela conceituação do termo, que uma igreja não exige necessariamente uma edificação física, o que define que o templo pode perfeitamente ser transferido do ponto exterior em que se situa para dentro de cada um de nós. O apóstolo Paulo ensina que nós temos um templo (“Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o espírito de Deus habita em vós?”). Aliás, a finalidade dos templos de pedra é basicamente a de despertar nossa consciência para uma edificação íntima.
As imagens e figuras que neles vemos simbolizam algo que na verdade não se encontra lá. É uma estratégia necessária em função da nossa imaturidade espiritual. Os templos visam, acima de tudo, expressar nossa proposta interna, porque a igreja efetiva é dentro da gente. Então, guarde isto: o templo físico, fora da gente, é um auxílio na caminhada.
Jesus chega
Deus não está assentado no altar dos templos religiosos. Encontra-se em todo o universo, inclusive no íntimo do ser humano. E foi isto que Jesus fez: veio inaugurar o templo da fé no coração dos homens, convidar as criaturas a levantarem o santuário do Senhor nos próprios corações. Com Ele a religião alcança uma abrangência inimaginável, de modo que o espiritualismo não deve restringir o Criador ao limite de paredes.
O que estamos dizendo não deveria ser novidade para ninguém, porque a nossa missão maior na vida, se pensarmos bem, é converter todo planeta no templo augusto de Deus. À medida que estudamos aprendemos que é no campo secreto da alma que o Cristo espera por nós, é no santuário íntimo que temos que encontrar com Ele, não em outro lugar.
O caminho para o céu tem que ser construído dentro da gente, onde a sabedoria e o amor do Pai se manifestam a todo tempo pela voz da consciência. Como conclusão, nada de templos de pedra ou de rituais. A igreja tem que ser trazida para o nosso lar e depois transportada para a nossa intimidade, de modo a ser efetivamente erguida.
Evangelho é íntimo
O evangelho já saiu da expressão exterior em que foi trabalhado para atingir os terrenos amplos da intimidade do ser, que é onde ele realmente opera no plano transformador. Componente de libertação, ele opera mesmo é no anonimato, revolvendo o coração de cada um de forma nítida e silenciosa.
Daqui para frente nós vamos bater demais nessa tecla, porque isto tem que ficar claro.
O evangelho age é dentro da gente. É código moral que visa entrar e trabalhar o nosso interior. E tanto é assim que a sua mensagem, toda ela, é uma mensagem direcionada ao espírito. Você já pensou nisso? São orientações faladas ao coração. É por isso que o seu estudo, como o de todos os livros da Bíblia, tem que ser trazido ao plano intrínseco.
Aos poucos, vamos evoluindo e compreendendo que altares, vestes, velas, imagens, símbolos, perfumes, entre tantos outros componentes tangíveis, não passam de apetrechos destinados a incentivar a produção de ondas mentais visando atrair forças do mesmo tipo que as arremessadas pelo praticante dessa ou daquela religião, visando certos fins. E assim, nossos rituais vão se transformando e notamos precisar de manifestações cada vez menos ostensivas.
Para se ter ideia, Jesus escolheu os ambientes mais pobres e mais simples para viver a imensidade de suas lições, mostrando aos homens que a verdade dispensa cenários suntuosos para ser ouvida.
Reis e sacerdotes
“E nos fez reis e sacerdotes para Deus e seu Pai: a Ele glória e poder para todo o sempre. Amém.” Apocalipse 1:6
Você quer um exemplo do que acabamos de falar? Então, vamos lá. Repare neste versículo do Apocalipse: “E nos fez reis e sacerdotes para Deus e seu Pai: a Ele glória e poder para todo o sempre. Amém.” O que ele apresenta? Define que para a adoração nós não dependemos do majestoso edifício do templo e nem tampouco dos seus cerimoniais, dos seus rituais, das suas prescrições e até mesmo da autoridade dos seus sacerdotes. E sabe por quê? Porque somos todos sacerdotes. Percebeu? E isto não sou eu que estou dizendo, é a própria escritura que não deixa a menor dúvida a respeito.
O texto sugere que o cristão que já acordou para as suas necessidades e responsabilidades evolutivas tem que caminhar sendo o sacerdote de si mesmo. Porque o termo sacerdote, no sentido abrangente, diz respeito à faixa de âmbito interior. Sintetiza toda a nossa experiência de cunho acentuadamente espiritual, nossos valores redentores a nível pessoal e reeducacional. E ele sugere também uma relação entre os termos “rei” e “sacerdote”.
A expressão “reis” refere-se a quê? Vamos analisar. A gente pensa em rei e a primeira coisa que vem à mente é a ideia de poder. Rei não é uma alusão a isso, um símbolo de poder temporal? Acima de tudo, não representa o aspecto de autoridade? Só que aqui ela não está ligada apenas ao sentido literal ou físico. Indica que dentro do exercício do sacerdócio, que intimamente compete a cada um de nós, precisamos ter autoridade nas revelações que nos apresentam. Denota a necessidade de mantermos uma postura resoluta, de auto suficiência e autoridade naquilo a que nos propomos fazer.
Por isso, se já nos situamos de alguma forma para além daquela postura religiosa tradicional de querer ser agraciado pela dádiva divina, se já aceitamos as responsabilidades que o conhecimento nos traz, podemos nos considerar chefes da igreja.
Autoterapia e sutilezas
O evangelho trabalha a intimidade de cada aprendiz, todavia com as conclusões obtidas dentro do patamar de cada um. Ao estudá-lo, abordamos assuntos da nossa estrutura pessoal e mexemos com facetas, mais superficiais ou profundas, da nossa personalidade.
Seu estudo é uma terapia, aliás uma autoterapia extraordinária. Por ele começamos a clarear o nosso campo mental e o nosso entendimento de modo a melhorar o próprio contexto evolutivo. Começamos a penetrar de alguma forma dentro de nós mesmos, a nos auto-examinar e entender a realidade das coisas. Descobrir porque passamos por determinados problemas e outros não, porque é tão importante cuidar do lado espiritual da vida, porque temos que fazer caridade, o que é realmente a caridade, porque é fundamental valorizar a família, descobrimos porque o perdão é um procedimento científico e não religioso, o que acontece se não perdoarmos e assim por diante.
A questão é que até descobrirmos esse templo grandioso na alma nós costumamos passar por muita coisa, aprontar muita confusão, andar por caminhos difíceis, sofrer incontáveis impactos, entrar em tantos consultórios e experimentar diversas terapias. E quer se acredite ou não, enquanto não entrarmos nas faixas que a boa nova sugere e não trazermos o seu conteúdo para o nosso íntimo, dentro do imperativo “tomai e comei”, nós ficamos transitando pra lá e pra cá e não conseguimos encontrar a harmonia e a felicidade efetivas.