Renovação I
Estudo e indiferença
Há muita gente no mundo estudando o evangelho. Isso é ótimo, mas para uma grande massa o estudo ainda consiste em encher a cabeça de conhecimentos. Surge um livro novo cheio de informações, o indivíduo já entra de cabeça nele e sai dizendo aos mais próximos: “Nossa, você tem que ler esse livro para ver que coisa maravilhosa!”
Infelizmente, é possível observar que muitas pessoas, por mais que estudem, não se despertam. A impressão que se tem é que elas estão marcando o passo. É o que mais se vê. A criatura estuda, mas não vibra; estuda, mas não se encanta; estuda, mas não se entusiasma, não se envolve, não se emociona. Como se costuma dizer, fica na mesma. Estuda, mas parece que não aprende, ou se aprende parece que não assimila. Continua sendo a mesma de sempre, não se torna de fato uma pessoa melhor.
Sem mudanças
Deu para você perceber, pelo menos de relance, a profundidade do que estamos abordando? Você já notou, por exemplo, como certo número de pessoas com as quais nós temos que lidar diariamente são difíceis? Já reparou? São pessoas intransigentes, egoístas, rancorosas, sem simpatia, infelizes, tristes, desamorosas, amargas, e por aí afora. Só que com um detalhe, quase todas vinculadas a uma religião. Percebeu? São assim, não por falta de religião e, às vezes, nem por falta de estudo religioso.
Não estamos aqui para criticar. Por favor, nem de longe pense isso. De forma alguma. Todavia, quantos estão buscando o evangelho, e até mesmo pregando o evangelho, mas apenas no sentido superficial? Estão estudando e pregando o ensinamento sem se aderirem plenamente a ele. Estudando sem sentir e ensinando sem vibrar. Daí, fica um recado: se você está estudando o evangelho porque quer ser um estudioso e entender de tudo, cuidado. Pode ser que desista bem mais cedo do que pensa.
Acionando o sentimento
Enquanto muitos ficam motivados e encantados, somando padrões, aprimorando entendimentos, retificando conceitos, alterando comportamentos e se transformando em pessoas melhores, outros acabam desistindo. O estudo para estes fica chato, monótono, cansativo, desinteressante, sem nenhum atrativo que os faça continuar. Aí se faz a pergunta: por que essa satisfação com uns e não com outros?
Porque muitos estudam usando só o intelecto. Não é exagero não, são os cristãos teóricos. O ensinamento não vai além do entendimento, não ultrapassa a região mental, fica apenas na mente, não chega ao coração. E quando se estuda só com o intelecto o indivíduo pode arregimentar todas as informações e chegar ao objetivo frustrado.
O conhecimento às vezes, por si só, não basta. Entender não é tudo. Não basta saber, a proposta é maior. Apenas a inteligência não é capaz de penetrar na essência do evangelho. Não consegue.
O estudo precisa ser mais com o coração do que com o cérebro. É óbvio que os padrões precisam ser aprendidos, pois a reeducação preceitua a assimilação de caracteres informativos de modo a aumentar o plano do conhecimento, todavia precisam ser sentidos. É preciso sentir o que se aprende. Paulo já dizia que o homem material não é capaz de compreender as coisas espirituais. Todo aquele que não sente em si mesmo a influência moral do evangelho desconhece o que ele é, embora possa ter conhecimento teórico dos seus preceitos. E dizemos mais: sem a presença do sentimento qualquer manifestação religiosa é mero culto exterior e nada mais.
Daí, razão e fé, intelecto e sentimento precisam andar juntos. Para alguém se convencer da grandeza dos ensinos de Jesus não basta apenas o raciocínio, é preciso que o coração participe. As verdades do céu falam tanto à mente quanto à alma.
Basta observar que é do coração que vem as mudanças. É dele que nasce a vontade, que se instauram as virtudes e emerge o amor. Por isso, o desafio agora é fazer com que o conhecimento que se vai adquirindo seja capaz de incentivá-lo a mudar.
E alcançar esse ponto de abrir o sentimento é que é a grande dureza. Não é tarefa fácil. Bota difícil nisso. É o que tem nos deixado inertes e entristecidos ao longo dos tempos. Não raras vezes, para que isso aconteça muitas lágrimas precisam descer dos olhos.
A doutrina de Jesus, trazida a milênios atrás, nada exige. Não impõe nada. Visa clarear o entendimento de modo a sanear a dureza da nossa intimidade. A estamos estudando para a grande mudança. Quem está querendo se fortificar e está buscando a emersão da sua própria luz passa a ter maior facilidade para entender.
Resistências interiores
Sabe o que acontece demais? Ajoelhamos diante do Senhor, rezamos para Ele, estudamos o seu evangelho, mas continuamos no ponto de profundo desinteresse e exacerbado individualismo. E não estamos nem aí. Seguimos a nossa caminhada assim, descuidados e indiferentes. Ao longo das reencarnações, vamos vivendo como cristãos sem Cristo.
Com isso, eu não estou sendo negativo, apenas mostrando uma realidade nossa, atual por sinal. Para se ter ideia, muitos indivíduos dotados de inestimáveis valores intelectuais até gostariam de conhecer mais do assunto e das particularidades da vida espiritual, só que não conseguem. Sabe por quê? Por causa dos pontos íntimos de ignorância que não se esforçam por remover e dos caprichos que acariciam e dos quais não abrem mão. Aproximam-se das fontes da revelação maior, entretanto não se libertam dos laços egoísticos de modo a verem e ouvirem para além do que lhes convém aos interesses. Falta-lhes coragem de renovar os valores e a si próprios.
Existe uma luta reeducacional esperando por nós, mas não queremos lutar. Acomodados, preferimos estudar a boa nova por fora. A vida passa e continuamos os mesmos de milênios. Ingerimos valores informativos, só não abrimos mão do que seja felicidade dentro da nossa ótica. Estruturamos sistemas que a nossa versatilidade e sagacidade admitem, mas raramente os adotamos por falta de humildade. E aí a coisa complica, porque sem humildade não há reforma alguma que aconteça.
Como resultado, ao invés de evoluirmos ficamos acumulando fatores de resistência. E como o ensinamento não alcança quem permanece aprisionado em si mesmo, referido programa vai sendo adiado dia após dia, mês após mês, ano após ano. Vai ficando para depois. Para quando der. Fica na dependência do desejo sincero de reajustamento. Sem contar também que o mundo está cheio de pessoas que aparentemente aceitam o evangelho para serem agradáveis às relações pessoais.