Evangelho é prático
Indiferença e o exemplo de Jesus
A maioria das pessoas tem religião, a maioria se afeiçoa a uma determinada religião; mas venhamos e convenhamos, essa mesma maioria não se preocupa em aplicá-la. Enquanto o evangelho permanece no mundo para enriquecer o espírito humano, o percentual de criaturas dispostas a vivenciá-lo ainda é bem reduzido. Muitas preferem ficar estacionadas na posição beata e cômoda do misticismo religioso, sem realizações edificantes no cotidiano que as coloquem num quadro de elevação.
Ciência de vida
A lição de Jesus até hoje não foi compreendida. O seu conteúdo não tem nada de religião. Aliás, Ele não ensinou procedimentos religiosos. Apresentou, sim, muitas expressões simbólicas de conteúdo inestimável, que na prática não constituem cerimônias ou rituais. Ensinou uma realidade positiva capaz de transformar o mundo, quando os homens a compreenderem e entrarem em relação com ela.
Trouxe-nos métodos científicos para o bem viver, de forma que evangelho não é papo furado, muito menos teoria circunscrita ao campo da esperança. É processo científico de libertação do ser e elevação da alma. Não é filosofia, é ciência. Ciência de vida. “A cada um segundo as suas obras” não é filosófico, é científico. Assim, nós não o estamos abordando em termos de religião, no sentido tradicional, mas no sentido científico de aplicação para uma vida melhor. Com ele encontramos normas operacionais.
O Mestre não trouxe nada em vão. Tudo o que falou tem uma finalidade. Seus ensinamentos e atos, elaborados com elementos, situações, paisagens, coisas e fatos decorrentes da massa e do campo em que operava, são lições espontâneas para todas as questões da vida. Só que em se tratando de estudo ele é disciplina que temos dificuldade em aprender. Talvez por falta de interesse. Achamos que não é importante.
Evangelho é para ser aplicado
Os círculos cristãos de todos os segmentos permanecem repletos de estudantes com um incrível entusiasmo verbal, como se a ligação com a Boa Nova estivesse circunscrita à questão de palavras. Muitos desses conhecem a literatura a que se afeiçoam e inclusive acham que estão evoluindo. Estão nada, estão é complicando a evolução deles, porque colocam na cabeça uma série de projetos sem realizar nenhum. Parece que se esquecem ou apenas ignoram que a luz do Cristo não brilha apenas em razão do seu ensinamento sublime, mas igualmente na demonstração.
Todos nós estamos vivendo períodos de acentuada conturbação. Não existe exceção, o momento atual não está fácil para ninguém. E o que temos notado é que não importam mais apenas as concepções filosóficas. Não estamos mais para viver de teorias.
O simples aprofundamento da filosofia não tem atendido as nossas necessidades íntimas e o entendimento das leis que regem o universo, por si só, não atendem mais. Somos todos hoje convocados a não nos contentar com um evangelho descritivo ou histórico, fixado no tempo e no espaço. Esse tempo acabou, ficou para trás.
O evangelho que nos interessa intimamente é o prático, aquele que nos auxilie no dia a dia. Precisamos dele é ajudando a nortear nossos passos. No fundo, o que queremos é saber como utilizá-lo para diminuir o sofrimento que tem nos afligido, como aplicá-lo para melhorar nossas relações fora e especialmente dentro de casa, como usar o seu aprendizado para realizar objetivos que são importantes para nós. É isto que é fundamental.
E estamos aprendendo que não adianta ficar só ouvindo ou participando de reunião, estudando isso ou aquilo. É fundamental, claro, porque o conteúdo estudado com aprofundamento tem a finalidade de nos projetar no conhecimento melhorando nossa capacidade perceptiva e possibilitando-nos ver com segurança, todavia não adianta enxergar com segurança e não saber o que fazer. E o que fazer é o plano das elaborações interiores. Não basta entrar aqui e aprender tudo. É preciso colocar em prática, porque o momento agora é outro, o momento é de fatos.
Estamos sendo tocados em nossa intimidade por valores superiores que fazem a linha de toque e penetram o campo essencial de nossa vida, a fim de que possam se expressar ao nível de uma realidade nova. Estamos estudando e aprendendo que as expressões assimiladas de forma intelectiva são revelações que buscam direcionar nosso espírito no grande destino. Na medida em que assimilamos conhecimentos, o grito íntimo que passa a vigorar é o de aplicabilidade desses padrões.
Então, não dá para desconsiderar, negligenciar ou tentar se esquivar. Quem elegeu o evangelho por norma de vida tem que seguí-lo. Não há outro caminho. Seu estudo não deve mais ser procurado apenas para exposições teóricas.
Ele chega para ser aplicado. Entendido, sentido e vivenciado nas mínimas possibilidades e oportunidades. Desde a instauração do cristianismo no planeta todas as frentes religiosas vêm trabalhando a sua importância aplicativa. Nós, particularmente, vamos dar uma ênfase toda especial nessa questão daqui para a frente. Mas uma ênfase não de uma aplicação externa, de forma superficial, periférica e, sim, com a movimentação dos nossos melhores sentimentos, ideias e ações.
É impossível alguém conhecê-lo e ainda ficar preso às concepções de natureza filosófica. Além da elaboração da fé no sentido perceptivo e teórico, ele está nos trazendo a necessidade imperiosa e inadiável do fazer. Vem trazer um chamamento para que façamos aquilo que nós já sabemos, todavia não fazemos ainda.
Vamos ser sinceros: chega um ponto que não dá mais pra brincar de conhecer o evangelho, embora isso vá vigorar por muito tempo para aqueles que o elegeram como uma doutrina religiosa, porque para esses o chamamento aplicativo não importa.
Porque
Tem gente que não entende o motivo de o estudamos e até questiona porque o fazemos. A resposta é simples: somente a sua aplicação pode iluminar, redimir e engrandecer o espírito. Estudá-lo é fundamental. Só que temos que operar também, porque é na operação que fixamos de forma definitiva os recursos aprendidos.
Se ele nos ensina a fazer, o que importa agora é a sua linha aplicativa.
Sua legítima interpretação se faz pela dinâmica prática, e fim de conversa. Não há como compreender o evangelho sem uma integração prática nos exemplos de Jesus. Aquele que de algum modo não se empenha em vivê-lo, beneficiando os companheiros à sua volta, só conhece as suas lições nos círculos da palavra, e isso acontece demais.
O desafio é viver o que se aprende
Para a criatura que já tem uma noção de identificação com os padrões novos, seu desafio passa a ser viver o que se aprende. Esse é o nosso grande desafio, o de todos que o estudam: aplicar o que já fomos capazes de assimilar, esforçarmo-nos para vivenciar com segurança e fidelidade parcelas do que estamos aprendendo. É fácil? Ninguém diz que é, mas é preciso fazê-lo. É bom manter acesa a consciência de que o conhecimento traz responsabilidade e responsabilidade não só no plano informativo, mas formativo de caracteres, uma vez que a (in)formação vem antes da formação.
Importante agora não são apenas as colocações teóricas. Não é apenas aprender que a gente tem que amar. Está dando para acompanhar? É necessária a nossa postura vivencial do que assimilamos, entrar nos terrenos do amor exteriorizado.
O Senhor não nos concede o tesouro da fé apenas para que possamos crer e falar, mas também para que estejamos habilitados a estender o bem. Começando por onde? Por nós mesmos. De certa forma, estudando juntos, buscando aprender orientações seguras para a elaboração de um futuro melhor. Estamos trabalhando componentes do evangelho visando nossa melhoria íntima e as nossas aberturas dentro de um contexto em que possamos operar. A quem se predispõe estudá-lo, compete a observação de aplicá-lo no mecanismo da vida de relação, mediante a exteriorização de respeito e carinho com os semelhantes, de forma a que se verifique a sua renovação geral.
Tem que circular
A informação chega e nos projeta na horizontalidade do conhecimento. E com o conhecimento surge um grito íntimo para a verticalização do amor em termos práticos.
É algo bonito de entender. Quando o conhecimento espiritual se engrandece? Na hora em que nos coloca em ressonância com Deus. Mas através de quem? Do semelhante. Por isso, ele tem que circular entre as pessoas num plano positivo de interação.
Evangelho não é só apelo ao genuflexório das almas, é código de conduta e boas maneiras no intercâmbio fraternal. Não basta entrarmos nele, é preciso que ele entre em nós. E mais, que saia de nós.
Quem aprendeu tem que fazer. Como disse Jesus: “Quem lê, atenda!” A gente vai estudando e compreendendo que a sua lição deve ser aplicada todos os dias e em todas as condições. Na atualidade, vigora a necessidade de aplicar o seu conhecimento na vida nossa de cada instante. Além do que, guarde o seguinte: o evangelho não é escrito, é vivido. Ele vai alcançar brilho de luz no momento em que é aplicado.