O arrependimento II
Preparação
O que queremos com o arrependimento? Não é sair da fria em que entramos? Sua proposta faz parte do mecanismo de conscientização e apresenta a visualização do reerguimento. Como energia que precede o esforço reparador, traz uma vibração diferente dentro de si. No sentido de projeção evolucional, indica um estímulo de crescimento.
Após o conhecimento bater à porta, o importante é se reorganizar interiormente e reprogramar a vida.
Oferecendo esse reconhecimento, o indivíduo que se arrepende se preocupa em com vai ressarcir o dano causado e começa a planejar o caminho para o saneamento do erro. Já está vencendo o remorso e pensando em como vai reparar aquilo dentro da Lei.
Passa a nutrir um processo de recomposição do destino relativamente ao que tem feito até agora, razão pela qual o arrependimento começa a criar um sistema de desvinculação. Representa o estágio que antecede o esforço regenerador. Em termos de quitação, equivale à primeira milha que se oferece ou ao vestido que se entrega no pagamento do débito.
Indução ao trabalho
Por isso temos que abraçá-lo, romper com as alianças da queda, reconhecer nossa falta e fazer esse entendimento ser acompanhado da vontade de se lançar ao trabalho. Saber aplicá-lo nas linhas da renovação, porque sofrer em trevas íntimas não é o suficiente para a recomposição da paz perdida.
Logo, não basta o arrependimento fechado que cheira a remorso, mas aquele que induz ao labor renovador.
Não há um ditado que diz que “o que aqui se faz, aqui se paga?” Pois é, as notas promissórias que contraímos aqui, no plano físico, pagamos aqui mesmo. E ninguém foge disso. Ninguém!
A vida exige, através das circunstâncias que surgem e que são interpretadas tantas vezes como acaso, que o dano praticado seja devidamente ressarcido. E o verbo está certo: não é pede, é exige, a bem do próprio devedor.
Se somos prisioneiros da culpa, somos também os operários responsáveis pela nossa libertação.
Mais do que a necessidade de reconhecer as faltas cometidas, é imperioso se preparar para repará-las. Quem sentiu arrependimento precisa buscar colocar em prática medidas saneadoras. Afinal de contas, dívida reconhecida é dívida que tem que ser paga.
Após o arrependimento é necessária uma ação que regulariza o erro e ajuda os que foram prejudicados. Sem essa desoneração não se encontra caminho que permite acesso livre a novas conquistas. O assunto é complexo e a culpa apenas desaparece quando se liberta aqueles que lhe sofreram o mal. Somente assim o espírito pode se sentir desonerado desse ou daquele fardo íntimo ou se redimir perante a lei transgredida.
Você, por acaso, se arrependeu de algo? Se sim, tem que começar a nutrir um processo de recomposição do destino retificando as faltas em caracteres vivos. Arrependimento é estado dinâmico que nos move para a ação. Quando emerge sob as bases do remorso nós ficamos a um passo de começar a reparação.
Agora, não fique triste não. É mil vezes melhor chegarmos hoje à conclusão de que temos falhas, que somos vaidosos e orgulhosos, e nos esforçar para mudar esse perfil, do que termos que passar amanhã por várias situações difíceis para começar a mudar.
E outra coisa: retire da sua cabeça aquela preocupação de como fazer, porque a espiritualidade nos encaminha os fatos e as situações para um redirecionamento seguro.
Identificação de padrões e outra forma de arrepender
O arrependimento tem um sentido didático e trabalhar com ele é abordar a questão dentro de um contexto ampliado.
Em outras palavras, não significa necessariamente que nós estamos cheios de erros, que estamos castigando, perseguindo, fazendo mal e magoando os outros. Ele não funciona apenas para reparar e reverter os aspectos negativos da nossa tendência inferior. Serve também para elaborar uma nova linha de ajustes, ou seja, identificar aqueles valores íntimos que nutrimos e dos quais precisamos nos desvincular por não nos atenderem mais, e cuja saída proporciona saneamento ao nosso coração.
Esse sentido do arrepender, entre outras coisas, busca mostrar que o novo fator de vida que se abre para nós é muito mais importante que o antigo que até então cultivávamos. É uma questão de análise. Quantos fatores ainda cultivamos e que já não justificam mais?
Tanto é assim que determinadas coisas que atendem e fascinam milhões de pessoas, com o passar do tempo vão deixando de nos atender e vão sendo gradualmente substituídas por outras.
Só não erra quem não faz, e nós erramos muito ao longo das nossas experiências. Antigamente, o remorso e o arrependimento emergiam de quê? Do fato de se ter espancado alguém, de ter ferido, furtado ou maltratado alguém. Não é isso? Em suma, a quase totalidade do nosso erro lá atrás surgia em razão da nossa prática no mal.
Hoje o contexto está alterado. Muito do nosso arrependimento tem surgido da nossa inatividade no campo operacional do bem. A nossa indiferença e o plano de não ação positiva no bem também costuma gerar arrependimento em nós. De maneira sutil surge um peso na consciência por não termos operado naquilo que podíamos ou por não termos feito aquilo que estava ao nosso alcance fazer.
Aliás, esse é um ponto essencial e muito presente em nossa vida, que surge como resultante do conhecimento que temos recebido. Isto se dá com você? Porque é comum de acontecer. Acredito que todos nós já vivemos momentos dessa natureza.
Sofremos porque ficamos naquela dúvida. Ficamos desconfortáveis e chateados por não termos feito o bem. Você está de acordo? Surge uma preocupação quando não sabemos aproveitar de forma adequada a oportunidade que nos chega.
Quantas pessoas não ficam intranquilas diante de algumas situações em que sentem que podiam ter feito e não fizeram, podiam ajudar e não ajudaram? De certa forma elas estão trabalhando a própria intimidade para o surgimento de novos lances e posturas.
Por essa razão, tem aquele que sofre porque fez algo ao semelhante e tem aquele que sofre porque deixou de fazer. Um sofre porque machucou alguém e outro sofre porque não atendeu o que estava machucado.