Jericó II
Aprisionamento das melhores propostas
Enquanto Jerusalém representa o plano máximo dos nossos anseios (Jesus ali não estava constantemente), Jericó é o plano laboratorial da aplicação do amor. Porque se temos que subir psiquicamente para arregimentar, aprender e nos preparar, a vivência de tudo o que se aprende é embaixo. Ou seja, a gente sobe para aprender e tem que descer para aplicar o que aprendeu. Será que deu para entender?
Agora, se Jericó é o campo de aplicação do amor, é também o centro essencial das viciações. Paralisados nesse ambiente, fincamos os nossos propósitos no apego a todos os bens e a vida material passa a imperar, fazendo com que os valores espirituais sejam deixados de lado em favor dos transitórios. É coisa para se pensar.
Ao invés de se lançarem para outras faixas, quantos companheiros não ficam retidos nessa cidade? Ela é território íntimo que pode nos manter reclusos na retaguarda da evolução em razão do cultivo sistematizado aos aspectos da vida transitória, mostrando a base e o plano operacional praticamente escravizante das nossas melhores disposições interiores, onde aprisionamos valores importantes ao progresso.
A gente tem dado com a cabeça na parede nas nossas buscas de crescimento pessoal exatamente por nos mantermos presos demais aos aspectos da relatividade humana.
Passando
“1E, tendo Jesus entrado em Jericó, ia passando.” Lucas 19:1
Sabe aquele episódio no evangelho de Lucas que descreve o encontro de Jesus com Zaqueu, o chefe dos publicanos? Ele menciona que o Mestre não fica em Jericó, passa por Jericó. E para ser mais preciso o verbo nem é passa, é passando, em que o gerúndio (quando o verbo apresenta a terminação “ndo”) dá a ideia de continuidade.
Ele continua passando pela Jericó de nossa intimidade, e essa passagem busca despertar-nos o interesse de deixar esse ambiente em que insistimos nos manter inseridos por muito tempo. Visa atrair a nossa atenção para novas faixas de vibração.
E o que a gente faz? Simplesmente não liga. Desconsidera e não está nem aí. Não damos o devido valor, permanecemos desinteressados, ignoramos sua presença e perdemos ótimas oportunidades devido à cristalização da qual não abrimos mão.
Aí alguém questiona: Mas por que eu tenho que sair? Resposta simples: porque a felicidade legítima não pode ser encontrada nos valores tangíveis que ele proporciona. Por retratar o plano de sensações imediatistas, é terreno que devemos abandonar.
E preste atenção no seguinte: tudo o que for capaz de movimentar o espelho da nossa mente na direção dos valores elevados consubstancia essa passagem. Sendo assim, feliz é aquele que sabe aproveitar a descida do Cristo a Jericó para se projetar.
Destruição
Jericó tem sido a área operacional natural de muitas individualidades. E o grande detalhe é que Jesus passa para nos convidar a sair pela espontaneidade. Nós todos somos convocados a deixar essa região de nossas almas, por tratar-se de uma edificação transitória. Digo transitória porque essa cidade vai ser destruída, e em razão disso a nossa permanência é temporária.
Era uma cidade antiga, cercada por muralhas praticamente intransponíveis. Inclusive trombetas foram usadas em grande número, e de forma uníssona, para derrubar essas muralhas. E o que são essas muralhas hoje? São as barreiras. Definem certos caracteres que trazemos conosco e que cerceiam a nossa afirmação no bem.
A pessoa só vai entender que está vivendo em Jericó quando começar a perceber que está vinculada a áreas de evolução relativa, ao plano circunstancial e concreto da vida sem expressões outras para a realidade do espírito. A sua tônica é buscar formalizar a felicidade, que é algo íntimo, em cima de componentes transitórios.
E nós temos estruturado as nossas bases de bem estar em cima de elementos passageiros. Quantas vezes edificamos a nossa segurança em cima da grandeza familiar, por exemplo? Quantas vezes? Em cima do sobrenome que a gente traz, em cima do status, de títulos. Queremos eleger a felicidade em cima de valores externos, em cima de instituições, de patrimônios materiais e não adianta. Eles são instrumentos, são meios. Todos esses valores objetivos tem um tempo certo para derruírem, e quando esse tempo chega apresenta-se para muitos como uma realidade entristecida. No tempo certo eles são tirados e nós caímos, restando às vezes ruínas.
Mesmo sabendo, a maioria não sai. A saída não ocorre enquanto não há um despertar para outros padrões. O desejo de sair apenas surge quando os benefícios que ele oferece deixam de atender aos anseios e a criatura busca identificar algo novo.
A lição ensina que os valores materiais, onde fixamos nossa confiança, serão, cedo ou tarde, derrubados para propiciar uma edificação de natureza espiritual. Porque a solidez real não vem de fora, surge dentro de nós pela capacidade íntima de operar.