Felicidade é algo íntimo
Visão distorcida
A nossa concepção de felicidade durante muito tempo ficou restrita ao interesse imediatista. Uma visão muito vinculada aos padrões puramente tangíveis e concretos. Acreditávamos que a harmonia se dava pela apropriação de componentes materiais e objetivos.
Ainda hoje, quantos de nós ainda buscam formalizar os tronos de bem estar em cima de elementos transitórios? Quantas vezes estruturamos uma pretensa alegria e segurança em cima da grandeza familiar, de organizações ou instituições, do status adquirido, de determinados títulos, do dinheiro?
E a coisa não é assim. Todos esses valores, positivos na essência, são instrumentos. Unicamente meios.
O fato é que nem sempre o conforto íntimo é conquistado em cima do conforto material. Riqueza e poder não são condições para a felicidade. Adornos externos não trazem felicidade legítima ao coração, porque incessantemente se ouvem, nas classes mais privilegiadas, pessoas de todas as idades se queixarem amargamente da situação em que se encontram. Um punhado de gente que conhecemos, e todos conhecem, tem carro, tem sítio, casa na praia, excelente emprego, tem família, tem isso e aquilo e está infeliz.
Então, o processo é diferente. É mais profundo um pouco do que se possa imaginar.
O globo continua girando e a multidão luta para vencer, não o mundo como Jesus ensinou, mas no mundo. Insiste e persiste em se manter nos métodos de felicidade relativa. E haja desencanto, frustração e sofrimento para ensinar e tocar tantos corações.
Questionamentos e localização
Quando o assunto é felicidade muitos ficam desapontados, sentindo aquela ponta de incredulidade e pessimismo. Ela existe mesmo? É uma realidade efetiva ou não passa de uma ilusão? Muita gente nos momentos mais complexos faz esse questionamento.
Se ela não existe, porque continua como aspiração de todas as gerações através dos séculos? Já não seria tempo do homem desistir e parar de procurá-la? E se existe, porque muitos não a encontram, embora a procurem com tanta garra e empenho?
Quer saber no que se origina o desapontamento? No fato de a procurarem no exterior, onde ela não está. A felicidade é uma realidade desde que a procuremos onde realmente se encontra, e sabe onde é? Dentro de nós mesmos. É questão de natureza espiritual.
Muitos acreditam, erroneamente, que ela depende de condições e circunstâncias externas, quando todo o segredo está em nosso foro íntimo. Em sua expressão máxima, ela é intangível, não ocupa espaço. Decorre de um estado de alma, não de uma coisa. Substantivo abstrato, não pode nascer de posses efêmeras que se transferem de mão em mão e tampouco está em cofres que a ferrugem consome. Esse anseio que todos sentimos vem do espírito. São protestos e desejos de uma voz interior.
Veja o caso do evangelho. Ele espera de nós uma alegria legítima alicerçada na elevação espiritual, não apenas o sorriso mascarado pelas contingências puramente humanas.
Felicidade é algo íntimo
Eu não estou aqui desconsiderando a luta sadia pela conquista de valores tangíveis. De forma alguma, longe disso. Apenas precisamos saber que um bem material, seja ele qual for, pode fazer alguém feliz, mas a felicidade não está contida nele.
Toda engrenagem da harmonia íntima não se encontra fora de nós, mas dentro de nós.
Felicidade é de dentro para fora. Não está na realidade exterior e não tem nada a ver com o que se leva no bolso. Depende das qualidades intrínsecas e do estado de alma.
A verdade é que é impossível ser feliz sem uma elaboração profunda na intimidade da alma. Não existe uma proposta realizadora de felicidade sem um lance de interioridade do ser. Sua verdadeira construção só se fará com bases legítimas no espírito das criaturas.
Todos nós, sem exceção, fomos criados para ser feliz. A gênese da felicidade está na mente, e nenhuma alegria ambiente será real em nós sem a aprovação implícita da nossa consciência. Sem estarmos bem com o nosso íntimo, estaremos mal em qualquer lugar.
Nós custamos, mas aprendemos que esse estado reside principalmente na estabilidade íntima. Uma estabilidade obtida não só pelo conhecimento, mas também pela capacidade de agir.
Tem gente, por exemplo, que sorri sozinho e se sente feliz por ser amigo de alguém que admira. Às vezes, o sorriso nem é exterior, é de dentro. Sente isso porque, entre outras coisas, a pessoa corresponde à amizade dela, e essa alegria ninguém tira do seu coração.