A felicidade é agora I
Aprisionados ao passado
É considerável o número de pessoas que vivem quase que exclusivamente presas ao passado. É uma coisa triste, mas existe um grupo grande de saudosistas que, pelas mais diversas razões, escondem-se na capa de experiências passadas, situando-se num processo em que elegem o pretérito e prendem-se às retaguardas da existência.
Todos nós conhecemos algumas assim. Encasuladas, parece que o tempo parou para elas e deixou marcas profundas na intimidade. Constantemente desanimadas e desinteressadas, não estão dispostas a serem felizes hoje. Qualquer coisinha querem tributar ao passado.
Para elas, o presente representa, em certos ângulos, apenas escombros do desmoronamento de valores que mantinham a segurança e a luz acesa. Deixaram esperanças nos pretéritos do caminho e perderam o foco no porvir. Não se valeram das construções anteriores, que eram instrumentos de evolução, para se projetarem. Saudosas daquelas oportunidades, não se desvincularam daquilo. Aparentam ter perdido aquele brilho nos olhos e jogado a toalha para a realização de novos sonhos e planos.
No meio de uma conversa, quase sempre voltam-se aos tempos remotos: “Eu já fui muito feliz em uma determinada época da minha vida. Você tinha que ver. Depois que me aconteceu aquilo, depois que eu perdi aquela pessoa, eu nunca mais tive alegria.” Em algum momento buscam monopolizar a palavra, tecem um rosário sobre o passado que era bom, descrevem com mais ou menos detalhes as coisas que fizeram, e por aí vai.
E o que podemos dizer? Que é chegada a hora de retificarem conceitos e reerguerem a chama do entusiasmo. Afinal de contas, quem se liga apenas ao ontem, que não vai voltar, não angaria nada, prende-se e reduz em muito a sua realidade de vida.
Tem que haver dentro de cada um de nós, aberto, um sistema de querer crescer. Porque quem não se utiliza do momento da vida para se projetar, no sentido de crescimento consciente, e fica remontando o passado, normalmente está parado no presente.
Ansiedade pelo futuro
Tem também aqueles matriculados numa escola do futuro. Parece que ficam agarrados na sistemática de vida eterna estruturada pelas religiões durante séculos. Retidos numa linha de ansiedade direcionada ao porvir, esperam o futuro para ser feliz.
Não são felizes hoje. Vivem a vida nos projetos que alimentam. A felicidade para eles sempre depende de algo. A idealizam e esperam no amanhã. Colocam-na como consequência, como a resultante da realização de certo objetivo ou da resolução de algum problema: “Eu serei feliz quando terminar o meu curso, quando passar no concurso, quando tiver o meu carro, quando morar sozinho(a), quando mudar de emprego, quando comprar minha casa, quando estiver consolidado(a) no meu trabalho, quando conhecer meu grande amor, quando me casar, quando não sentir mais dores na coluna, quando ficar livre daquele problema,…” Em outras palavras, serão felizes quando.
Ficam projetando em cima de um processo futuro e sob o impacto da ansiedade e de inúmeras propostas. E a vida vai, e vai, e vai. E nós não podemos concordar com isto. Aliás, só Deus é que sabe quando, e se é que as coisas vão sair como eles querem. O pior é que vai demorar muito. Não para chegarem lá, mas para descobrirem que estão errados. Descobrirem que precisam reformular esse conceito, porque quando chegarem no futuro outros desafios os estarão aguardando.
Não vamos nos esquecer que a vida é dinâmica. Que ao realizarmos um objetivo imediatamente idealizamos um novo, e que após a solução de um problema outros chegam para exigir atenção e providências. Felicidade não pode ser um fim, porque na verdade é um meio, e quem trabalha fixado no futuro pode entrar em plano subjetivo ou alienado.
Felicidade no percurso
Muitos estão envolvidos numa busca. Agem da seguinte forma: fixam um objetivo, colocam aquilo na cabeça de maneira fechada e param a vida para aquela realização.
E se bobear, quando chegam lá às vezes nem era tanto como eles pensavam. Olham para trás e, puxa vida, quanto tempo investido. Horas, dias, semanas, meses, experiências, sacrifícios e lutas para a conquista.
Quem pensa em ser feliz só no final infelizmente não está com uma visão clara da evolução. Quanto mais fechamos nosso campo de entendimento, planejando a alegria em uma pretensa conquista de bem estar lá na frente, mais difícil fica a caminhada. Ou seja, quem coloca a felicidade como destino não consegue ser feliz no percurso.
Porque a felicidade não está na chegada. Não está na realização do objetivo. Ela está na maneira como realizamos a caminhada, como usufruímos e vivenciamos cada passo. O problema não é necessariamente alcançar a meta, é estarmos bem dentro do percurso rumo à meta.
Tem meta buscada por pessoas neste ano, por exemplo, que só vai se concretizar no final de dez, quinze anos, ou mais. E quem ficar fazendo conta da distância, do tempo, conta disso e daquilo vai encontrar dificuldade a vida inteira. Não tem gente assim?
Hoje nós estamos nos posicionando de tal maneira, e bem situados graças a Deus, que sabemos que cada passo, entre a nossa posição atual e o nosso destino, é uma oportunidade do caminho. Representa experiência a ser acrescida no psiquismo no grande processo do crescimento espiritual. Do contrário, não vamos aprender no trajeto.
Então, nós vamos chegando. Mas de que maneira? Valendo de cada etapa e aproveitando amplamente e com vivacidade íntima o minuto que estamos vivendo. Sabendo usufruir plenamente de cada lance. Sem nos preocupar com o que está na frente e sem perder de vista o futuro que nos aguarda, fixado como uma meta para chegarmos.
A evolução prossegue sempre e a perfeição só existe em Deus, certo? Agora, não quer dizer que só devemos ser feliz quando chegarmos lá. A coisa não é por aí. O universo seria um poço de inquietudes se esperássemos a felicidade somente lá na frente.
Para ser feliz ninguém precisa estar na ponta da jornada ou no ápice da realização. Aliás, quanto mais pensar assim mais difícil fica a jornada. E a harmonia também não depende de uma correria ou chegada mais rápida ao objetivo. Esse objetivo pode tranquilamente ser encontrado no agora. O primeiro passo é encontrar a harmonia, onde e como estamos.